Tatiana:
Encontra-me perto da campa do Cláudio. Olhava a fotografia dele na lápide. Tenho tantas saudades do Cláudio. Acho que se não fosse a Aurora, eu não aguentaria viver sem ele. Eu não acreditava em almas-gêmeas, ate conhecer o Cláudio. Ele é a minha alma-gêmea.
Recordei o dia em que nos conhecemos. Era início do ano escolar e eu encontrava-me perto dos cacifos com a Nádia e o Edu.
" Preciso de ir a casa de banho." Eu comuniquei aos meus dois amigos. A Nádia olhou-me com o telemóvel no ouvido.
" Agora não, Tatiana. Eu estou a tentar falar com o meu namorado. Quero que vocês o conheçam." Disse ela referindo ao seu novo namorado.
" E vai demorar muito? É que eu estou mesmo apertadinha." Perguntei.
" Merece o esforço, Tati. O namorado da Nádia é um deus grego." Disse o Edu.
" Mas tu já o conheces?" Perguntei. Supostamente a Nádia ainda não o tinha apresentado a ninguém. Ele era novo na escola.
" Não, mas já vi fotos." Ele responde.
" Ele não me atende." Disse a rapariga de cabelo castanho e olhos verdes.
" Ótimo! Enquanto tentas falar com ele, eu vou a casa de banho." Disse.
" Mal o conheceste e já o perdeste de vista." Disse o Edu para a Nádia. Ela ignorou-o e olhou para mim.
" Não te demores. Eu vou ver se o encontro." Ela disse para mim.
" Não te preocupes, eu vou num pé e volto noutro." Tranquilizei-a, enquanto caminhava em direção a casa de banho.
Caminhava em passo apressado, estava curiosa em conhecer o namorado da Nádia. Ela falava muito dele. Levava os livros e cadernos da aula seguinte na mão. Virei no corredor das casas de banho. Ia tao distraída que mal virei, choquei com um rapaz. Os livros que eu trazia na mão caíram ao chão. Eu, envergonhada, abaixei-me imediatamente para apanhar os livros e o rapaz copiou os meus movimentos.
Ele apanhou alguns livros e entregou-me. Eu segurei os livros, e inclinei a cabeça para cima. Os olhos escuros dele entraram em contacto com os meus. Era um rapaz moreno e de corpo atlético. Eu não conseguia desviar o olhar dos olhos escuros dele. Os meus músculos não correspondiam aos meus estímulos. Ele não disse uma palavra, apenas olhava-me como se pudesse entrar na minha mente e invadisse os meus pensamentos. Eu sentia uma energia estranha a nossa volta, como se algo me puxasse para ele. Os seus lábios começaram a mexer, um pouco atrapalhado.
" Desculpa! Eu estava distraído." Ele disse, continuando a olhar-me. Eu desviei o olhar, peguei os livros e levantei-me.
" Não faz mal. Eu também estava distraída." Eu disse. Ele sorriu para mim e eu tive que me esforçar para tirar os meus olhos dele.
"Adeus!" Eu disse despedindo-me. Ele retribui-me adeus e comecei a caminhar o mais rápido possível para a casa de banho.
Estava assustada, tinha sido muito estranho o tinha acontecido naquele corredor. Mal eu podia pensar que aquele rapaz seria o homem da minha vida e que eu seis anos depois ainda estaria aqui, no cemitério, sofrendo por ele. As vezes, eu gostava de apagar todas as memórias dele para que não sentisse saudade e não sofresse.
Limpo discretamente as lagrimas que estão no meu rosto. Levanto a cabeça e o meu olhar cruzasse com um olhar azul. Eu conheço aquele olhar. Mantenho o meu olhar fixo no dele e ele também não o desvia. Eu relembro as imagens da noite passada. Vejo o olhar do homem que me salvou. Vejo o olhar do homem que nessa mesma noite estava no Lince ao balcão. Era o mesmo olhar.
Eu tenho que falar com ele. Eu preciso de saber o que aconteceu a noite passada. Eu preciso de saber como é que o homem apareceu morto. Caminhei para ele. Ele está vestido de preto. O homem de olhos azuis não tem mais os olhos em mim, olha a campa que ele está próximo.
" Eu conheço-te." Eu disse segura, já próxima dele.
Ele levantou a cabeça e os seus olhos azuis penetraram os meus. Eram incríveis. Eu senti um arrepio percorrer todo o meu corpo. Eu nunca os tinha visto tao de perto. Tive que me abstrair deles, para continuar o meu raciocínio. " Tu salvaste-me ontem á noite." Eu disse. Ele continuou estático a observar-me. Os traços do seu rosto eram retos, os seus lábios não eram muito grosso e a sua pele era branca. "Não vais dizer nada?" Eu perguntei e ele continuou a observa-me. " O homem que me atacou apareceu morto. O que é que aconteceu?" Perguntei. Ele não respondeu e coloquei em dúvida se o homem não seria mudo.
" Eu não sei do que é que estás a falar." Ele disse por fim, soltando uma voz forte e roca.
" Sabes, sim. Porque é que estás a fazer de desentendido? Tiveste algum envolvimento com a morte do homem?" Eu perguntei segura. Ele olha-me, parecendo surpreendido com a minha coragem. Ele dá um passo na minha direção. Eu não movi um músculo.
" Se te salvei, limita-te a agradecer-me." Ele disse, a sua voz era segura e calma.
" Então, admites que me salvaste ontem. E homem? Porquê ele apareceu morto?" Eu perguntei.
" Não faças perguntas que não queres saber a resposta." Ele disse.
" Sabes? Eu acho que vou a polícia. Vou contar o que o homem tentou fazer comigo e vou contar sobre ti." Eu disse segura. Ele soltou uma gargalhada, como se o que eu tivesse dito fosse a coisa mais idiota do mundo.
" Então, faz isso." Ele disse e sorriu para mim. O seu sorriso era branco e os dentes direitos. " Mas antes, tens que me agradecer." Ele disse de forma sedutora e caminhou para mim. Ele puxa um dos meus caracolinhos. O meu instinto de defesa falou mais alto e eu levanto a mão e ela só para na cara dele. Eu dei-lhe uma chapada. Eu dei uma chapada a um possível assassino num cemitério deserto. Não tive tempo de processar isto tudo.
" Este é o teu agradecimento." Disse e caminhei a passo apressado para fora do cemitério. Ele não veio atras de mim. Ainda bem.
...
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Um Monstro em ti
VampireJoel Obsidiana é um vampiro assassino que há alguns anos atras viu o seu grande amor ser assassinado a sua frente. A dor e o sofrimento fizeram com que ele soltasse um monstro. Ele mata e sente satisfação nisso. Tatiana Silva perdeu o seu grande a...