Quem sou eu (86)

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Aconselho a ouvirem a musica, enquanto lêem o capitulo. Obrigado por ler e boa leitura.

Obsidiana:86

Andava sem destino pela cidade, sentia-me perdido. Os meus pensamentos estavam agitados. Eu não consegui acreditar no que tinha acabado de fazer. Sinto-me destruído por dentro, como se já não soube quem eu sou.

Olhei ao longe uma mulher loira, alta, de olhos claros. Ela caminha na minha direção. Eu olho em volta e percebo que estou no jardim.

Eu apareço do nada á frente dela e ela para assustada. Eu sinto que o meu cabelo está despenteando e a minha camisa tem alguns botões desapertados, mas eu não me importo com isso.

" Não te assustes, apenas quero conversar." Disse-lhe.

" Eu estou com presa." Ela tenta esquivar-se de mim. Eu deixo-a dar alguns passos e apareço outra vez a sua frente.

" Não vais a lugar nenhum. Senta-te! Vamos conversar!" Hipnotizo-a. Ela senta-se no banco de pedra perto de nós. Eu coloco uma perna de cada lado do banco e sento-me virado para ela.

"Como é que te chamas?" Pergunto. Ela olha para a frente.

" Ana." A mulher responde.

" Ana, eu só quero desabafar." Sinto essa necessitada, mas não quero fazer com o Jean. Prefiro faze-lo com uma pessoa que eu não conheço e que não significa nada para mim.

"Tudo bem, fala." A mulher loira olha para mim. Eu fico calado por alguns minutos.

" Até á pouco tempo, eu andava solto no mundo. Fiquei com milhões de mulheres e por muitos anos não me apaixonei. Ou melhor, nunca permiti que apaixonasse-me." Eu começo a falar calmamente e sem olhar para ela.

"Já sofreu alguma desilusão?" a mulher de olhos claros pergunta e eu olho para ela.

"Infelizmente, já. Eu perdi a minha mulher, a única mulher que amei verdadeiramente e sofri muito a sua perda." Eu relembrei a Camila. A mulher com quem falo faz-me lembrar ela, talvez por isso a tenha escolhido. A Camila também era loira e tinha olhos azuis.

"Parece que já estou aperceber. Voltou se apaixonar e tem medo de voltar a sofrer." Ela disse tirando dos meus pensamentos.

" Mais ou menos isso. Como estava a dizer, todos esses anos nunca mais pensar em voltar a amar alguém. Até que conhecia a Tatiana. Ela é diferente da minha esposa e de qualquer outra mulher. Ela é atrevida, corajosa e tem sempre resposta para mim. Ao início, achei-lhe graça, mas nunca pensei que vinha a sentir o que hoje descobri que sinto por ela." Eu contei.

"Estou a ver. Apaixonou-se por ela, eu até arriscaria a dizer que você a ama." Ela disse.

"Não, eu acho que não chega a ser amor, mas sei que ela mexe muito comigo. Faz-me questionar, quem eu sou." Eu contei.

"Então, porque é que não se declara a ela?" Ela pergunta inocentemente.

" Eu a dez minutos atras tentei mata-la." Confessei. Disse e relembrei o momento em que tinha os meus dentes cravados no pescoço dela e me deliciava com o seu sangue. Há muito tempo, eu esperava por aquele momento. Eu sempre quis provar o seu sangue e como ele é delicioso. Eu estava a ir bem, até que os gritos dela começaram a tocam no meu coração que há muito estava adormecido. Eu tentei ignorar, mas era impossível. Eu estava disposto a acabar com a vida dela, eu tinha que o faz, eu devia faze-lo.

O meu coração parece despertar e eu apercebo-me que não consigo fazer aquilo. Aquela mulher é mais importante para mim do que pensava e eu não consigo tirar-lhe a vida. Quando eu vou desistir sinto o corpo da Tatiana ficar mole. Retiro rapidamente os meus dentes do pescoço dela e vejo que ela está inconsciente. O meu coração aperta e sinto uma enorme dor nele e o medo invade o meu corpo. O medo de a perder. 

Eu só senti este sentimento uma vez e foi quando a Camila morreu. Eu estava tão desorientado que não me lembrei de usar os meus poderes. Apuro a audição e ouço o seu coração que continua a bater. Fico mais descansado. Eu tinha noção que não tinha bebido muito do seu sangue. Ela deve ter desmaiado pelo susto. Raciocínio. Que alivio! Desapareço dali, antes que volte atras. Destruído pelo que a Tatiana fez-me voltar a sentir.

" Meu deus!" A mulher parece assustada. Eu segurei a sua mão.

" Não tenhas medo." Eu hipnotizei-a.

" Veja o lado positivo. Não a matou." Ela refletiu, como se isso fosse bom. Eu preferia-a ter morto.

" Eu não quero sentir isto pela Tatiana. Eu sou monstro. Eu não quero amar ninguém." Eu disse com raiva.

" Ninguém escolhe quem ama. Acontece e aconteceu consigo." Ela disse-me. Eu levantei-me.

"Já pensei que este sentimento que eu sinto por ela, é movido pela culpa. Eu agi muito mal com a Tatiana e ela não sabe de nada. Eu cometi o mesmo erro que há anos atras cometeram comigo quando assassinaram a Camila. Eu tirei-lhe o grande amor da vida dela." Eu expliquei.

" Todos nós erramos e todos nós temos o direito consertar os nossos erros." A Ana disse.

" Foi por isso que eu não a matei quando a conheci." Eu sentei-me novamente na mesma posição. " Eu admiro-a, porque a Tatiana passou pelo mesmo que eu e não se transformo num monstro como eu." Eu confessei.

" Eu não acho que você seja assim tão mau. Um monstro não ama. Talvez seja tempo de mudar, mudar por ela." Ana aconselhou-me.

" É impossível. Eu soltei o monstro que existia dentro de mim. E agora, esta é a minha natureza. Não vale a pena lutar contra ela. Eu sou como sou e não vale a pena fingir ser o que não sou. Eu sou assim. Estou aqui sentado, a ouvir o teu coração bombiar o teu sangue e mesmo crendo resistir." Eu aproximei-me da mulher que foi tão gentil comigo. Noto algum receio nela, mesmo estando hipnotizada. " Eu tenho que provar o teu sangue, mas tu foste tão gentil comigo que eu até tenho pena. Eu não posso beber o teu sangue." A Ana fica um pouco mais calma e olha para mim.

Eu começo a beijar-lhe o canto da sua boca, vou descendo o beijo até chegar ao seu pescoço. A mulher parece gostar. Quando chego a sua clavícula, eu ouço o sangue palpitar na sua veia e eu não consigo resistir. Eu cravo os meus dentes no seu pescoço e ouço a gritar de dor. Bebo todo o seu sangue e deixo o seu cadáver deitado sobre o banco de jardim. Caminho para casa, mais calmo. 

Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora