No jardim (32)

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Obsidiana:

Observa desde que ela entrou no cemitério. Eu não consegui a deixar sozinha. Ela está abraçada a mim e chora. Porque o choro dela me transtorna tanto? Eu já devia ter posto um ponto final nesta historia e ainda estou aqui, abraçado a uma humana. Ela está tão frágil. Eu não quero ver assim, preciso de a tirar daqui. Peguei a sua mão e atirei-a daquele local, assim que a cerimónia acabou. Levei para um pequeno jardim. Nós sentamos num banco. A Tatiana continuava muito abatida.

" Porque é que me trouxeste para aqui?" Ela perguntou-me.

" Porque precisavas de sair dali." Eu respondi.

"Eu juro que não te percebo. Ou provocas-me ou levas a ver as estrelas. Ou me disse que matas pessoas ou me abraça e levas para um jardim." Ela disse confusa.

" Eu nunca disse que era fácil de perceber." Ela respirou fundo.

" Eu não sei o que estou aqui a fazer. Acho que estou demasiado triste para saber o que estou a fazer." Ela disse e colocou as mãos tapando a cara.

" Tu gostavas muito do teu pai." Eu constatei, arranjando alguns tipo de conversa entre nós.

" Ele foi a pessoa que mais me apoiou. Ele foi o pai que a Aurora nunca teve. O meu pai conseguiu desempenhar o papel de avô e de pai na perfeição." Ela contou com olhar nostálgico.

" Não deve ter sido fácil criar uma filha sozinha. Eras tão novinha!" Eu constatei.

" O Cláudio fez-me muita falta. Não só para me ajudar com a Aurora." Ela disse e fez uma pausa refletindo o que ia dizer. " Acreditas que ainda sonho com ele. Com o nosso reencontro. Eu já tentei muitas vezes esquece-lo, mas eu acho que um amor como o nosso não se esquece." Ela disse. Eu lembrei-me da Camila e todos os momentos que estivde ao lado dela, momentos sempre felizes. "Porquê eu estou a contar isto? Tu não tens interesse nenhum nisto. Obrigado. Obrigado, por me salvares aquelas duas vezes e obrigado por estares aqui comigo." Ela disse e a culpa apareceu dentro de mim. Eu não conseguia olhar mais para ela. Eu não consegui ouvi-la pedir me desculpas. Eu levantei-me.

" Eu tenho que ir." Eu disse.

" Aconteceu alguma coisa, Joel? " Ela perguntou.

" Não. Eu apenas tenho ir. Fica bem." Eu virei-lhe as costas e comecei a caminhar. 

Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora