Duas rosas vermelhas (54)

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Tatiana:

Quando acordei o Joel não estava mais na cama. Ontem a noite tive pena dele. Ele foi o único que se ofereceu para vir comigo a Córdova. Sentei-me na cama. Procurei-o pelo quarto, mas não havia sinal dele. Deitei-me de novo. ~

A porta da casa de banho está entre aberta. Pode ver pelo espelho do móvel da casa de banho que ele estava lá dentro. O Joel não usava camisa, o seu cabelo estava molhado. Quase que aposto que ele deixou a porta aberta de propósito. Ele penteava o cabelo com a mão. Eu não devia olhar. Ele fica bonito quando acaba de tomar banho. 

Às vezes, eu tenho medo de apaixonar por ele. O Joel é tão complicado. Ele desafia-me e tira-me do sério. Eu consigo ver algo de bom nele, embora eu acho que exista muita mágoa por detrás daquela armadura que ele tem e que o impede criar laços com as pessoas a sua volta. Houve uma vez que ele falou-me que tinha sido casado e a esposa tinha faleceu. 

Talvez seja esse o motivo dele não quer pessoas por perto. Eu sei o que é isso. Eu também afasto muitas vezes os rapazes de mim com medo de voltar a sofrer, mas o Joel por mais que eu o afaste parece que acontece sempre qualquer coisa que nos aproxima. 

Eu ainda não esqueci o Cláudio. Eu sei que o Edu tem razão, quando diz que eu devia de seguir com a vida para a frente e arranjar alguém que me faça feliz. Tinha logo que ser o Joel? Eu não posso negar que me sinto atraída por ele, mas tenho medo. Tenho medo de voltar a sofrer. Eu sofri muito quando soube que o Cláudio tinha falecido, ainda mais da maneira que soube. Nós eramos o casal perfeito. 

Quase nunca discutíamos, ao contrário de eu e Joel, que passamos a vida a discutir. Eu lembro até hoje as últimas palavras que ele me disse.

" Vou amar-te para sempre." Ele dizia isso muitas vezes, mas daquela vês foi diferente. Aquelas palavras não saírem da minha cabeça. Ele ia viajar com o pai e ia estar uma semana fora. Eu já estava com saudades, mal poderia pensar que nunca mais o veria. Nessa mesma noite, eu ajudava a minha mãe a pôr a mesa. 

A televisão está ligada, dava o telejornal. Eu trazia os pratos para pôr na mesa, quando o jornalista anuncia que o empresário Jorge Kokio tinha tido um acidente de carro e o seu filho tinha falecido. Eu deixei cair os pratos no chão, no mesmo momento. Um enorme buraco abriu-se no meu coração. Eu o amava muito. Eu tremia, tremia. Não consegui dizer nada. A minha mãe ficou muito preocupada. As lágrimas escorriam pela minha cara. Eu estava destroçada, não tinha vontade de viver. 

E assim seguiram os dias seguintes. Sem vontade de ir para escola, sem vontade de falar com os meus amigos, sem vontade de rir, sem vontade de comer, sem vontade de nada. Só pensava nele. Tinha tantas saudades dele. Do seu cheiro, do sorriso, das parvoíces que ele dizia para fazer-me rir, do carinho. Tinha vontade de morrer. 

E agora sinto o mesmo. Foi a minha filha que deu rumo a minha vida, á seis anos atrás. Se me tirarem a Aurora, eu prefiro morrer. A única coisa que mantêm de pé é a esperança em encontra-la. Eu vou lutar com todas as minhas forças, mas eu vou salvar a minha filha.

O Joel tinha vestido uma camisa preta e saiu da casa de banho. Eu fechei os olhos, fingido ainda estar a dormir. Não queria que ele soubesse que eu tive este tempo todo a observa-lo. Eu fingi ter acabado de acordar. Ele olhou para mim.

"Então, já acordaste!? Agora que eu ia buscar o pequeno almoçar romântica com uma rosa vermelha." Ele disse e eu mandei-lhe uma almofada. Ele apanhou a almofada.

"Pronto, com duas rosas vermelhas." Ele emendou. É tão estúpido. Mandei-lhe outra almofada, desta vez ele desviou-se.

"Bom dia também para ti. Tu começas logo o dia a dizer parvoíces." Eu constatei.

"Já não se pode ser romântico." Ele refilou.

"Joel, vai ver se eu estou ali na esquina!" Eu disse e levantei-me, fui até a minha mala.

" Então, e como foi dormir ao lado de uma brasa como eu?" Ele perguntou. É tão convencido. Que paciência!

" Quando é que deixa de ser convencido?" Eu perguntei.

" Quando deixar de ser bonito, mas como isso não vai acontecer." Ele disse. Eu ri, ele é demais. Tirei uma roupa para vestir. Ele estava sentado na cama.

" Tatiana, podes trocar-te aqui que eu não olho." Ele disse com a mão na cara, mas os dedos entreabertos para ver. Eu sorri para ele.

" Eu vou a casa de banho trocar-me." Eu disse olhando os olhos dele. Troquei-me na casa de banho. Continuamos a viagem. Já não voltava muito para chegar. 

Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora