Eu vou contigo (46)

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Tatiana:

Estávamos a meio da tarde e ainda não sabiam nada da Aurora. O meu coração estava apertado. Mal comi hoje, o comer parecia não descer. 

Não consiga estar mais em casa. A Carla abriu o café à tarde e fui para lá. Ia falando com as pessoas, dá-lhes a discrição da carrinha, perguntava se tinham visto alguma coisa. Toda a gente conhecia a minha filha, mas ninguém tinha visto nada. Eu tenho tanto medo.

 E o pior é que eu tenho a certeza que a minha filha está em Córdova. Só que ninguém acredita em mim. Ninguém quer ir comigo buscar a minha filha a Córdova. Eu não posso conduzir, porque tenho o braço ao peito. 

Já fui ver transportes, mas demoro muito tempo. É quase dois dias de viagem e tenho que apanhar vários transportes. Enquanto se for de carro, são apenas seis horas. Eu não sei o que fazer. Estou desesperada.

Encontrava-me sentada num banco ao balcão. Tinha a telemóvel posado à minha frente, pensava na minha filha. A possibilidade de nunca mais a ver apavorava-me. Tinha as lágrimas nos olhos. Este é o dia mais longo da minha vida. 

Estava pouca gente no café, alguém senta-se ao meu lado. Eu não dou muita importância. Sinto que essa pessoa olha para mim e eu olho para ela.

" Joel!" Eu exclamo admirada ao encarar o azul dos seus olhos.

" Dizerem-me que precisavas de herói. Cá estou eu." Ele disse e eu soltei um pequeno sorriso.

" Disseste que ias embora, afinal não foste." Eu constatei.

" Mudei de ideias. O que é que te aconteceu ao braço?" Ele perguntou, olhando para o meu braço ao peito.

" A minha filha foi raptada e durante o rapto levei um tiro." Eu contei olhando para as minhas mãos em cima do balcão.

" Eu já sei que a miúda foi raptada, é por isso que estou aqui." Ele disse. Eu olhei para ele. Na minha cabeça surgiu a questão de como ele sabia aquilo, mas não ia perguntar agora. " A polícia já disse alguma coisa?" Ele perguntou-me.

" Não, Joel. A polícia não disse nada. Eu estou desesperar. E o pior é que eu sei onde está a minha filha." Eu disse e levantei-me." A minha filha está em Córdova, eu sinto." Eu afirmei.

" Córdova! Isso é Espanha." Ele declarou.

" Ninguém quer ir comigo. Eu não posso conduzir com o braço assim. O Edu, Nádia e a minha mãe recusam-se a ir comigo. Eu estou desesperada." Eu virei-me de costas para ele e as lágrimas começarem a escorrer pelo meu rosto. Eu queria controlar o choro, mas não consegui. Alguns segundos de silêncio instalam-se entre nós, apenas o meu choro baixo se ouvia.

" Eu vou contigo a Córdova." O Joel quebrou o silêncio.

" O quê?" Perguntei virando-me para ele.

" Arruma as malas, eu levo-te a Córdova." Ele disse firmemente.

" A sério, Joel? Farias isso por mim?" Eu ainda duvidei.

" Não a brincar, Tatiana! Achas que eu sou de brincadeiras? Daqui a uma hora na minha casa. Sabes onde é?" Ele perguntou caminhando para a porta, parando e olhando para mim.

" Acho que sim. Eu já fui lá uma vez." Eu recordei.

" Espero-te lá." Ele disse e saio do Lince. 

Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora