O incêndio (88)

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Obsidiana:88

Eu estava na sala da minha mansão. Estava sentado numa das poltronas e bebia um whiskey. Do meu pensamento não saia aquela noite em que não consegui matar a Tatiana. Estou tão confuso. Porque é que eu não a matei? Seria muito mais fácil para mim, mas eu não tive coragem.

O Jean desceu com uma mala de viagem. Eu estava de partida. Não posso continuar aqui. Eu não voltei a falar com a Tatiana, mas tinha-a visto de longe. Eu levantei-me.

" Obrigado, Jean." Eu agradeci.

" Meu amo, deixe-me ir consigo." O Jean pediu. Eu disse ao Jean que não queria que ele fosse comigo. Ele estava a fazer amigos e eu nunca o vi a fazer amigos. Não lhe quero tirar essa oportunidade.

" Não, Jean. Eu quero ir sozinho. E tu não ficas sozinho, tens o Edu." Eu relembrei-o. O Jean tem saído muito com o amigo da Tatiana.

" Meu amo, você não gosta mais da minha companhia?" Ele pergunta e começa a chora. Era só o que me falta. Eu não estou com paciência para lamechice.

" Não, Jean. Só acho que ficas melhor aqui." Eu esclareci.

" E quem vai tomar conta de si?" O meu companheiro de casa perguntou. Às vezes, eu acho que o Jean acha que eu tenho cinco anos.

" Jean, eu acho que sou bem grandinho para ter alguém a tomar conta de mim." Eu esclareci.

" Ó, meu amo!" Ele chora.

" Eu tenho que ir. Porta-te bem." Tento fugir. Eu não gosto de sentimentos.

" Pelo menos dê-me um abraço." O Jean pediu. É tão chato. Eu fui em direção a ele e ele abraçou. Nunca vi um vampiro tão lamechas. Ouço passos atras de mim, seguindo de aplausos.

" oooo! Que lindo!" Eu viro-me e vejo o Kokio. A porta estava aberta e ele entrou. O Jorge Kokio finge limpar as lagrimas dos olhos. " Até estou emocionado. Nunca pensei que os vampiros fossem tão carinhos entre eles." Eu observei-o.

" O que é que estás a fazer, Kokio?" Eu perguntei e a minha voz forte e rouca espalhou-se por tudo a sala.

" É assim que recebes um velho amigo?" O Kokio desafiou-me.

" Amigos? Desde quando? Desde que enfiaste uma estaca no coração da mulher que eu amava?" Eu perguntei sarcasticamente.

" Não. Se calhar foi quando matastes o meu pai ou a minha esposa ou o meu filho?" O Kokio retribui o sarcasmo.

" O que é que estás a planear, Kokio? Tivestes a oportunidade de me matar no dia do baile de mascara e apenas adormeceste-me. E agora vens aqui? Qual é o teu jogo?" Fui direto.

" Sabes? Eu ando aprender com o melhor." Ele caminha pela sala. " O que é que me vale tu morreste, se te posso fazer sofrer mais?" O Kokio parou e olhou para mim. "Eu tenho-te observado recentemente e percebi que estás muito próxima da Tatiana." O homem na minha frente disse. Onde é que ele quer chegar com esta conversa?

" Eu não tenho nada com a Tatiana. Eu não me importo com ela." Eu esclareci.

" Então, não te vais importar que eu te diga que neste momento a Tatiana arde nas chamas que rodeia a sua casa." Ele disse .

" O quê?" Perguntei confuso. Ele está a mentir. Ele não ia matar a mãe da sua neta e a própria.

" Eu peguei fogo à casa da Tatiana com ela lá dentro." Ele desabafou. Eu fiquei irritado e quando vi, o Jorge estava encostado à parede e a minha mão encontrava-se na sua garganta.

" O que é que fizeste á Tatiana?" A minha voz saiu ainda mais forte.

Eu não devia estar a fazer isto. Eu estou a cair no jogo dele. Ele quer-me provocar. Ele não seria capaz de fazer mal a neta, mas quando ouvi o nome da Tatiana, não me contive. Eu não posso deixar que ninguém lhe faça mal.

" Eu peguei fogo à casa dela, com a Tatiana lá dentro." O Kokio repetiu com alguma dificuldade em falar. Eu apertava a sua garganta.

" Eu não acredito. Tu não terias coragem de matar a tua neta, porque ela está lá dentro." Eu confortei-o.

" Duvidas? Eu queria ficar com a miúda, mas ela tratou-me mal. A Aurora pediu-me para escolher entre o meu trabalho e ela. E eu escolhi o meu trabalho, é claro. Um Kokio só é um Kokio quando é criado por Kokios." O Kokio afirmou. Ele está completamente doente.

" Eu vou matar-te." Disse com raiva e apertei a sua garganta.

" E vais deixar a Tatiana morrer estorricada?" Ele questionou com muito mais dificuldade em falar.

Eu não cedi. Imagens da Tatiana rodeada de fogo invadem a minha mente. Eu não posso deixar. Eu mando o corpo do Jorge contra o chão e desapareço de casa.

Entro no carro e conduzo em alta velocidade, eu não posso deixar ela morrer. Eu devia, mas não consigo. O meu coração está apertado com nunca esteve. Eu sinto medo. Há muito tempo, eu não sinto medo. Eu sinto medo de a perder. Deve ser uma da manhã e não há muitos carros na estrada, eu ultrapasso a todos, conduzo em contra mão. Vem um carro na minha direção e eu desvio o carro quase no último segundo de baterem um no outro. Continuo na mesma velocidade. Paro o carro e vejo a casa da Tatiana em chamas.

Eu corro, sem pensar em direção da casa. Consigo abrir a porta depois de dois pontapés na porta. Eu entro na casa e grito pela Tatiana. Há muito fumo, as chamas estão a destruir tudo. Repito o nome dela, vezes e vezes sem conta, procurando-a. Abro a porta do seu quarto, mas ela não está lá dentro. Ouço a sua voz e caminha na direção ao som.

Eu só quero encontrar a Tatiana e tira-la daqui. Um pedaço de madeira a arder quase cai em cima de mim. Eu desviei-me. Caminho na direção de outro quarto, a porta está arder. Eu dou um pontapé nesta e ela abre-se. Vejo a Tatiana ao longe, agarrada á filha.

" Tatiana!" Eu grito, ela está rodeada por chamas.

" Joel, por favor ajuda-me." A Tatiana implora. Ela e a miúda tossem. Eu dou um salto e fico perto delas.

" Vamos sair daqui." Eu disse.

" Tira a Aurora daqui primeiro." A Tatiana pede-me.

" Eu não te vou deixa aqui." Eu impus. Eu não podia deixar a Tatiana aqui, eu não sei se vou conseguir voltar.

" Salva a minha filha, primeiro." Ela implora. Eu olho para a miúda.

" Sobe nas minhas cavalitas, Aurora." Eu abaixo-me e ela sobe. " Agarra-te bem." Eu pego a Tatiana ao colo e dou um salto com as duas. Caminho em direção à porta, cada vez há mais chamas. Finalmente, eu consigo sair com elas. Eu afasto-as da casa.

Posai-as no chão. A Aurora tosse muito.

" A minha mãe!" A Tatiana parece lembra-se. " Ela está lá dentro, tenho que a tirar de lá." Ela vai na direção da casa e eu impeço-a.

" Não, Tatiana. É uma loucura voltares lá para dentro." Eu afirmei.

" Mas a minha mãe está lá dentro." Ela chora. Eu seguro-lhe o rosto.

" Fica aqui com a tua filha. Eu prometo a tiro lá de dentro." Eu solto-a e vou em direção à porta. Eu não consigo ver a Tatiana assim. Eu entrei na casa, mesmo sabendo que posso não voltar a sair. 

...

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Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora