Consequências de uma tragédia (90)

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Tatiana:90

Tenho os olhos fechados, mas não consigo dormir. A Aurora já está a dormir há muito tempo. A minha cabeça parece que vai arrebentar com a dor de cabeça que tenho. Eu não consigo acreditar no aconteceu. A minha mãe, a minha mãe morreu. As lagrimas caem pelo meu rosto. Como é que isto foi acontecer? Da onde veio aquele fogo tudo? Nós temos sempre tanto cuidado.

A porta do quarto abre-se devagar e vejo que é o Monstro. Eu fecho os olhos e finjo estar a dormir. O Joel aproxima-se do meu lado da cama. Sinto a sua mão passar levemente pelo meu rosto, acariciando-a. O que é que ele está a fazer? O Homem dos olhos azuis fica alguns segundos ali e afasta-se devagar. Ele vai até a porta e sai sem fazer barulho. Quando a porta está encostada eu abro os olhos.

Eu não consigo entender. Ele tentou matar-me e agora salvou-me, ainda ofereceu-me a sua casa e agora vem fazer-me festas no rosto. Eu não devia estar aqui. O que é que eu estou aqui a fazer? Ele é um monstro, o Joel tentou matar-me e eu estou a dormir na casa dele.

Como foi bom o abraço que ele me deu! Eu estava tao frágil. Ele ajudou-me tanto, hoje. Eu estou tão confusa. Não sei se ele é uma ameaça ou uma coisa boa. Eu não consigo apagar a noite que ele cravou os dentes no meu pescoço. Eu nunca tive tanto medo de morrer.

Eu levantei-me e caminhei até à janela. A janela dava para o jardim da casa. Vejo o Joel sentado na relva. Apenas a luz da lua incidia sobre ele. Eu observo-o. Há tantas coisas que eu lhe queria perguntar, tantas coisas que eu lhe queria dizer. Eu acho que não é o momento agora. O meu coração diz para ir até ele. Vesti uns calções do Jean que me ficam muito grandes e sai do quarto.

À noite está quente. Ele ainda não se apercebeu da minha presença e eu observo as suas costas. Vou até ele e sento-me no chão ao seu lado. Não digo nada, sinto o seu olhar sobre mim e depois ele desviou-o.

" Pensei que já esteves a dormir." Ele disse por fim.

" Eu sei." Eu afirmei e fiquei em silêncio. Pensava nas melhores palavras. " Joel..." Eu comecei e olhei para o Joel e ele interrompeu-me olhando para mim.

" Não digas nada. Eu já sei o que vais dizer. Só quero que saibas que eu estou arrependido, se isso vale de alguma coisa." Ele conta.

" Eu só queria saber, o porquê. Porque é que não me matastes naquele dia? Tu estavas decidido." Esta pergunta anda há muito a volta na minha cabeça. Eu olho nos olhos azuis do monstro. O Joel não responde, apenas me observa com seu olhar intenso.

" Isto é tao errado." Ele desabafou. Eu não percebo.

" O quê?" Eu perguntei de forma calma.

"Não interessa. Eu tive os meus motivos. Agora, vai dormir. Deves estar cansada." Ele tenta esquivar-se da conversa. O Joel levanta-se e dá-me a mão para que eu me levante também.

" Obrigado." Eu disse e ele abre mais os seus olhos azuis. " Obrigado, por me salvares, a mim e a minha filha." Eu agradeci.

" Não precisas de agradecer. Isto é o mínimo que eu posso fazer por ti." As palavras dele surpreendem-me. Ele parece estar mudado.

Eu senti uma necessidade enorme de o abraçar. Eu acho que estou carente. Eu fui até ele e dei-lhe um abraço. Ele não correspondeu instantaneamente ao abraço, demorou algum tempo até os seus braços apertarem o meu corpo com força. O Joel também precisava deste abraço. Uma sensação de proteção invadiu o meu corpo. Eu sinto o seu cheiro confortante que me relaxar. Os meus olhos lacrimejam. O Monstro separa o nosso abraço e segura o meu rosto. Faz-me uma festa no rosto.

" Eu nunca mais vou fazer-te mal. Eu prometo." Ele prometeu de uma forma tão sincera, como eu nunca o vi falar antes. O Joel deposita um beijo sobre a minha testa e olha-me novamente.

Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora