Ás vezes é melhor ficarmos calados (62)

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Tatiana:

A Aurora estava muito cansada e adormeceu no sofá sem eu dar conta. Eu levei-a ao colo para a cama, tapei-a com os cobertores e deu-lhe um beijo leve na cara. Ajoelhei-me no chão e observei-a. Pareci um anjinho. Que bom tê-la aqui comigo. Tive tanto medo de nunca mais a ver.

" Cláudio!" Eu chamei baixinho. " Embora ninguém acredite, eu sei que me ajudaste com a nossa filha. Obrigada. Eu não sei o que seria dela, agora, se não me ajudaste." A minha voz tremeu e as lágrimas ameaçaram cair, mas eu continuei a falar. " Eu queria tanto que estives aqui connosco. Eu sinto tanto a tua falta." Eu disse e as lágrimas escorreram pela minha cara. Eu comecei a sentir o cheiro forte do perfume que o Cláudio usava. Parece impossível, mas eu sinto que ele está aqui. As lágrimas escorriam pela minha cara e eu fiquei em silêncio.

Depois de me recompor, voltei para a sala. A minha mãe já se tinha ido deitar. Coitadinha! Foi a morte do meu pai, agora o desaparecimento da neta, deve ser difícil para ela. Pelo menos, a Aurora já está em casa.

Eu tento não pensar, mas as imagens do Joel com o rosto sujo de sangue a atacar o homem não me saírem da minha cabeça.

A Nádia ofereceu para fazer panquecas. Acho que estou mesmo a precisar de um serão com amigos. Eu e o Edu estávamos sentados e a Nádia estava a fazer a massa para as panquecas.

" Tati! Estava aqui a falar com a Nádia. Foi mesmo muito esquisito aquele sonho que tiveste. Desculpa por não ter acreditado em ti." O Edu pediu.

" Não faz mal. Eu no teu lugar também não acreditaria. Foi estranho, eu sentia que ela estava em Córdova." Eu disse.

" Cruzes!" Disse o Edu benzendo-se. " Já não chegava a filha, agora a também a mãe tem pressentimentos." Ele disse.

" Não, a Aurora adivinha as coisas que vão acontecer. Eu só tive um sonho." Eu expliquei.

" Tatiana, eu não te vou pedir desculpas. Eu continuo a não acreditar nessas coisas. Foi muita coincidência, admito, mas continuo a achar que foi uma loucura ires para Córdova por causa de um sonho." A Nádia mostra o seu ponto de vista.

" Talvez tenha sido, mas pelo menos eu consegui trazer a Aurora de volta." Eu disse.

" Vá, mas agora conta, Tati. Eu quero saber tudo. Como foi a viagem com o bonitão Joel?" Ele perguntou ansioso.

" Ah, sim! Eu também quero saber." A Nádia insistiu. O que é que eu vou responder?

" Foi normal." Eu disse com uma expressão triste, relembrando o rosto do Joel coberto de sangue e as duas pessoas mortas na sala.

" Normal? Como assim normal, Tatiana? Como é pode ser normal? Um gajo como o Joel e tu! Sozinho! Dois dias! E dizes que é normal!" Disse o Edu visivelmente irritado.

" Não me digas que nem aconteceu um beijinho!? " Disse a Nádia um pouco dececionada. Eu relembrei o beijo maravilhoso que ele me deu quando nós encontramos a Aurora. Essa recordação maravilhosa foi interrompida pela imagem do rosto do Joel com os dentes caninos aumentados e a boca suja de sangue.

" Eu descobri uma coisa muito má sobre o Joel." Eu afirmei.

" Não me digas que ele é mau na cama." Sugeri o Edu.

" Não!" Eu disse sem pensar.

" Porquê? Já experimentaste?" Perguntou a Nádia.

" Não é isso. Não, claro que não experimentei." Disse um pouco atrapalhada.

" Edu! A Tatiana não me convenceu." A Nádia disse para o Edu.

" Nem a mim. Pensava era amigos e contávamos tudo um ao outro." Ele finge estar chateado.

Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora