Saída à noite (14)

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Tatiana: 14

Depois do jantar estava sentada no sofá da sala, via televisão com os meus pais, Júlia e Augusto. A Aurora estava sentada no chão, virada de costas para a televisão. Brincava com as suas bonecas que se encontravam espalhadas na mesa de centro da sala. 

O sorteio televisivo começou e a minha Mãe apressou a ir buscar os papéis dos números para ver o que a sorte lhe reserva. Eu estava a ficar com sono e estava encostada ao sofá, observa a Aurora brincar. Relembrei o episódio da Aurora a falar sozinha no quarto. Não era a primeira vez que eu ouvia a minha filha conversar sozinha. 

Será que ela tem um amigo imaginário? Questionei para mim mesmo. Eu nunca tive um amigo imaginário, mas já ouvi dizer que algumas crianças têm. Preciso de ficar atenta. Embora eu tente ao máximo compensar a falta do pai, eu não posso esquecer-me que a Aurora nunca conheceu o pai. A falta do pai pode a fazer imaginar alguém para falar.

" Vai sair o número vinte e três." Disse a Aurora olhando para mim. O número que saí é vinte e três.

" Boa! Filha! Acertaste!" Disse-lhe.

" Agora vai sair quarenta e seis." Disse ela continuando a brincar. Saio o número quarenta e seis.

" A minha neta tem muita sorte ao jogo. E agora qual é o número que vai sair a seguir?" Desafia o meu pai.

" É fácil, avô. É os catorze." A Aurora continuava de costa para a televisão. A minha filha é tão inteligente, com a idade dela, ela nem devia saber os números.

A apresentadora repete "catorze."

"Filha, na semana que vem tens que dar os números a avó. A avó ainda não acertou nada." Disse desanimada a minha mãe.

"Dois. Não posso dar, avó." Disse a Aurora. Saí o número dois.

" Porquê, filha?" Perguntou a minha mãe.

" Porque tu não podes ganhar, avó. O próximo número é os trinta e quatro." Respondeu a Aurora como se fosse a coisa mais explícita do mundo. Trinta e quatro é o número sorteada a seguir.

"Porquê que a avó não pode ganhar? Se a avó ganhar é para te dar a ti." A minha mãe afirma.

" Mas não podes ganhar." Disse a Aurora.

" Agora, eu quero ver se tu acertas nas estrelas." O meu pai desafiou novamente a neta.

" Ó! É fácil. É o número sete e cinco." Disse a Aurora muito sabichona. A roleta, gira, gira e sai primeiro o número cinco. Gira de novo e sai o número sete.

" Filha! Tu acertaste os números todos do sorteio!" Eu disse admirada.

A Aurora parecia não dar muita importância. Eu troquei olhares com os meus pais que estava tão admirados quanto eu. A campainha tocou e eu fui abrir. Era a Nádia e o Edu.

" O que é que tu estás fazer ainda assim vestida?" Perguntou-me a Nádia. Eu estava com umas calças confortáveis e uma camisola básica vestida.

" Assim como?" Perguntei. Eu não tinha intenções de sair de casa.

" Não vais sair há noite assim vestida?" Perguntou a Nádia.

" Anda que eu ajudo-te a escolher uma roupa." Disse o Edu e puxou-me o braço em direção ao meu quarto.

" Eu não vou. Não me está apetecer sair." Disse aos dois.

" Aqui não há apetites. Vais e pronto." O Edu impôs.

" O Edu tem razão. Nunca sais connosco á noite. Hoje vais connosco nem que seja obrigada." Reforçou a Nádia.

" Mas eu já prometi a Aurora que lhe lia uma história antes de ela dormir." Disse.

" Lês noutro dia. Tiveste o dia todo com a tua filha, agora vais-te divertir." Tentou convencer-me o Edu.

" Mas não me apetece ir." Continuei a dizer.

" Mas vais." Disse a Nádia decidida. Quando aqueles dois põem uma coisa na cabeça, não há ninguém que lhes tire. Acabei por ir. O Edu escolheu-me a roupa e a Nádia fez-me a maquilhagem. Eu pedi algo simples aos dois, mas eles não me ouviram. Olhei-me ao espelho e estava muito bonita. Eu usava um vestido vermelho e curto. Era um pouco rodado da cintura para baixo e tinha umas alças finas. O Edu tinha-me oferecido este vestido no natal, mas eu nunca o tinha usado. Tinha calçado uns sapatos pretos de salto alto. O meu cabelo estava solto e encaracolado. A maquilhagem não estava muito pesada, mas mesmo assim realça o castanho dos meus olhos. Eu achava demais só para uma saída a noite. Eles não me deixaram trocar de roupa e tive de ir assim.

 Eles não me deixaram trocar de roupa e tive de ir assim

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(roupa que a Tatiana vai usar)

Fomos no carro do Edu até a discoteca. Não estava com animo nenhum para aquele ambiente. Contava cada minuto para sair dali. Eu não queria beber, mas a Nádia insistiu muito e eu comecei a beber. Já ia no segundo copo de vodka e como não estou habituada a beber o efeito do álcool começava a notar-se. Comecei a dançar e estava a gostar de me libertar. Os últimos dias não foram fáceis. Todos os dias quando regressava para casa o assalto estava presente na minha cabeça.

Um rapaz de camisola azul começou a dançar comigo, se já não tivesse bebido quatro copos de vodka, eu não dançaria com ele, mas como estava bêbeda dancei. O rapaz era bonitinho. Era moreno e os olhos castanhos. A música acabou e o rapaz ofereceu-se para ir buscar bebida. Eu aceitei e aproveitei para ir a casa de banho.

Quando voltei fui contra um homem sem querer.  

Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora