Como não amar um monstro? (82)

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Tatiana:

O Joel foi embora e eu olhei para o Rui.

"Este gajo mete-me tanta raiva! Vê-la que aproveitou logo para te fazer esquecer o beijo." Desabafei. O Rui encostou-se ao balcão.

"Qual beijo?" Ele perguntou sério.

"Tu não te lembras?" Eu perguntei assustada. Não me digam que não resultou. Agora, que eu tinha alguém para desabafar. Ele começou a rir-se e eu suspirei de alívio. Ele estava só a gozar comigo.

"Estava a brincar." Ele baixou-se e tirou a pulseira do pé e entrega-ma.

"Ai! Que susto! Estava a ver que não tinha resultado." Ela disse, mais descansada.

"Não. Eu ainda me lembro que os vampiros existem e que tu beijas muito bem." Ele brincou. Ele tinha os braços em cima do balcão e eu dei-lhe uma chapada. " Relaxa! Eu sei que foi só para o mauzão não se meter contigo. Ah! E estás á vontade, podes beijar-me quando quiseres." Ele continuou a gozar.

"Rui!" Eu repreendi-o.

" Calma! Estava a brinca!" Ele disse sorridente.

"Pelo menos agora tenho alguém para desabafar os dilemas da minha vida." Eu afirmei.

" Nós temos é que nos ver livre dele." O Rui afirmou.

" Mas como? Eu não sei matar um vampiro. Nem sei se eles morrem. Dizem que eles são imortais." Eu disse.

" Tem que haver uma maneira. Nós vamos descobrir." Ele disse-me. Vejo o Edu entrar no café de mão dada com a Aurora.

" Mãe!" A Aurora grita e corre para mim. Eu saí de trás do balcão, abaixei-me e enquanto a abraçava, dei-lhe alguns beijos.

" Que saudades! Divertiste com o padrinho?" Eu perguntei a minha filha. Ela é tão linda!

" Sim. Andei de escorrega e comi um gelado de chocolate... Ola, Rui!" Ela disse reparando na presença do Rui.

" Ola pequenina." Ele respondeu.

"Boa tarde!" O Edu cumprimenta-nos. "Bem! Eu não posso demorar muito que ainda tenho que passar pela casa do Jean. Vocês acreditam que aquela criatura não tem telemóvel? Uma pessoa quer falar com ele e não pode. Então, fui comprar um telemóvel e vou-lhe oferecer. De certeza que ele não sabe mexer nele." Ele tira um telemóvel de um saco que tem na mão. É um telemóvel caro, o Edu está mesmo a gostar do Jean. Eu gosto do Jean, ele parece ter um bom coração. Eu acho que por ser vampiro não tem que ser má pessoa. O Jean é diferente do Joel.

" É giro! Ele vai gostar." Eu disse.

" Bem, vou indo. Beijinho, xau!" Ele despedisse.

" Adeus!" Eu respondi.

" xau!" Disse o Rui.

Assim que o Edu sai, a Aurora pediu uma fatia de bolo de chocolate e o Rui servi-a. Ela ficou sentada numa mesa. Nós estamos no balcão. O Rui do lado de dentro e eu do lado de fora.

" Não gosto nada da amizade do Edu com o Jean. O Jean é estranho, deve também ser um vampiro." O Rui disse-me.

" Ele é um vampiro, mas é diferente do Joel. Ele tem um coração bom, não tem maldade." Eu contei.

" Não tem maldade! Ele é um vampiro, só isso chega para ter maldade." O Rui afirmou.

" Não me parece. E não é por ser vampiro que tem de ser mau." Eu disse segura.

É normal o Rui se sentir inseguro em relação ao Jean, mas eu sei que ele não é uma ameaça. Ao contrário do seu amo, que é um monstro impiedoso, malvado que beija tao bem. Relembrei-os beijos. Chega, eu tenho de me livrar dele. Eu não posso esquecer o que o Joel fez à Nádia.

" Bem, mas esse não é o nosso problema. Nós precisamos de acabar com o Joel." O Rui afirmou.

" Mas como?" Eu pergunto retoricamente. Eu não tenho noção nenhuma de como se poderá matar um vampiro. O meu coração aperta sempre que penso em mata-lo. Eu sei que o Joel fez coisas más e ainda faz, mas não consigo pensar nisto sem me sentir assim. Talvez seja boa de mais para matar alguém. Espero que seja apenas isso.

" Para matar um vampiro é necessário furar o seu coração com prata." A Aurora disse. O Rui começou-se a rir. Nós estávamos a falar baixo e ela estava longe. Como é que ela conseguiu ouvir? Eu continuava séria.

" Aurora! Não se ouve a conversa dos adultos." Eu reprendi-a. Mas sei que se ela disse aquilo, é porque é verdade.

" Está bem, mãe." Ela disse com uma voz aborrecida.

" Já viste a miúda. Tem bom ouvi. Onde é que será que ela ouviu que se matava um vampiro com prata? Devia ter sido em algum desenho animado." Supôs o Rui, não acreditando na minha filha.

" Não me parece, Rui. A Aurora é uma criança diferente. Ela adivinha muita coisa e eu acho que ela vê o Cláudio. Eu já ouvi muitas vezes ela a falar sozinha e a chamar o pai. Eu sento o cheiro do perfume dele no quarto dela. Eu sei que parece uma loucura, mas eu sinto a presença dele. A minha filha não conta que o vê, ela diz que não pode contar. Aurora adivinha muita coisa. Ela fala e as coisas acontecem. Eu sei que é difícil acreditar, mas é verdade." Tentei convence-lo.

" Já acredito em vampiro, o que é que me custa acreditar em criança com poderes? Até parece mais normal. Achas que a prata o pode matar?" Ele perguntou-me.

" Podemos fazer um teste." Eu fiz uma pausa, pensado. " Já sei. Daqui a quinze dias eu faço anos. Eu estava a pensar em fazer um jantar só para os mais próximos. Posso convidar o Jean. Ponho o serviço de prata da minha mãe e vemos a reação dele. Com sorte pode ser que a Nádia leve o próprio Joel." Eu contei-lhe a minha ideia.

" Tenho quase a certeza que o Joel vai e não precisas ser convidado. Vamos todos, achas que ele ia perder a oportunidade? Nem que seja só para te irritar." O Rui disse.

" Pois. Otário como ele é. Tu não sabes a raiva que eu tenho dele. Eu odeio-o." Eu exprimi o que sinto.

" Do odio ao amor é só preciso dar um passo, mãe." Disse a Aurora sorridente.

" Aurora!" Eu repreendo-a.

" O que é que foi? É verdade, mãe." Ela ateima. O Rui risse.

" Não te rias, assim ela vai achar que tem graça." Eu disse para ele.

" Sabes que eu não gosto dele, mas tenho que concordar com a miúda." Dou-lhe uma chapada no braço.

" Rui! Também tu?" Ele questionou.

" Desculpa, estava a brincar." Ele desculpou-se.

Eu sei que muitas histórias de amor começam assim com um enorme ódio, mas a minha história e do Joel é diferente. Ele é um monstro e eu não posso amar um monstro.

...

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Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora