bom ou mau (20)

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Tatiana:

O jardim que o Joel me trouxe era lindo. Estávamos no alto e conseguíamos ver bem o céu e a lua que estava brilhante. Sentamo-nos na relva.

" É aqui que moras?" Perguntei.

" Hoje sim, amanhã já não sei. A minha casa é o mundo." Ele respondeu.

" Então, era aqui que a tua mulher gostava de vir. Realmente é lindo." Eu confirmei.

" Quando morávamos aqui. Ela gostava muito de vir para aqui." Ele confessou.

" É engraçado. Eu sempre vivi aqui e não me lembro de te ver." Eu confessei.

" A minha vida sempre foi o mundo. Eu e a camila sempre viajamos muito. Nunca paramos muito tempo no mesmo sítio." Ele disse.

" Um assassino viajante. Mais uma coisa a apontar." Eu disse e olhei para as estrelas. Ele riu. Até estava a ser agradável a nossa conversa.

" Eu disse que havia muitas coisas que não sabias sobre mim. Bem, agora é a tua vez. Já contei um pouco da minha vida, agora é tua vez." Ele disse.

" O que é que queres que conte? Não só uma viajante como tu. Na verdade quase nunca sai de Sintra. Tenho uma filha com cinco anos. E a minha vida é entre o Lince e a Aurora." Eu contei.

" E o pai dela?" Ele perguntou.

" Faleceu, antes mesmo de eu saber que eu estava gravida." Eu contei.

" Deve ter sido difícil para ti criar uma criança sozinha." Ele disse.

" Não posso dizer que não foi. Tive que deixar os estudos, comecei a trabalhar cedo, mas os meus pais ajudaram-me muito." Eu contei.

" E a família do teu namorado?" Ele perguntou.

" O Cláudio não tinha mãe. Ela também faleceu. Alias a Aurora tem o nome da avó. Na altura eu contei ao Jorge, o pai dele. Mas ele nunca quis saber da neta." Eu contei.

" Espera! Tu estás a falar do Jorge Kokio?" Ele perguntou admirado.

" Sim." Eu confirmei.

" O teu namorado era o Cláudio Kokio? A tua filha é uma Kokio?" Ele levantou-se.

" Sim, Joel. Tu conhece-os?" Eu perguntei levantando-me também.

" Nem sabes como? Diz-me? Sabes sobre a família?" Ele perguntou agitado.

" Sei o quê? Eu não tenho mais contacto com a família dele." Eu disse.

" Há quanto tempo o Jorge não vem a cidade?" Ele perguntou aumentando o tom.

" Não sei. Ele nunca procurou a Aurora." Eu disse. Ele veio na minha direção e colocou-me a mão do pescoço e apertou-me.

" Diz-me a verdade! Há quanto tempo ele não vem há cidade?" Ele perguntou novamente.

" Não sei. Larga-me!" Eu senti os dedos dele apertarem bastante. Estava a ficar sem ar. Ele olhava-me nos olhos. O Joel largou-me e virou-me as costas. Ele despenteou o cabelo pareci pensativo.

" O que é que foi isto? Tu conheces a família do Cláudio?" Eu perguntei confusa.

" Vai-te embora!" Ele ordena-me espaçando as palavras. Ele continuava de costas para mim.

" Não! Agora, vais-me explicar." Eu disse decidida.

" Vai-te embora!" Ele gritou.

" Não vou!" Eu confortei-o. Ele olhou para mim.

" Eu estou a ordenar-te! Sai!" Ele ordenou.

" Eu já disse que não vou a lugar nenhum. De onde conheces o Jorge Kokio?" Eu insisti. Ele aproximou-se de mim. Olhou-me com olhar intimidante. Eu olhei-o fixamente.

" Tu não tens medo de morrer? Eu podia matar-te aqui e agora. Enterrar o teu corpo neste jardim e nunca mais ninguém te encontraria." Ele ameaçou-me.

" Mas não vais fazer." Eu disse encarando os seus olhos.

" Como tens tanta certeza? Não és tu que dizes que eu matei aquele homem que te assaltou." Ele duvidou.

" Eu vejo nos teus olhos." A sua expressão modificou. Ele parecia admirado. Ele ficou em silêncio por algum tempo.

" Eu matei aquele homem e matei todas as pessoas que apareceram mortas violentamente em Sintra." Ele disse friamente. Eu processei um pouco. Estaria ele a mentir? "Eu matei, porquê gosto de matar."

" És monstro!" Eu recuei um passo para trás. Ele pegou-me no braço com força e puxou-me para si. Senti medo.

" Sou. Eu sou monstro e agora devia matar-te. Porque é coisa certa a fazer." Ele disse num tom forte e ameaçador.

" Larga-me! Deixa-me! Eu tenho uma filha." Eu supliquei.

" Não tentes fazer-me sentir qualquer tipo de sentimento, porque eu não vou sentir." Ele apertou-me com força o braço, estava quase a ponto do partir.

" O que é que vais fazer comigo?" Eu perguntei. Ele soltou uma gargalhada.

" Finalmente! Consigo despertar algum medo em ti." Ele empurrou-me com força para o chão. Eu caio no chão e raspei o braço.

" Tens cinco minutos para desapareceres da minha frente. Um." Ele começou a contar. Eu levantei-me. " Dois." Ele contou. Eu o olhei. Ele olhava-me com um olhar sem sentimento." Três" Decidi ir. Aquele olhar assustava. Parecia que era capaz de fazer tudo." Quatro." Eu comecei a caminhar apressadamente. Quem me mandou vir para aqui, no meio da noite, com um estranho? Nunca devia ter vindo. Eu até estava a gostar de falar com o Joel, ele parecia uma boa pessoa. Mas estava enganada, ele é um monstro. Eu devia ir a polícia e denuncia-lo.

Caminhei até casa, pensando em tudo. 

Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora