Vamos ou não vamos? (42)

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Obsidiana:

Eu estava na varanda do meu quarto, via as estrelas. As minhas mãos estavam posadas sobre o varandim. Eu não usava camisa e senti o vento da noite quente bater no corpo.

" Meu amo!" O Jean chamou-me.

" Diz." Eu não olhei para ele.

" Quando é que partimos? O meu amo disse que íamos embora, mas já passou mais um dia e ainda não fomos." Ele constatou.

" Vamos amanhã de manhã." Eu disse-lhe.

" Porquê adiou a ida? Tem alguma coisa a ver com a menina Tatiana?" Ele perguntou.

" Não. Apenas quis ficar mais um dia." Ele ficou algum tempo em silêncio. Eu não olhei para ele, mas sabia que ele observa-me.

" Meu amo, é minha impressão ou essa rapariga mexeu consigo?" Eu olhei-o indignado.

" Mexeu comigo! Como assim, Jean?" Eu fingi-me de desentendido.

" Meu amo! Você sabe do que eu estou a falar. De sentimentos entre marido e mulher. Amor." Ele tentou explicar.

" Jean, tu sabes que eu sou monstro e que cometi e cometo coisas horríveis. Sou incapaz de voltar a amar." Eu esclareci.

" Isso é o que você diz. Eu notei que você está diferente." Ele insistiu.

" Diferente como? Eu continuo a matar pessoas." Eu disse.

" Não sei. É o seu olhar, por vezes parece que ainda consigo ver o Joel de antigamente. O doce e apaixonado Joel. Eu pensava que ele tinha morrido, mas, por exemplo, agora quando você olhava as estrelas fez-me lembrar ele." Ele disse-me.

" Esse Joel está morto e enterrado. Ele morreu quando mataram a Camila e ele se transformou em um vampiro. Eu não amo mais, eu não sinto pena, eu não sinto dor. Jean, não queiras ver coisas onde elas não existem. Eu não matei a Tatiana, simplesmente, porque a quis recompensar. Eu tirei-lhe o amor da sua vida. Embora não sinta, eu sei o que ela sentiu. Leva isto como boa ação de ano." Eu esclareci.

" Porquê eu acho que você está a falar isso tudo da boca para fora?" Ele voltou a insistir.

" Jean, esta conversa já me está a irritar. Vai comprar whiskey para a viagem." Eu mandei-o, só para me ver livre dele.

" Mas está de noite, está tudo fechado." Ele reagiu.

" Arranjaste! Eu quero cinco garrafas para amanhã." Eu disse firmemente.

Ele foi-se embora. O Jean tem a mania de pensar que ainda há algum tipo de sentimento bom em mim, mas não o existe. Eu não gosto da Tatiana. Se fosse por mim, já a tinha morto. Não o fiz em consideração á Camila. Eu matei o Cláudio. Eu não gostei que fizerem isso comigo e fi-lo com ela. 

Eu vou deixa-la viver, há tantas outras raparigas que eu posso matar. 

Embora o sabor do beijo dela ainda esteja na minha boca. Como ela beija bem! E o seu cheiro atrai-me tanto. E aquele jeito atrevido e corajoso. E os seus cabelos compridos encaracolados. Eu já tomei a minha decisão, vou partir amanhã sem lhe fazer mal.

Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora