Eles desapareceram (162)

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Tatiana:

O movimento do lince está agitado. Eram três da tarde. Eu aproveitei um bocadinho que tive livre para ligar ao Cláudio. Já tinha ligado de manha, mas ele não atendeu. Estou preocupada, aquelas dores de cabeça não são normais. Só espero que não seja nada de grave. Ele é tao teimoso, não sei quando o consigo convencer a ir ao médico. Ele não atendeu.

Eu fui até a sala de arrumos, precisava de repor o stoque de sumos. Peguei uma caixa e sem quer o meu fio abrisse. Eu posei a caixa e apanhei o fio do chão. Era o fio que o Joel me deu e por algum motivo, eu ainda não o consegui tirar.

Eu não tenho pensado nele. A vida com o Cláudio é muito boa, mas as vezes parece que falta algo. Eu nunca mais o vi. O Edu contou-me que ele viajou. As vezes, eu sinto-me culpada. Ele também sofreu tanto. O Joel foi rejeitado pela mulher que toda a vida amou e eu de certa maneira eu também o rejeitei. Ele já fez tao bem, talvez foi injusta com ele.

Agora, não há nada a fazer, ele deve estar longe. Guardei o fio no bolso, não faz sentido continua a usa-lo. Agarrei a caixa e continuei o trabalho.

Liguei várias vezes para o Cláudio, mas ele não atendeu. Eu estava a ficar preocupada. Pensei em pedir a Carla para sair mais cedo, mas o movimento no lince estava muito alto. Eu Rui chegou e ajudou-me bastante, mas o trabalho era muito. Sai tarde.

Regressei a casa. Coloquei a chave a porta e abri a porta. A casa estava a escuras. Estranhei o facto do Cláudio não estar na sala a ver televisão. Normalmente, ele espera-me sempre. Fui até ao quarto da aurora, a cama estava feita e nem sinal da minha filha. De certeza que adormeceram os dois no meu quarto. Fui até ao meu quarto. Estava vazio. Eu comecei a entrar em pânico. Liguei mais uma vez para o Cláudio e oiço o telemóvel tocar. Vou até a cozinha e o telemóvel do Cláudio está na bancada.

Eu liguei para o Edu.

" Edu!"

" To, sabes que horas são? Espero que tenhas uma boa desculpa para me acordar." Ele disse um pouco sonolento.

" O Cláudio e a aurora desapareceram." Eu comuniquei-lhe.

" O quê?" Ele perguntou surpreso.

" Eu não sei deles. Eu liguei o dia todo para o Cláudio e ele não me atendeu. Agora cheguei a casa e eles não estão aqui. Ele deixou o telemóvel em casa. Eu estou muito preocupada."

" Calma, Tatiana. Eu e o jean vamos já para ai. Jesus, mas essa miúda está sempre a desaparecer."

" Eu tenho tanto medo que lhe faça mal."

" Calma, Tatiana. Nós já vamos."

" Não demorem." Eu pedi. Eu estava a tremer. Eu não consegui pensar em possíveis coisas que podiam acontecer. Eu tenho tanto medo que tenha acontecido alguma coisa.

A estas horas, eu não posso ligar para a escola da aurora. Podia perguntar se ela foi escola e se o Cláudio o foi busca como de costumo.

Passado algum tempo a campainha tocou. Eu fui abrir. Além da Edu e o jean, a Sam também veio.

" Desculpa, mas a Sam insistiu muito para vir. Espero que não te importes." O Edu disse.

" Claro que não. Entra, Sam." Ela veio para a ajudar e todas as ajudar são bem-vindas.

" Já sabes alguma coisa da menina e do Cláudio?" A Sam perguntou-me.

" Não, eles ainda não apareceram."

" Isso é muito estranho?"

" O que é que achas que pode estar acontecer?" Eu perguntei a Sam.

" Eu não sei. Mas o Cláudio tem um pacto com diabo e ele deveria matar a aurora."

" Não, o Cláudio nunca mataria a filha. Deve haver outra explicação. Eu ponho a minha mão no fogo." Eu disse convicta.

" Cuidado, Tatiana. Ainda te podes queimar." Ela avisou-me.

" Eu confio no Cláudio." Eu disse. Ele não era capaz de fazer mal a própria filha. Eu sei o quando ela a ama.

" Ele fez um pacto que não é brincadeira nenhuma, mas pronto vamos esperar." Ela propôs.

Esperar é uma palavra que eu odeio. Eu não gosto de esperar. A noite avanço e as sete da manha, a hora do que a escola da aurora abre, eu liguei para lá. Perguntei se ela tinha ido a escola ontem. Disseram-me que não.

" A Aurora não foi a escola ontem." Eu disse-lhe. Eu estava visivelmente preocupada.

" Desculpa, Tatiana. Mas a minha teoria que o Cláudio pode quer matar a aurora pode estar certa." A Sam voltou a insistir.

" Isso se já não matou." Disse o jean.

" Jean! Por amor a deus." Repreendeu-o o Edu.

" Eu nem quero pensar nisso." Eu disse visivelmente preocupada.

" Ela ainda está viva. Eu sinto." A Sam disse.

" O que é que vamos fazer?" Eu perguntei desesperada. Eu sinto-me num beco sem saída. Porque que é isto só acontece a mim?

"Um papel e caneta, rápido." A Sam pediu. E o Edu deu-lhe.

Ela pega na caneta. Os olhos estão fechados. Numa mão segura a caneta e a outra ela apoia a cabeça. Ela escreve algo no papel. Eu aproximo-me dela. Ela para a caneta e abre os olhos. Eu leio. Minas de são domingo, no Alentejo.

" A Aurora está aqui. Eu tenho a certeza." Ela grita.

" Tens a certeza?" O jean pergunta, observando o papel.

" Toda do mundo. Eu tenho que ajudar a Aurora. Ela corre risco de vida."

" Então, vamos para essa tal mina de são domingos." Eu disse. Eu já acredito em tudo.

" Não. Nós precisamos de reforços. Nós precisamos do Joel." O meu coração acelerou ao ouvir o nome dele.

" O meu amo, foi embora e penso que ele não vai voltar." Disse o jean.

" Ela precisa de voltar. Eu vou ligar-lhe." Disse a Sam decidida.

O Joel. Depois o que eu lhe fiz não acredito que ele volte. E ele tem razão.

Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora