Patuco (141)

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Obsidiana:

Eu estava no meu quarto, tinham uma garrafa de whiskey na mesa-de-cabeceira e copo na mão.

Estava sentado na cama, dei um golo no copo e deixei o meu corpo cair para trás.

No meu pensamento só estava a Tatiana.

Relembrei o dia de ontem. O beijo e a conversa com a Aurora.

Confesso que fiquei surpreso quando abri a porta da rua e aquela tagarela pequena estava do outro lado.

Ela estava de pijama e tinha um ursinho na mão.

" O que é que estás aqui a fazer?" Eu perguntei admirado.

" Preciso de falar contigo." Ela disse e entrou para dentro de casa.

Eu segui até a sala.

" E a tua mãe sabe que estás aqui?" Eu perguntei-lhe.

" Não. Eu fugi pela janela." Ela disse sentando-se no sofá.

" Ela vai ficar zangada."

" Não faz mal. Eu precisava de falar contigo. Senta-te aqui." Ela colocou a mão no sofá, indicando-me para me sentar.

Eu fiz-lhe a vontade.

" O que é que tens de tao importante para falar comigo?" eu perguntei curioso.

" Não é bem falar. Eu preciso de pedir uma coisa."

" Fica já a saber que se for dinheiro, eu não tenho." Eu brinquei.

Ela riu.

" Não! Joel! Não é dinheiro. Não sejas parvo." O sorriso desfez-se e ela olhou-me sério, colocou a mão sobre a minha. " Não desista da minha mãe. Espera por ela." As palavras daquela criança inocente, tocaram o meu coração.

Eu fiquei alguns minutos em silêncio.

" A tua mãe tem outra pessoa. Ela está melhor assim e eu também." Eu menti.

" Isso é mentira. Tu não estás bem. Joel, eu muito gosto de ti. Posso dar-te um abraço." Ela é tao doce e inocente.

Eu sorri para ela. E ela abraçou-me. Eu fechei os meus olhos e senti os seus braços em volta do meu pescoço. Talvez fosse o que eu estava a precisar, de um abraço. Eu não sou de pedir abraços a ninguém. Mas sinto-me tao só, sem a Tatiana.

" Aurora, o que é que estás aqui a fazer?" Ouço a voz do jean e nós separamo-nos. " A tua mãe está desesperada a tua procura."

Olhávamos para o jean.

" Eu vou já para casa." Ela disse.

Ela levantou-se do sofá.

" Vais para casa, mas não vais sozinha. Eu vou ligar ao teu padrinho." Disse-lhe o jean.

Passado pouco tempo, o Edu chegou. Eu continuava sentado no sofá. Estava pensativo.

Ela veio até mim e deu-me um beijo na bochecha.

" Promete que vais pensar no que eu te disse." Ela olhou com os seus olhos escuros.

" Também." Eu disse-lhe.

Ela caminhou um pouco, mas arrependeu-se e voltou para trás.

" Fica com o meu Patuco para não te esquecer de mim e da mãe." Ela deu-me o seu ursinho. " Toma bem, conta dele. Ele gosta de ouvir historia todos dias a noite." Ela disse-me.

Eu sorri. Acho que a Aurora fez-me aprender a gostar de crianças.

Ela foi embora e eu fiquei por algum tempo a olhar o boneco que não era nada bonito.

Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora