Bala de prata (61)

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Obsidiana:

Entrei em casa e a primeira coisa que ouço é a voz irritante do Jean.

" Meu amo! Já voltou?" Foi a primeira coisa que ele disse.

" Não! Ainda estou lá." Eu respondi sem paciência.

" Eu pensei que demorassem mais tempo. Conseguiram salvar a menina?" Ele perguntou visivelmente preocupado. Eu ignorei a sua pergunta. Desabotoei a camisa e tentava tira-la. Sentia muitas dores nas costas e tive alguma dificuldade em tirar a camisa. O fedelho acertou-me mesmo numa zona das costas que eu não consigo chegar.

" Meu amo! O que é que aconteceu?" Ele pergunta, continuando preocupado e eu continuei a ignora-lo. Eu fui até um pequeno espelho que havia na sala e tentei ver as minhas costas. Tinham mau aspeto, estavam negras e iam continuar assim até eu tirar a bala. "Foi baleado, meu amo?" O Jean perguntou ao aproximar de mim.

" Ajuda-me a tira-me a bala das costas! É de prata. E está calado!" Eu ordenei-lhe rudemente. O Jean foi até um armário, abriu a gaveta e tirou uma pinça, enquanto falava comigo e ignorava a minha ordem.

" De prata! Mas para onde o meu amo foi? Não me diga que encontro o Kokio." Ele perguntou.

" Não. Foi um vampiro que me fez isto." Eu expliquei. Ele caminhou para mim.

" Você veio a conduz quase seis horas com uma bala de prata nas costas. Como é que aguentou? Isto dá dores horríveis." Ele disse admirado.

" Quem é que querias que trouxesse o carro? E depois não ia pedir a Tatiana para me tirar a bala e eu não consegui tirar." Eu respondi num tom irritado. Eu estava sentado numa cadeira com as pernas viradas para as costas da cadeira.

" Então e a menina? Ainda não me contou nada." Perguntou o Jean referindo-se a Aurora.

" Miúda já está em casa." Senti as mãos do Jean sobre as minhas costas e a pinça entrar dentro do meu corpo. " Mas a Tatiana descobriu que eu sou um vampiro." Eu contei e senti a bala ser arrancada das minhas costas rapidamente. Senti dor, mas tentei disfarçar ao máximo. Não gosto que os outros vejam-me vulnerável.

" O quê?" Perguntou o Jean.

" Estás surdo?" Perguntei levantando-me e indo até ao espelho. Vi o buraco nas minhas costas desaparecer, assim como a macha escura.

" Não. A menina Tatiana sabe sobre si! E agora?" Ele perguntou preocupado.

" Ela não vai contar nada ao Kokio. Ela prometeu-me." Eu acalmei-o.

" A vossa relação evolui assim tanto, meu amo?" Ele perguntou empolgado.

" Ó, Jean! Parar de ler romances! Eu prometi que afastaria dela e ela prometeu-me que não contava ao Kokio, nem a ninguém." Eu expliquei.

" E vai cumprir?" Jean perguntou. Ele sabe que eu não sou de cumprir promessas.

" Eu devia, mas andam vampiros atrás da miúda. Eu não sei qual é o interesse deles." Eu expliquei.

" Tenha cuidado, meu amo? Ela pode contar ao Kokio." O Jean avisou-me.

" Eu não tenho medo do Kokio. Claro que não apetece entrar em guerra com ele. Fui por isso que pedi a Tatiana que não lhe contasse. Mas conhecendo o Kokio como eu conheço, ele está preste a chegar a cidade, se não cá já estiver. São muitas as mortes." Eu constatei.

" Se o meu amo sabe disse e não quer cruzar com ele vai ter que partir da cidade." O Jean avisou-me.

" Não! Eu preciso de avisar a Tatiana sobre os vampiros que andam atrás da filha dela. Eu só não lhe contei hoje porquê já eram muitas coisas para a cabeça dela." Eu esclareci.

" E depois não gosta da rapariga." Ele afirmou.

" E não gosto, apenas acho que devo fazer. Sabes como eu sou? Eu faço o que me apetece." Eu disse. Eu comecei a subir as escadas.

" La nisso, o meu amo tem razão. Você só faz o que lhe apetece." Ele confirmou.  

Um Monstro em tiOnde histórias criam vida. Descubra agora