Capítulo 17 :

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Fui até a minha pequena mesa de jantar de vidro e aço. Peguei minha bolsa e retirei meu iPhone lá de dentro totalmente sem bateria. Fui até o banheiro do meu quarto e coloquei para carregar. Deixo carregadores estrategicamente espalhados pelo apartamento para me lembrar de carregar o celular, já que sou esquecida, então tive essa ideia louca de espalhá-los.

Preciso ligar para Juliette. Ontem não nos despedimos direito, depois da crise do Alex.

Segui em direção a cozinha fui até meu refrigerador, abri e peguei uma garrafa de suco natural de laranja, levei até a boca e bebi desesperadamente sem respirar. Parecia que estava sem ingerir líquidos há dias. Quando terminei, segui para minha varanda para ver minhas plantas e flores. Peguei o mini regador, o abasteci e comecei a cuidar da minha mini horta, inspirei uma mistura de temperos que cultivava: alecrim, manjericão, pimenta dedo de moça e hortelã. Queria uma horta completa, igual eu tinha quando ainda era casada com Lorenzo e tinha Lucas ainda vivo e pulsante.

Soltei um longo suspiro, chegou a doer meu peito. Mudei o foco da horta para minhas orquídeas expostas em vasos de porcelana branca. E fiz o de sempre:

Carla: Oi meus amores... Como vocês estão? — Cheirei carinhosamente uma por uma e depois reguei cada uma com o necessário de água. — Estão a cada dia mais lindas.

Amo conversar com as flores, meu ex-marido Lorenzo era biólogo e me ensinou a amar as flores. Ele trabalhava em um centro de pesquisas na França que estudava espécies de plantas para produção de remédios e cura de doenças. Refiro-me a Lorenzo no passado porque para mim ele está morto, pois cortou qualquer contato comigo, me exilou, aboliu, apagou da sua vida. Fecho os olhos com força para afastar a tristeza que sinto quando penso nisso.

Eu tinha três vasos com orquídeas de cores diferentes. Em um dos vasos tinha orquídeas lilás e algumas nasciam brancas com detalhes rosa, No segundo eu mantinha orquídeas azuis, essas eu achava a mais especial, pois era difícil encontrá-la em qualquer floricultura. A do terceiro era uma cor indefinida entre amarelo e coral, ainda estava com pequenos botões fechados. Não via à hora de vê-las totalmente abertas e esplêndidas.

Terminei meu ritual e aproximei do batente de blindex da varanda, me apoiei e olhei para imensidão do mar azul que considerava o meu quintal. Olhar para esse mar, me traz conforto, é como se estivesse sendo abraçada por alguém que me conforta sem questionar as minhas atitudes, juro que às vezes consigo escutá-lo me dar conselhos e depois disso, ganho forças para continuar minha vida e minha rotina.

Fiquei ali, olhando para o infinito azul fixamente como se eu quisesse dizer de alguma forma e sem palavras que a cada dia que se passa, me sinto uma presidiária cumprindo sua sentença em liberdade, dada pelo meu passado. E não consigo mais carregar este fardo e principalmente a culpa cravada no meu peito. Sou jovem, não mereço me martirizar por acontecimentos do passado. Fecho os olhos e inspiro aquele cheiro de maresia que tanto amo.

Resolvo sair dessa deprê.

Sigo para o quarto e entro no banheiro para pegar meu celular. Assim que ligo o aparelho, entra várias mensagens do Alex e mensagens informando que tenho ligações que foram para caixa postal. Decido não verificar nenhuma. Disco para Juliette e espero ela atender... Ela atende no terceiro toque.

Carla: Oi Ju, tudo bom?

Juliette: Oi amiga, tudo maravilhoso!

Carla: Já sei... Esteve acompanhada essa noite?

Juliette: Sim, amiga! Uma delicinha que conheci na boate — rimos juntas. — Amiga que furada que você me deixou ontem. Sacanagem! — ela fala me dando um sermão. Já até sei de quem está falando: Alex. — Amiga o Alex deu trabalho, depois que você saiu ele foi embora dirigindo. Fiquei muito puta com ele e preocupada pois ele estava "trêbado".

Carla: Desculpa Ju!

Juliette: Até tentei seduzi-lo para ver se ele caía na minha, mas NADA! Conversei e tentei compreendê-lo enquanto dizia que você era dele e tal... Blá... Blá... Blá. Amiga ele é um gato, mas, quando bebe é chato pra caralho. — Minha amiga não economiza palavrões, ela tem um bloco de notas cheio de palavrões que não dispensa em usá-los.

Carla: Ai Juliette, ele apareceu aqui... E... — Ela me corta falando:

Juliette: Ele disse que ama você. Fiquei com pena dele, mas o doido me dispensou e meteu o pé. Ainda bem que tinha um cara gostoso lá me dando maior mole. Não sou de açúcar né?! Precisava extravasar!

Carla: Juliette minha vida está uma confusão. O Alex está me enlouquecendo e o Arthur me levou hoje à beira do hospício.

Juliette: O QUÊ? — ela praticamente grita. Cheguei até afastar o telefone do ouvido. — Que Arthur é esse? O gatão com cara de macho do mau que malha na mesma academia que nós? Aquele que comeu cabelo? Amiga me abana, senão vou explodir!

Carla: Sim amiga. Ele mesmo — falo sem entusiasmo.

Juliette: Eita mulesta! Sinto cheiro de ovário explodindo... — Ela usa essa frase quando acha um homem muito, muito gato. Sorrio e balanço a cabeça, ela é doidinha mesmo. — Precisamos conversar mocinha. Você está no restaurante ou na caverna clean? — Ela se refere ao meu apartamento como caverna clean por ele ser claro demais.

Carla: Estou em casa.

Juliette: Daqui a pouco tô chegando aí mulher. E quero saber todos os detalhes... Ah! Quero ir à praia. Vai vestindo o biquíni. Carlinha... Isso é uma ordem.

Carla: Ok! — desligamos juntas. — Encerro a ligação e corro para um banho merecido.

Depois de tudo que aconteceu hoje, preciso tomar: O BANHO.

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