Capítulo 69 :

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Lorenzo

Ódio seria a palavra certa para dar nome ao que eu senti pela Carla Diaz. Senti muito ódio, tristeza, mágoa, rancor. Mas o tempo passa, ah... E como passa. O tempo passou e me esbofeteou, trouxe-me de volta à realidade, mas a minha realidade estava mais para pesadelo.

Minha esposa e meu filho de quatro anos sofreram um trágico acidente que exilou da minha vida o meu pequeno Lucas de apenas quatro anos, há exatos oito anos, nove meses e vinte e dois dias. Triste? Não... Trágico. Não consegui raciocinar, inegavelmente fui um egoísta. Deixei o transtorno e a raiva se apoderarem da minha razão. Fui um covarde em não reconhecer que a vida foi injusta e não a mulher que me fez um homem feliz um dia foi injusta.

Demorei muito para assumir que estive errado e fui um covarde, só me dei conta do que realmente fiz, quando a minha esposa assinou o divórcio e sumiu para sempre da minha vida. Ainda consigo escutá-la suplicando o meu amor, suplicando uma superação juntos, mas eu nesse momento era uma ilha, um egoísta. Eu a afastei, então eu, irei trazê-la de volta. Seja se passaram mais de sete anos desde que ela deixou a França e voltou para o Brasil. Quando ela partiu fiquei em estado de inércia, demorei a acreditar que tudo o que tínhamos foi destruído por um raio fodido, chamado de destino. Três anos a procura incansável cheguei a achar que ela havia sumido desse planeta, pois não a encontrava em lugar nenhum. A casa onde ela foi criada foi demolida e no local construído um grande Shopping Center. O bistrô de sua mãe não existia mais e ninguém da região ouviu falar nelas duas. A única pessoa mais próxima a ela que cheguei a conhecer foi uma amiga com cara de ninfomaníaca, Juliette Freire, filha de um empresário renomado do ramo de lojas de conveniência. Foi através dessa informação, que depois de três anos encontrei a Carla Diaz.

Contratei um novo investigador particular no Rio de Janeiro e lhe passei todas as informações que eu tinha e foi em menos de 48h que recebi seu retorno. Quando dei por mim, estava em frente a um luxuoso restaurante estilo parisiense, em um bairro nobre chamado Barra da Tijuca e de frente ao mar. Fiquei horas dentro de um carro de aplicativo olhando em direção a entrada, esperando ela aparecer. E quando meu coração distraiu a imagem de uma mulher exuberante em uma calça branca e uma blusa azul, invadiu meu campo de visão. Era ela... Mais linda do que nunca. Seus cabelos presos em uma trança típica dela, o seu caminhar exaltando o quadril curvilíneo perfeito. Que saudade dessa mulher! Não consegui chamá-la, não tive coragem. Bateu-me uma insegurança, minha consciência perguntou se eu lembrava a forma que a exilei da minha vida. Sim, lembro-me nitidamente, mas nesse momento não consigo pensar em nada. A única certeza que eu tenho é a que eu quero a minha mulher de volta.

Saí dali e fui direto para o hotel onde fiquei hospedado para tentar me recompor, infelizmente isso não aconteceu. Decidi ir até o restaurante para tentar vê-la novamente, mas não a encontrei. Nenhum de seus funcionários falava meu idioma e o meu português é pobre, foi difícil conseguir dialogar com eles, mas consegui entender quando uma senhorita extravagante disse que a Carla Diaz costuma ficar durante o dia no restaurante. Tudo ali lembrava ela, todos os detalhes até mesmo o menu. Pedi que preparassem uma feijoada para mim, apesar de saboroso o prato não tinha o mesmo toque que ela dava ao prepará-lo para mim em nossos finais de semanas. Não poderia mais ficar nem mais um dia no Brasil, então retornei à França para exigir meu ano sabático.

Aqui estou, segurando um papel que autoriza meu desligamento temporário, só falta o chefe de departamento assinar. "Departamento de Pesquisas – França". Leio antes de bater à porta do Dr. Michael François. Escuto sua voz dura autorizando a minha entrada.

Michael: Sim? — ele usa sua postura dura e fria de sempre.

Lorenzo: Bom dia Dr. François. Gostaria de conversar com o senhor.

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