Capítulo 102 :

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Alex: Sim.

Carla: Impossível! Eu posso afirmar que não tem como ser verdade — falo perplexa. — Então, você mentiu quando disse que me amava? — Não estou chateada, mas ele não deveria brincar com isso.

Alex: Não. Ao contrário, eu queria muito que nós dois déssemos certo. Eu ainda te amo, mas hoje eu compreendo que esse amor é diferente. Você foi à única mulher que me fez repensar em um futuro. Planejei nós dois juntos, casados, filhos e felizes para sempre — ele sorri ao falar, mas algumas lágrimas caem sobre o seu rosto de pele branca.

Carla: Ainda não entendi Alex. — Está tudo confuso na minha cabeça. Estou reorganizando as peças e tentando descobrir como eu não percebi isso antes. Convivemos por tanto tempo juntos.

Alex: Princesa, quando nos conhecemos eu já era gay. Falando a verdade, eu nasci assim.— Ele para e coça a cabeleira loira. — Você foi uma experiência incrível que eu pude viver. É muito complicado o que eu vou te falar — fitou meus olhos. — Você sabe como meus pais são religiosos e antiquados. Sou o único filho homem da família, fui criado para ser o machão da casa, mas eu segui outro trajeto.

Imagino o quanto está sendo difícil para ele assumir tudo isso para mim.

Alex: Não atendi às expectativas dos meus pais e nem das minhas quatro irmãs mais velhas. Eu precisava fazê-los acreditar novamente que eu era hétero. Eu não menti, mas de certa forma, você contribuiu para amenizar esse desprezo que eles sentiam por mim. — Faz silêncio e fecha os olhos, como se quisesse resgatar lembranças. — Dois anos antes de te conhecer, logo depois de concluir meu curso de Gastronomia, o qual todos, principalmente os meus pais, não aceitaram muito bem a minha escolha, resolvi conversar com toda a minha família sobre a minha opção sexual. Foi horrível, meu pai me expulsou de casa, minhas irmãs passaram a me ignorar e minha mãe não aceitou muito bem. Depois de passar por tanto desprezo e receber olhares humilhantes carregados de preconceitos, eu cansei e resolvi reverter à situação, estava decidido a tentar uma vida normal de um homem. — Ele para e respira fundo e conclui.

Alex: Quando eu te vi pela primeira vez, acredite, eu senti uma atração por você que nunca havia sentido antes por mulher nenhuma. Cheguei à conclusão que eu sentia sim atração por mulheres e, quando passamos a nos relacionar eu só confirmei isso. Você passou a ser o meu alicerce, o meu tudo. Carla, eu fiz de tudo, de tudo mesmo, para ter o seu amor. Eu juro, que se você correspondesse um terço do meu amor, eu seria o homem mais feliz do mundo. Mas não, isso nunca aconteceu. Esperei com paciência, aceitei as suas condições para ficarmos juntos, mesmo não concordando com nada — ele faz uma careta, parece que sente dor enquanto fala.

Carla: Alex... Você saía com várias mulheres. Lembro-me que até sentia um pouco de ciúmes. Lembra?

Alex: Não princesa, eu não estive com nenhuma outra mulher depois que te conheci. Eu inventava situações para você achar que eu me relacionava com outras mulheres. Queria apenas, fazer ciúmes, na esperança de fazer você se dar conta do quanto eu te amava e, também manter a minha reputação de "macho pegador". Eu sei que por diversas vezes fui estúpido, e sentia que você escapulia entre os meus dedos. Carlinha você era a minha única esperança para eu ser normal como qualquer outro homem. Eu contava os dias para estar ao seu lado, qualquer migalha que você me dava, eu conseguia me sentir mais homem. Entende? Eu queria mostrar para a minha família que eu mudei e, que eles poderiam me aceitar de volta.

Carla: Alex, você não tem que mudar por ninguém. Você anulou a sua alma quando decidiu mudar para ser aceito nessa sociedade impregnada de preconceito e hipocrisia. — Seus olhos entristeceram e de novo, novas lágrimas caíram. Limpei com os meus dedos. — Pode chorar. Desculpe por não ter te ajudado. Mesmo sabendo que você jamais seria feliz ao meu lado, eu tentaria te ajudar. — Nos abraçamos por um longo tempo. — Eu te amo. Por todos esses anos você se portou como um irmão que eu nunca tive. — Ele abre os olhos e fala:

Alex: Eu só queria ser normal.

Carla: Entendo — disse.

Alex: Carlinha... Todas as minhas atitudes foram apenas para me defender desse fato. Aquele dia na boate, eu te ofendi e fui agressivo por causa disso tudo. Eu estava fora do meu normal, o seu desprezo era sufocante para mim. Eu precisava fazê-la entender a minha necessidade, mas eu não conseguia. Eu não podia simplesmente chegar aqui e dizer para você: Oi Carla, eu sou gay e preciso me casar com você, para a minha família me respeitar e "eu" finalmente me aceitar.

Carla: Alex, ser homossexual, bissexual ou hétero, não contribui para a formação do caráter de uma pessoa. Põe isso dentro da sua cabeça. Você é uma pessoa maravilhosa. Honesto, inteligente, esforçado, amigo, conseguiu tudo sozinho, sem ajuda dos seus pais e irmãs. Acorda! Você está se autoflagelando, se escondendo atrás desse homem que eu vejo daqui de fora. Eu quero que seja o Alex que está aqui dentro — toco em seu peito. — Esse sim, é o verdadeiro.

Alex: É difícil para eu mesmo admitir isso. Vai contra tudo o que eu aprendi na igreja quando era uma criança. Às vezes eu me pergunto se realmente vou para o inferno, como todos da minha família me disseram quando resolvi contar para eles.

Carla: Acho que Deus não seria capaz de mandá-lo para o inferno por conta da sua condição sexual. Isso sim seria um absurdo! — sorrio.

Alex: Toda vez que vou à casa dos meus pais, escuto minha mãe dizer que ora a Deus, para eu me redimir e me curar dessa doença e, que eu estou sendo manipulado por um demônio. Isso é frustrante Carlinha!

Carla: Alex cada ser humano tem o direito de formar as opiniões que quiserem. Essa é a que os seus pais sustentam. Isso vem lá da base de educação que eles tiveram — ele concorda e eu continuo a falar.

Quem me vê de fora, consolando o meu amigo, não imagina o quanto sou vulnerável e desequilibrada.

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