Capítulo 181 :

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Xxx: Geralda, corre aqui! Olha só o filézinho que eu peguei no "Barra Music" — a recepcionista mostra o celular para a senhora que estava limpando o chão da recepção.

Encarei-a fixamente com a minha pior cara de mau. Filha da puta! Ao invés de ajudar, vem trabalhar para acabar de foder de vez com as expectativas das pessoas que estão em um momento delicado como este. Levantei decidido, ela vai dar o jeito dela, não quero saber, mas me informará o que estão fazendo com o Rodolffo.

Antes de eu chegar ao balcão, ela libera uma gargalhada estrondosa que ecoou em todo o salão. Como isso é permitido? Um hospital que recebe vítimas a cada trinta segundos e essa mulher fica nessa felicidade toda.

Arthur: Eu quero saber notícias sobre o Rodolffo Matthaus — ela me encarou e mordeu o lábio inferior, ofegante ainda recuperando-se dos risos incessantes.

Xxx: Eu já te disse que ainda não tenho notícias — enquanto falava, ela fingia estar mexendo no computador.

Arthur: Foda-se que você não tem notícias. Eu exijo pelo menos o mínimo de informação — olhei para a plaquinha pendurada na parede de frente e li em voz alta: — Recepção e Informações! A sua obrigação é saber de tudo.

Xxx: O senhor quer que eu invada o centro cirúrgico? Não, eu não farei isso. Então espere! Está achando que está em um hospital cinco estrelas? — Petulante e abusada!

Arthur: Eu não quero que invada, eu só preciso saber qual é o estado em que o meu primo se encontra. Só isso! — Elevei o meu tom de voz e todos que estavam aguardando nos observavam e cochichavam. — Ligue para o centro cirúrgico e pergunte sobre o paciente Rodolffo Matthaus. Com certeza, terá uma saleta e um telefone para os cirurgiões e sua equipe — disse com a voz alta e áspera.

Xxx: Não estou autorizada. Quando eles resolverem aparecer por aqui, o senhor saberá se o seu primo sobreviveu ou não — que mulherzinha intragável.

Arthur: Porra nenhuma que não está autorizada. Você está achando que pode nos tratar como se fôssemos miseráveis só por que estamos precisando dos serviços deste hospital? — Olho para as pessoas em torno de nós, que no mesmo momento me apoiaram com palavras e xingamentos direcionados a ela.

Xxx: Bom dia. Tem alguém responsável por Rodolffo Matthaus ? — escutei uma voz atrás de mim. Virei todo o meu corpo para olhar a pessoa que perguntava.

Arthur: Sou responsável por ele — respondi ao senhor vestido todo de branco, sua fisionomia demonstrava o quanto estava cansado.

Xxx: Jovem, venha comigo, por favor! Sou o cirurgião geral. Você é da família do rapaz... O Rodolffo?

Arthur: Sou primo e melhor amigo do paciente Rodolffo Matthaus. Qual é o real estado em que ele se encontra? — Minha pergunta saiu um pouco embaralhada, fiquei com medo de ouvir a resposta dele.

Xxx: Me acompanhe até aquela saleta, para conversarmos? — apontou para uma pequena sala ao lado da recepção. Caminhei seguindo-o, minhas pernas pareciam fraquejarem a cada passo. — Sente-se, por favor. Qual é o seu nome?

Os meus batimentos cardíacos estavam começando a descompensar, minhas mãos suavam frias e minhas pálpebras tremiam involuntariamente. Realmente essa vida é inconstante, eu estive com meu irmão ontem no final da tarde e hoje ele está em um hospital sabe-se lá como.

Arthur: Arthur Picoli — respondi.

Xxx: Francisco Jones, prazer — disse e me ofereceu a mão. Cumprimentamo-nos e ele continuou: — Arthur Picoli? — perguntou-me. — Não é um sobrenome muito comum aqui no Brasil.

Arthur: Sim — respondi.

Francisco: Você é cirurgião plástico, não é? Já ouvi falar sobre o seu trabalho e suas clínicas.

Arthur: Cirurgião geral e plástico — respondi.

Francisco: Bom, já que você é médico, conversaremos em nossa linguagem. O seu primo chegou ao hospital, com hipovolemia, TC (Traumatismo craniano) e fratura exposta do membro inferior direito. Ele teve duas paradas cardiorrespiratórias dentro da ambulância, mas os paramédicos conseguiram reanimá-lo.

Arthur: Doutor ele está vivo? — Minha pergunta saiu em tom de desespero. O meu amigo corre risco de vida.

Francisco: Dr. Arthur, como você já deve saber, ele ainda corre risco de vida, porém já realizamos todos os procedimentos necessários para diminuir os riscos e aumentar as chances para que ele se recupere. Estamos fazendo a nossa parte, agora dependemos de como ele reagirá. Ele perdeu muito sangue, a fratura foi extensa e foi necessário ser feito implantação de pinos e revascularização de veias e artérias. A lesão craniana foi moderada, mas foi preciso uma intervenção neurocirúrgica para diminuir a pressão causada pela lesão.

Arthur: Então o quadro dele é grave — afirmei para mim.

Francisco: Teremos que esperar a evolução do quadro dele. A princípio tudo indica que ele ficará bem, mas a vida é uma inconstante. Se você for religioso, peça a Deus para intervir a favor dele, ou se não, peça ao tempo que o ajude — "Inconstante" de novo essa palavra. — Ele está no Centro de Terapia Intensiva, talvez amanhã seja liberada a entrada apenas de um responsável para visitá-lo — aquiesci. — Quando ele estiver hemodinamicamente estável, se você achar necessário, poderá pedir a transferência dele para um hospital particular, mas no momento é impossível, e o melhor é mantê-lo aqui.

Arthur: Eu sei, mas agora não é isso que me preocupa. O que importa no momento é priorizar a estabilidade dele. Ele precisa reagir aos procedimentos — enquanto eu falava o médico me encarava nos olhos e prestava atenção em tudo o que eu dizia pacientemente.

Francisco: Bom, meu plantão acabou por hoje. Amanhã estarei aqui o dia inteiro, qualquer coisa pode me ligar. Apesar dos hospitais públicos não transparecerem uma boa impressão a sociedade, ele estará em boas mãos. Minha equipe é excelente, atendemos inúmeros casos parecidos ao dele. Os jovens acham que liberdade significa se atirar do primeiro penhasco. Por mais que o acidente tenha causado traumas graves, por incrível que pareça, os pertences dele ficaram intactos, peça à recepcionista que ela dirá como proceder para recuperá-los.

Arthur: Obrigado Dr. Francisco — levantei-me e apertei a mão dele. Ele me entregou um cartão de visita com seus números de telefones.

Francisco: Jovem, mantenha-se calmo e otimista — assenti balançando a cabeça e me retirei da sala.

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