Capítulo 88 :

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Carla: A porta da rua e serventia da casa — diz com sarcasmo.

Arthur: Deixa de ser intolerante Carla. Pode ter certeza que irei embora, mas eu só saio hoje daqui depois que você me explicar tudo sobre a sua vida. Eu disse tudo. — O silêncio se fez presente e minha angústia só aumentou quando ela me olhou com ódio, mas continuou calada. — Você não quer conversar, não é?

Carla: Não — deu de ombros.

Arthur: Tá bom. Deixa que eu começo a falar — digo determinado. Ela arregala seus olhos em desespero. — Odeio me meter na vida dos meus amigos, funcionários até mesmo da minha família. Mas você é minha namorada, eu preciso te decifrar com mais exatidão, ou essa ponte que fizemos entre nós dois, irá se romper. Adianto que se ela se romper será dolorido demais tanto para mim quanto para você. Então Carla, para isso não acontecer precisamos deixar alguns detalhes esclarecidos. OK?

Ela não respondeu e desviou seus olhos para as fotos de frente ao sofá. Fitou as fotos do garotinho, que acredito ser o filho que perdeu. Olhei dela para as fotos e continuei...

Arthur: Você é divorciada, teve um filho, porém já está morto. Você e o seu amigo Alex mantiveram um relacionamento por três anos e estiveram juntos de novo, mesmo depois de estarmos juntos.

Suas lágrimas caíam livremente, e seu corpo tremia a cada gemido. Minha vontade era de pegá-la e abraçá-la, mas meu ego está no controle. Esperei ela se acalmar pacientemente. Que pena! Deve ser maior barrar enterrar um filho, ainda mais uma criança.

Carla: Arthú me desculpe. Eu não omiti e nem muito menos menti para você sobre tudo isso. Eu só estava esperando nós dois termos mais confiança um no outro para poder contar tudo para você. — Deixei que ela continuasse. Decidi não questionar enquanto ela falava. — Quando fiz 18 anos, fui estudar Teatro na França. Mas minha carreira como atriz não deu certo, então imigrei para o curso de gastronomia, foi quando  conheci o meu ex-marido... Lorenzo é o nome dele.

O nome que ela chamou durante o sonho.

Carla: Nos casamos pouco tempo depois de nos conhecermos e logo depois de nos casarmos eu engravidei do Lucas. Aquele ali é o Lucas — ela aponta para as fotos. — Serei bastante realista e sincera — diz encarando os meus olhos. Prevejo que não irei gostar nadinha do que ela irá falar, mas prefiro saber logo de tudo de uma vez. — O Lucas nasceu, conciliei a maternidade e a vida a dois ao curso de gastronomia. Nós éramos felizes, fazíamos planos, nos respeitávamos, mas infelizmente o destino pregou-nos uma peça. Quando o meu anjinho,

A voz dela falhou e ela respirou mais ofegante,

Carla: Tinha apenas quatro aninhos, fui buscá-lo no colégio, era um dia nebuloso e chuvoso, nada fora do normal se tratando da região onde morava, na volta para a casa à chuva fina que caía se intensificou. Foi em questão de milésimos de segundos desviei a atenção da estrada para o retrovisor interno para observar o Lucas, quando retornei o olhar para frente, vinha um caminhão na contramão, a única reação que eu tive foi jogar o carro para o acostamento, mas a velocidade que estava fez com que capotássemos para a lateral, invadindo a pista contrária. Foi horrível! Eu saí ilesa, mas quando fui retirar o Lucas da cadeirinha, ele estava sangrando muito, pois sua cabeça foi arremessada várias vezes contra o encosto da cadeirinha e o vidro da janela ao seu lado estilhaçou todo em cima dele. Mas ele estava respirando quando o retirei — seu choro copioso rompe o ambiente causando-me arrepios. — Enquanto esperávamos o socorro chegar, ele abriu os olhinhos e se despediu para sempre de mim.

Que triste. Aproximei nossos corpos e a puxei pelos braços, coloquei-a em meu colo para tentar confortá-la.

Arthur: Meu amor, chore o quanto achar necessário, pode chorar. Estou aqui com você.

Carla: Ai, desculpe estou molhando a sua blusa.

Arthur: Não me importo com isso — falo baixo beijando o topo de sua cabeça.

Carla: Depois... Depois que ele... Morreu, o Lorenzo passou a me acusar de ter matado o nosso filho. Eu aceitei essa culpa, era o mínimo que podia fazer para amenizar a dor dele. Mas ele... Ele me expulsou de sua vida. Atirou-me em um abismo. Acabou comigo, entrei em depressão profunda. Mas... Mesmo depois de ele ter me excluído de uma maneira tão covarde e egoísta, mesmo depois disso, continuei amando-o com todas as minhas forças. Depois de um ano da morte do meu anjinho, o divórcio chegou, neguei em assinar, pois ainda eu tinha esperança dele se arrepender e me  pedir para voltar para nossa casa e para vida dele. Mas... Isso não aconteceu.

— Assinei o divórcio e voltei para o Brasil com o apoio da minha mãe. Refiz a minha vida, conheci o Alex, nos tornamos sócios e amantes por três anos, mas no início apenas a amizade prevalecia, por isso conseguia expor a minha vida a ele, depois de um tempo começamos a nos relacionar, sem compromisso. Desde o início chegamos a este acordo de não nos envolvermos sentimentalmente, mas o Alex levou para outro lado e esqueceu o nosso acordo e, infelizmente passou a me amar. Porém, o máximo que consegui sentir além do carinho e admiração, foi apenas o desejo que nos manteve todo esse tempo. E, desde que estamos juntos eu juro, nunca mais estive com ele. Dei a nossa história por encerrada.

Ela soltou um ar que parecia estar prendendo enquanto falava, e começou a passar os dedos entre suas ondas de cabelos longos. Estou aturdido com tanta informação, mas a que me chamou mais atenção foi à parte deste bundão do Lorenzo. Ela continuou amando-o mesmo depois de ter sofrido a decepção de ser largada por ele. Ela ainda sofre por ele ou pelo filho morto? Ela tremia entre lágrimas e suspiros.

Preciso acalmá-la.

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