Capítulo 44 :

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CARLA

Meu fiel escudeiro, o despertador de todas as manhãs toca ao pé do meu ouvido a música, Wake Me Up-Avicci. Apesar de estar acordada como um zumbi, o barulho me desperta ainda mais. Levanto da cama, espreguiço-me... Estou morta de cansada. Essa maratona de prazer me deixou acabada.

Não consegui dormi pensando em várias coisas e uma delas foi o Arthur que deixou sua marca no meu corpo. Impossível esquecer toda a maratona de sexo que tivemos, meus músculos doem, minha vagina está ardida, meus seios estão doloridos de tanto serem sugados, tenho quase certeza que foram mais de dez orgasmos.

Fui tão grossa com ele, depois do meu episódio de loucura, ainda não acredito que tive aquele sonho logo ao lado do Arthur. Não consegui agir naturalmente depois de tudo, fiquei com ódio de mim mesma, por não conseguir controlar esses sonhos que na verdade são lembranças. Que vergonha! Ninguém merece uma mulher que não tem controle sobre suas ações enquanto dorme. Uma louca que faz uso de antidepressivos, calmantes e terapias, para esquecer o passado.

Hummm... Pijama cheiroso, cheirinho do Arthur. Ai... Tudo dói, parece que fiz treinamento intensivo para participar de algum campeonato de fisiculturismo.

Sigo para minha cozinha, preparo o suco "detox de todos os dias", duas torradas com queijo branco. Sento-me no sofá da sala que é interligada à cozinha. Ligo a TV e coloco no noticiário. Faço meu desjejum com calma e assim que termino, vou cuidar das minhas orquídeas e da mini horta.

Carla: Olá princesas... Estão lindas! Ora, ora, temos mais duas flores novas.

Que lindas!

Enquanto converso com as minhas orquídeas rego todas com a água mineral. Minha mãe diz que sou louca por regá-las com água mineral, mas outro dia assisti no Discovery Channel que os minerais mantêm as flores por mais tempo. Como estão vivas e floridas até hoje, agradeço aos minerais. Despeço-me das plantas, depois de meditar olhando para o mar azul que insiste em me chamar para um diálogo.

Vou até minha suíte e escolho uma combinação moderna e confortável para um longo dia de trabalho. Mesmo não sendo mais necessário ficar na cozinha, pois temos os cozinheiros chefes e os auxiliares, gosto de participar das preparações. Nosso restaurante foi padronizado, qualquer preparação possui uma ficha de técnica padrão, isso vai do prato mais caro até a simples caipirinha. Sempre terão o mesmo sabor, a mesma textura, temperatura e características, independente de quem tenha preparado. Demorou um longo tempo para conseguirmos organizar desta forma, mas, hoje seguimos à risca este método. O Alex, empreendedor como sempre, pensa até em abrirmos dois novos restaurantes. Estou seriamente pensando neste assunto.

Termino meu banho, seco os cabelos e não sobra um um fio ondulado para contar história, faço uma make básica, pego minhas bolsas, isso inclui itens para depois que sair do restaurante e ir à academia. Odeio, mas, agora tenho motivos de sobra para não faltar um dia de treino. O Arthur!

Pensei em enviar uma mensagem agradecendo a maratona sexual e principalmente pedir desculpas pela maneira que o tratei depois da minha crise de loucura. Mas, logo desisti. O Arthur é um homem interessante, sua beleza é apenas um item. Ele... é... fantástico, carinhoso, educado... Tá chega! O homem é um Deus, puta de um gostoso na cama, sem contar o 4G e sua língua usurpadora e invasora. Agora imagine só, se um homem desses, vai querer saber de uma mulher problemática como euzinha? Nunca!

Entro no meu carro, fito-me no retrovisor interno.

Carla: Esse rostinho cansado foi por uma boa causa.

Passei a madrugada inteira repensando a minha vida, desde quando ainda eu era uma criança até hoje. Algumas lembranças óbvias me fizeram chorar e foi muito doloroso, mas, por outro lado, pela primeira vez em sete anos, consegui refletir sobre o meu futuro. Pensar sempre foi um hobby, gosto tanto de pensar, que minha mãe dizia que eu seria filósofa, historiadora ou antropóloga. E, realmente foram as minhas disciplinas preferidas no colégio e na universidade.

Não sei por que, mas meu subconsciente começou a cobrar planos para o futuro, parece que ele dominou minha cabeça e toda hora as mesmas perguntas pairam em minha mente com letras gigantescas: Solidão? Futuro? Novo? Recomeçar?

Então, tomei uma decisão, irei retornar às terapias com o Dr. João Pedro meu psiquiatra. Logo quando retornei ao Brasil, ajudou-me a aceitar a morte do Lucas, foi importante em minha recuperação, jamais aceitarei a morte dele, amor de mãe dura até mesmo depois do fim. Embora isso não mude, procurei adquirir controle sobre minhas emoções, principalmente na presença de outras pessoas. Não suporto quando me olham com pena.

Isso eu não aceito! Os únicos que sabem parte da minha história são o Alex e a Juliette, com exceção da minha mãe e o terapeuta. Eu e a Juliette somos amigas desde a adolescência, mesmo assim, qualquer assunto que se refira ao meu passado é estritamente proibido.

Estaciono meu carro em frente ao restaurante. Logo aparece Felipe, o rapaz que cuida dos carros que ficam estacionados na orla. Ele almoça todos os dias junto com os meus funcionários, fico muito feliz em poder proporcionar a ele um almoço digno. Pois ele mora em um abrigo e nem sempre consegue fazer as principais refeições. O Alex não concorda com isso, mas, eu fico com tanta pena das histórias dele que acabo cedendo.

Felipe: Bom dia Carlinha! — A maioria das pessoas me chamam de Carlinha inclusive ele.

Carla: Bom dia Felipe!

Felipe: Ontem à praia bombou de carros. Consegui uma boa grana e consegui alugar uma quitinete na Cidade de Deus — vejo a felicidade em seus olhos, isso é gratificante.

Carla: Que legal Felipe!

Felipe: Bom, agora sou um cidadão e tenho um endereço fixo — tive uma ideia! Espero que ele aceite. Nossa! Por que não havia pensado nisso antes?!

Carla: Felipe, depois do horário do almoço, mais ou menos às 16hs, peça para falar comigo. Certo?

Felipe: Claro! Um pedido da madame é uma ordem — sorrio para ele e digo:

Carla: Te espero — aceno e corro para a calçada.

Felipe é um rapaz de mais ou menos uns vinte e dois anos. Digamos que, talvez se ele tivesse condições de se cuidar mais, seria um rapaz pintoso. Ele tem olhos azuis e cabelos loiros que batem na altura do ombro. A Juliette sempre fala: — esse "flanelinha", apelido de guardador, aqui no Rio de Janeiro, — com um banho de loja e um dentista milagroso, iria ficar um pedaço de homem. Sempre que vem até meu restaurante ela perde horas batendo papo com ele. Tadinho do Felipe, ele fica todo encantado pela Juliette.

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