Capítulo 56 :

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Saio do quarto segurando a mala e minha bolsa, sigo pelo corredor enorme que separam os quartos da sala. Chego à sala e avisto o Arthur na cozinha, sentado em um banco alto, mexendo no seu tablet.

Nunca fui de ficar babando por um homem, sempre os admirei calada sem fazer alarde, mas a beleza do Arthur é diferente, sei lá. E... Nossa Senhora, hoje ele caprichou. Está vestindo jeans escuro, blusa branca e blazer fit azul marinho. Está um gato! Os genes dos pais são bastante específicos. Vai ser bonito assim... Lembrei até de uma citação só que um pouquinho modificada de Vinicius de Moraes: "Que me perdoe os feios, mas beleza é fundamental". E põe fundamental nisso.

Carla: Bom dia! — cumprimento uma senhora que está com um sorriso esplêndido no rosto e olhando atentamente na minha direção.

Xxx: Bom dia! — ela responde. — Meu dengo, ela é linda mesmo! — Minhas bochechas queimaram de vergonha.

Carla: Obrigada! — ela deu uma gargalhada tão gostosa de ouvir. Larguei a mala encostada na parede entre a sala e a cozinha e fui em direção a senhora simpática. — Prazer, Carla — ofereço minha mão, mas ela me puxa para um abraço caloroso, retribuí com o mesmo calor. Ela é uma senhora por volta dos seus cinquenta anos, fofinha, baixinha e negra. Linda!

Vivi: Sou a Vivi do Arthur e do Rodolffo. Qualquer coisa que precisar quando estiver aqui, pode falar comigo que eu faço. — Nossa que senhora amável e simpática.

Carla: Pode deixar não me esquecerei disso. Ah! O empadão estava divino. Parabéns!

Vivi: Que honra ouvir uma chefe de cozinha elogiar meu simples empadão de frango — pelo visto, o Arthur deu minha ficha completa para ela.

Carla: Que isso, você cozinha tão bem quanto eu. A única diferença é que eu sou curiosa e estou sempre desvendando segredos e estragando receitas épicas — sorrimos.

Vivi: Imagino as delícias que você faz em seu restaurante. O Arthur disse que é tudo delicioso — ela conversa tão descontraída e entusiasmada comigo, parece até que nos conhecemos há anos.

Carla: Arthur, quando você tiver um tempinho disponível, leva a Vivi lá no restaurante. Ou melhor, você está convidada quando quiser. É só anunciar seu nome e pedir para falar comigo. Será um prazer, recebê-la.

A mulher ficou toda animada. Disse que adoraria conhecer, mas só iria depois de dar uma arrumadinha nos cabelos. Sorrio ao ouvi-la falar com tanto entusiasmo e passando as mãos nos cabelos crespos presos por grampos espalhados.

Carla: Então vamos combinar uma coisa? Quando a senhora se sentir pronta para ir, é só pedir o Gato ali, — aponto para o Arthur, que sorri — para me ligar que irei reservar uma mesa especial para nós duas, pois irei acompanhá-la.

Arthur: Ué, me excluíram? Fiquem sabendo que irei junto — Arthur disse fingido estar chateado. Sorrimos.

Vivi: Ai menina... Pode deixar!

Arthur: Carla, sente-se aqui — Arthur puxa um banco alto que compõe o balcão frio de granito escuro. Tinha praticamente um banquete exposto sobre o balcão.

Carla: Demorei? — perguntei ao sentar-me ao seu lado.

Arthur: Um pouco. Mas valeu apena, você ficou ainda mais linda. — Me dá um beijo estalinho de surpresa.

Carla: Obrigada!

Enquanto comíamos, conversamos diversos assuntos ao mesmo tempo. Arthur falou um pouco sobre sua rotina entre administrar as duas clínicas e as cirurgias. Acabei explicando um pouco da minha atuação no restaurante, disse a maneira como funciona, o sistema que eu e o Alex implantamos para que tudo funcionasse no piloto automático, mesmo sem estarmos presentes.

Ele ficou impressionado com tudo que contei e a cada pergunta que me fazia ele me beijava com um selinho. Ele é uma pessoa incrivelmente educada e carinhosa, se não fossemos amantes, seriamos facilmente grandes amigos, independente do sexo ou não.

Arthur: Ah, por isso você vai trabalhar linda desse jeito. Seu restaurante é o queridinho dos artistas do momento e da geração teen da novelinha "Malhação" — sorriu ao falar.

Carla: Não exatamente por isso. Na verdade, o restaurante atende um público de classe alta aqui dessa região, entre Barra da Tijuca, Recreio e toda Zona Sul. Aí... Já viu né? Os clientes sempre pedem para conhecer os chefes e os donos. Então, procuro estar sempre apresentável para atendê-los. E, quase sempre sou fotografada por eles — sorrio.

Arthur: Não gostei.

Carla: Do que?

Arthur: Seus clientes pedindo para serem fotografados com você e esse tal Alex.

Carla: Faz parte! Devo uma boa parte do sucesso aos meus clientes. O fato de fotografarem os pratos e postarem nas redes sociais contribuiu para o sucesso, mesmo que indiretamente, meu restaurante ficou "famoso" por causa dos clientes. Relaxa! A próxima vez que você for, eu faço uma Selfie com você.

Arthur: Há... Há... Há! Mesmo assim, ainda não curti o fato de você posar para fotos. Imagino quantos babacas por aí tem sua foto no celular. Não gostei — ele fez biquinho, o biquinho mais lindo do mundo.

Carla: Bacana! O que é isso? Ciúmes? — Sua expressão muda, dando lugar à velha ruguinha entre as sobrancelhas. Então, ele acaba trocando o foco do assunto.

Arthur: Você não costuma ficar à noite no restaurante?

Carla: Às vezes, mas prefiro ficar durante o dia e me revezar com o Alex. Temos um ótimo gerente que dá conta de tudo, o Marcelo.

Arthur: Ah, sim... Aquele senhor que me atendeu da última vez que estive lá.

Carla: Ele mesmo! Um profissional dedicado. Devo respeito e admiração a ele.

Arthur: Legal! Também tenho um braço direito na clínica aqui da Barra. O nome dela é Sofia, uma menina esforçada e dedicada. A coitada tem jogo de cintura para me aturar — imagino o jogo de cintura dela, com esse gato dando ordem a ela o dia inteiro. Ah vá! — Agora tenho você para me aturar — sempre direto e intenso.

Inspirou meu cheiro esfregando o nariz em meu pescoço como se quisesse guardar tudo em seus pulmões. Senti todas as extremidades do meu corpo arrepiar e uma moleza dos meus membros se apossar. Sabe aquela sensação tipo um presságio? Assumo que estou totalmente envolvida com esse homem, ele é envolvente, quente, carinhoso. Mas, sinto que estamos indo rápido demais. Sei lá, posso até estar errada em levantar essa questão nos meus pensamentos mais pessimistas, mas eu tenho medo de me machucar, sofrer e de acreditar que tudo isso é real, que posso me permitir ser feliz e depois bem lá no fim me decepcionar e voltar à estaca zero. Isso seria o meu fim.

O Arthur é persuasivo e sua espontaneidade é uma de suas qualidades. Ele é decidido quando se trata do que realmente quer. Mesmo depois de presenciar um dos meus pesadelos e consequentemente minha atitude, mesmo depois de ver todas aquelas fotos em meu apartamento, em nenhum momento ele foi desagradável, não fez nenhuma pergunta em relação às fotos e fatos. Ainda não estou pronta para revelar todo o meu passado, minhas frustrações e toda essa merda que há anos me corrói aos poucos. Mas ele não é o tipo de homem que fica às escuras, logo, logo exigirá saber mais sobre minha vida. Ainda não questionou para me dar tempo de amadurecer as novidades.

Carla: Tchau Vivi, foi um prazer conhecê-la.

Vivi: Tchau, menina.

Arthur: Vivi — Arthur se despede dela dando um beijo em sua testa. Ela sorri alegremente. Peguei minha mala e bolsa, pronta para ir embora. — Deixe suas coisas aqui, Lua.

Carla: Arthú...

Arthur: Carla, Por favor! Eu quero que você durma aqui hoje também — o cenho franzido e a ruga entre as sobrancelhas estavam lá completando a cara de mau de novo.

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