Vou para a sala e ligo a televisão só para fazer-me companhia. Pego em cima da mesa de centro um dos livros que comprei, olho para o celular com a tela trincada e decido desligá-lo, deito no sofá e mergulho na leitura. Vou deixá-lo descansar, amanhã é outro dia e tenho certeza que ele estará mais indulgente. Acabo dormindo no sofá."Mamãe... Acorda mamãe! — Lucas? Olho para ele que está em pé ao meu lado no sofá com as mãozinhas em meu rosto.
Carla: Filho?
Lucas: Sou eu mamãe, seu anjinho — ele segura na minha mão e beija o meu rosto. Sinto as lágrimas saírem sem minha permissão.— Não chore mais mamãe — toca o meu rosto de novo com a mão pequena e macia. — Cadê o papai? — Estou dentro de um sonho?
Sento-me no sofá, olho ao meu redor e vejo que estou exatamente na sala do apartamento do Arthur e com a televisão ligada. Volto a olhá-lo ainda perdida no espaço e tempo.
Lucas: Cadê o meu papai, mamãe? Eu quero o meu papai... Cadê ele? — Ele começa a chorar. Eu quero gritar para ser ouvida pelo Arthur, mas o meu grito não sai. — Me leva no papai? Leva o Lucas no papai? — Senhor, se isso for um sonho me deixe acordar agora. —Você não me ama? Mamãe fala com o seu bebê — ele coça o olhinho, sobe no meu colo e me abraça. Não consigo abraçá-lo, mas sinto seu corpinho pequeno contra o meu. — O papai se perdeu, não sei onde ele está. Me leva nele?
Carla: Levo — consegui responder e o abracei. Parece ser tão real."
Arthur: Carla... Acorda! — Abro os olhos e vejo o Arthur olhando para mim um pouco assustado.
Era um sonho, parecia tão real. Sinto um aperto no peito e uma vontade de chorar incontrolável.
Arthur: Você estava tendo um pesadelo?
Carla: Não — respondo chorando.
Arthur: Você gritou o meu nome duas vezes.
Carla: Sonhei com o Lucas, ele estava bem aqui sentado no meu colo. Ele chorava perguntando pelo pai. Parecia tão real que, realmente pensei que fosse.
Arthur: Foi só um sonho. Vem, vamos para a nossa cama — seguro na sua mão e deixo-me ser conduzida.
Deitamos na cama e nos cobrimos. Arthur abraçou-me por trás, aconchegou a cabeça próxima aos meus cabelos ainda úmidos. Não consegui dormir, fiquei relembrando o sonho, era para eu estar me sentindo feliz pelo sonho ter parecido real, mas na verdade estou péssima.
Fiquei até um pouco amedrontada. A insônia apossou de mim, me nego a tomar qualquer medicamento, mesmo porque fiz ingestão de álcool. Suspiro ao lembrar novamente do meu sonho. Nunca dei muita importância para sonhos enigmáticos, mas posso jurar que o meu anjinho de alguma forma tentava me alertar sobre alguma coisa.
Arthur: Está acordada ainda? — sussurrou no meu pescoço. Fiz silêncio, não estou a fim de conversar sobre o sonho que tive.
Carla: Sim — murmurei baixinho. Ele suspirou e beijou a pele do meu pescoço. — A dor de cabeça passou? — perguntei.
Arthur: Um pouco.
Carla: Quer tomar algum comprimido? Eu posso pegar para você, se quiser.
Arthur: Antes de acordá-la, tomei um comprimido. Gostou de ter conhecido os meus pais?
Carla: Gostei muito, da sua mãe — ele dá uma gargalhada contida e curta.
Arthur: Ela adorou você. Que bom!
Carla: Arthur?
Arthur: Fala...
Carla: O seu pai... — o sinto enrijecer o peito colado nas minhas costas. — Ele tratou você com tanta polidez e arrogância. Eu não gostei dele. Pronto, falei! — sua respiração saía fazendo ruídos.
Arthur: Ele não gosta de mim. Na verdade, ele nunca gostou de mim. — Estranho.
Carla: Como assim, meu amor?
Arthur: Não sei te explicar. Ele sempre me tratou com indiferença, já até acostumei com isso. Tudo piorou quando decidi estudar medicina.
Carla: Era para ele ter orgulho — falei indignada.
Arthur: Quando passei no vestibular para cursar medicina, pensei que ele ficaria feliz, mas a única palavra que escutei sair da boca dele foi: A partir de hoje, se vire sozinho.
Carla: Nossa! Que rude. — Viro-me de frente para ele e beijo o seu rosto. — Amor, ele só pode ter problemas.
Arthur: Não, ele apenas não me ama como um pai deveria amar o seu filho. Ele gosta mais do Rodolffo que nem é filho dele, do que de mim.
Carla: Como você fez para chegar até aqui, digo, sem a ajuda financeira dele?
Arthur: Minha mãe... Quando ainda eu era um bebê, ela abriu uma caderneta de poupança para mim, onde ela depositou durante anos uma boa quantia em dinheiro. Foi com esse dinheiro que me mantive na faculdade e montei parte da minha clínica aqui da Barra.
Carla: Nossa, era uma grande quantia!
Arthur: Sim! Até hoje me pergunto como a mamãe conseguiu juntar toda aquela grana.
Carla: Desviando do seu pai — sorrio.
Arthur: É, pode ter sido.
Carla: Amor, você herdou esses olhos de quem? Algum avô? Avó?
Arthur: Não sei. Meus avós tanto maternos, quanto paternos tinham olhos negros. Nunca parei para pensar nisso, So eu e a Thais temos os olhos claros. — ele coça a sobrancelha e enruga testa.
Carla: O importante é que seus olhos são os mais bonitos que já vi em toda a minha vida — ele acaricia os meus cabelos e os afasta do meu rosto. — Você fica triste com essa rejeição do seu pai. Eu vi o quanto fica chateado.
Arthur: Hoje em dia, não fico muito abalado. Mas quando era criança e adolescente, sentia muito e ficava cabisbaixo. Eu tentava agradá-lo a todo o momento, até assumir um noivado por interesses dele, eu assumi. E foi a gota d'água, a partir daí prometi a mim mesmo que nunca mais deixaria ser influenciado pelos desejos dele.
Carla: Desculpe intrometer-me, mas eu estava com esse assunto entalado na garganta.
Arthur: Você é curiosa — suas mãos alisavam a minha cintura e quadril.
Carla: Sou observadora e curiosa! Seu pai está doente? Ele aparenta ser doente. Isso foi impossível não perceber — levantei as mãos para me defender. — Qualquer um percebe só de olhá-lo, que ele não está nada bem.
Arthur: Além de hipertensão e diabetes do tipo dois, há dois anos, foi diagnosticado com Alzheimer precoce.
Carla: Ele sofre de Alzheimer? Pensei em várias doenças, menos essa.
Arthur: Sim. Ele desanimou e acabou se entregando a doença.
Carla: Então ele não lembrará que me conheceu? — perguntei.
Arthur: Não é bem assim... Por enquanto esses episódios de esquecimento e confusão mental estão controlados, mas as alterações visuais e a capacidade de completar tarefas que antes eram comuns impossibilitaram a rotina dele — a mudança de humor conta? Não custa nada perguntar.
Carla: E o mau humor dele, faz parte da imensa lista de sintomas? — perguntei com curiosidade. Realmente estou interessada em saber.
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Minha Tentação 🎯
FanficSinopse: Carla Diaz é uma mulher linda e Apaixonada por sua profissão. Quem a ver por fora não imagina como seu coração está despedaçado. Foi abandonada pelo seu único e grande amor e carrega o fardo de um passado que a escraviza na escuridão. Apó...