Capítulo 22 :

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Rodolffo e eu moramos próximos, então tenho certeza que em menos de dez minutos ele tocará a campainha. E, foi assim como imaginei...

A campainha toca insistentemente, pois ele é ansioso demais e prefere me irritar pressionando o interruptor da campainha até eu abrir. Sigo até a porta, giro a maçaneta e abro. Ele invade meu apartamento e me cumprimenta com um empurrão no ombro.

Rodolffo: E aí? Tranquilo?

Arthur: Tudo certo! — Respondo. Ele vai em direção a sala e se joga no sofá, e fala:

Rodolffo: Tô morto! Passei a madrugada inteira trabalhando em dois corpinhos exigentes, preciso dormir um pouco — diz sorrindo com a cara de cínico que é marca registrada dele. — Mano fui para o céu e voltei, as mulheres eram insaciáveis e me fizeram de canudo, sugaram todas minhas reserva de energia.

Arthur: Fala sério! Livra-me de ouvir isso Cara.

Rodolffo: Estou mortooooooo! — Ele berra alto, igual um louco.

Arthur: E por que não dorme na sua casa? — falo para ele se tocar que ele tem casa. Ele fecha os olhos e fala:

Rodolffo: Não. Preciso conversar com você uma parada muito séria — seu sarcasmo muda e dá lugar a um tom de preocupação.

Arthur: O que aconteceu? — pergunto preocupado.

Rodolffo: Antes de começar a falar, preciso de uma cerveja. Tem?

Arthur: Tem. Pega lá no refrigerador.

Rodolffo: Pega lá cara. Aproveita e traz para você também. Pois o assunto irá render e você vai precisar relaxar — ele é folgado, não muda nunca.

Rodolffo e eu, somos grandes amigos,  além de amigos, somos como irmãos. Apesar da diferença de um ano de idade entre nós dois, e personalidades totalmente distintas, aproveitamos juntos nossa infância e adolescência. Na verdade aproveitamos até hoje! Ele tem essa maneira muito doida de encarar a vida, mas é um homem do bem. Há pouco tempo atrás, decidiu morar sozinho, no início ele ficou empolgado em poder ter sua privacidade sem ter que dar satisfações a ninguém. Sei que esse "ninguém" me inclui também.

Não demorou muito para transformar seu apartamento em uma espécie de abatedouro. As festinhas estão cada vez mais ousadas e frequentes. Suas preferências são um pouco peculiares e modernas demais, fora isso ele é comum como qualquer outra pessoa.

Somente nós dois, sabemos tudo que ele enfrentou e superou para conseguir estar exatamente como hoje. Ele já esteve no fundo do poço. Há exatos três anos atrás, ele ficou vinte dias sumidos, eu e seus pais ficamos desesperados. No início achávamos que ele poderia ter sido sequestrado, mas os dias foram passando e não tínhamos nenhuma pista do seu paradeiro. Procuramos em todos os lugares possíveis, fiquei tão desnorteado e abalado com toda a situação que cheguei a achar que ele estivesse morto. Quando completara exatos vinte dias do seu desaparecimento, recebi a ligação de um homem, dizendo que estava com ele dentro de uma favela. Na mesma hora senti um peso se esvair do meu peito na esperança de encontrá-lo com vida.

O homem disse que o Rodolffo pediu para que eu fosse buscá-lo sozinho e não falasse com ninguém sobre isso. Fiquei desconfiado, mas, era a única maneira de reencontrar meu melhor amigo, o irmão que não tive. Então, marquei com o tal homem em um lugar estratégico para nós dois, pois tanto ele quanto eu estávamos atentos a real situação.

Assim que cheguei ao local exato, fui golpeado com a cena deplorável que se encontrava meu irmão. Ele não me olhava nos olhos, estava sujo, barbudo, parecia um mendigo. Fiquei chocado e ao mesmo tempo com raiva de vê-lo naquele estado, o tempo todo ele manteve a cabeça baixa, enquanto o homem que na verdade era um senhor de idade, explicava como o encontrou.

Ele disse que o Rodolffo estava vagando na favela por dias, drogado e fora de si, à única coisa que ele conseguia lembrar era meu nome e o número do meu celular. Quando saímos daquele lugar, levei-o direto para a clínica de reabilitação de um amigo psiquiatra. Foram três meses de reabilitação e desintoxicação, quando o tratamento chegou ao fim e o psiquiatra decidiu dar-lhe alta, o trouxe para minha casa. Desde então, ele morou comigo até decidir comprar seu próprio apartamento.

Tive que dizer aos seus pais que ele estava com uma namorada durante esses dias que ficou desaparecido, e os três meses em que ficou internado, fiz com que acreditassem que ele estivesse em Londres fazendo um curso. Foi difícil ter que mentir para eles, principalmente para sua mãe, mas, não tive outra opção a não ser mentir.

Quem o vê hoje, jamais acreditaria nessa história. Logo depois do tratamento ele assumiu a presidência da empresa da sua família, que tem sociedade com a minha famili, tornando-se um excelente CEO. E nas horas vagas ele se arisca em cantar. E embora ele tenha feito toda essa burrada e loucura com a sua própria vida consigo sentir orgulho desse Cara.

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