Capítulo 194 :

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CARLA

Depois da tempestade, surge um sol brilhante que com a sua magnitude resplandecente, expulsa as nuvens escuras, dando lugar a um céu azul reluzente. Descrevi exatamente como estivemos há alguns dias. Foi angustiante acompanhar de perto o desespero retraído e oculto do Arthur, e a luta pela vida do Rodolffo. A cada respiração ruidosa, e pedidos em silêncio que ele fazia, meu coração resfolegava de dor. Não suporto vê-lo sofrer. Mas, no momento estamos naquela parte onde o sol derrete as nuvens e abre espaço para o azul do céu. Rodolffo está de volta, digo, literalmente de volta!

Desde que recebeu a alta hospitalar, ele está sob os nossos cuidados. Eu, Arthur, Beatriz e Vivi, estamos o ajudando a retomar a vida e conquistar novamente a independência dele. Falando assim parece difícil, mas não é. Rodolffo é forte e esbanja determinação. Fico impressionada com a dedicação dele às sessões de fisioterapia e exercícios físicos. Quem o vê hoje, não acreditaria que ele esteve preso a uma cama hospitalar entre a vida e a morte. Agradeço a Deus pelo renascimento dele, que voltou mais determinado e com um pequeno resquício de maturidade. Eu disse um pequeno resquício.

Hoje completa nove anos que enterrei o meu filho, Lucas Diaz Berluscon. Ainda não chorei, parece até um pouco estranho, mas eu não estou triste por isso. Não, eu não me conformei por tê-lo perdido, mas estou começando a aceitar a condição de que à hora dele foi aquela. Deus quem decidiu que ele deveria partir, então, que assim seja a sua vontade. Eu poderia ir até a França para deixar flores sobre o seu túmulo, mas eu fiz uma promessa a minha mãe: a promessa de não retornar mais àquele lugar.

Farei o que tenho feito durante esses anos, apenas recordarei os nossos momentos juntos através de algumas fotos que ainda guardo. Pego a caixa onde guardo algumas fotografias dele, deito de bruços em minha cama e começo a sequência de lembranças. Espalho as fotos sobre a cama e começo a olhá-las uma por uma.

Pode parecer torturante ficar se martirizando desse jeito, mas não é, sinto-me próxima a ele de certa forma. Toco o seu rostinho através da foto onde ele sorria alegremente vestido de Homem-Aranha.

Carla: Deus, como eu gostaria de tocar esse rostinho e inspirar o cheirinho dele de novo. Meu amorzinho, você terá dois irmãozinhos. E um dia todos nós iremos nos encontrar em algum lugar além do horizonte e encantador. Lembra daquela música que a mamãe cantava, e você não sabia se sorria ou chorava? Então, agora eu canto sempre para os seus irmãos que estão crescendo aqui na barriga da mamãe.

Acariciando o meu ventre e segurando a foto, eu cantei baixinho para os meus três filhos.

"Eu queria o tempo parar, de novo lhe fazer ninar. Crescer e mudar, não dá para evitar,
É o caminho que Deus lhe traçou.
Brinquedos, gibis, violão, espalhados por todo lugar.
Um dia a poeira eu irei tirar, no silêncio de não te encontrar.
Vou guardá-lo em meu coração, as lembranças jamais mudarão.
Pois quando partir e saudades sentir, estará sempre em meu coração"
Carla: Você estará para sempre em meu coração, anjinho. — Adormeci entre as fotos e lembranças.

Acordei sobressaltada, Vivi estava batendo na porta do quarto. Olhei ao meu redor procurando pelas fotos que eu havia espalhado sobre a cama, mas não as encontrei. Levantei da cama e abri a porta.

Carla: Oi Vivi — disse com a voz ainda rouca por causa do sono.

Vivi: Carla, o Arthur pediu para acordá-la para tomar o remédio para enjoo.

Carla: Eu já tomei — eu falei esfregando os dedos sobre os meus olhos.

Vivi: Então, vou avisá-lo — ela sorriu. — Ele está com o Rodolffo e alguns homens estranhos no segundo andar da cobertura.

Carla: Eu não sabia que ele já havia chegado da clínica. E o Rodolffo conseguiu subir sozinho a escada?

Vivi: Aquele menino é porreta! Subiu a escada com a ajuda das muletas e do Arthur.

Carla: Porreta e explorador de idosas e grávidas — digo a Vivi sobre o abuso do Rodolffo.

Vivi: Ao contrário do Arthur, ele é mimado. Sempre foi assim, quer tudo na mão — Vivi disse sorrindo.

Carla: Acredita que ele me envia mensagens toda hora dando-me ordens? "Carla traz água, Carla tô com fome, Carla quero suco, Carla vem me ajudar a tomar banho" — digo sorrindo. — É um filho da mãe!

Vivi: Acredito! — gargalhamos. — Ele e Sofia se acertaram?

Carla: Isso é uma longa história. O Rodolffo está muito inseguro em relação à aparência. Moleque narcisista!

Vivi: Ele sempre foi vaidoso — ainda sorrindo Vivi diz.

Carla: Ele ainda não sabe, mas a Sofia dentro de alguns dias viajará para outro estado. Ela irá fazer umas provas relacionas ao trabalho. E, se ela se der bem nessa, não voltará tão cedo — Vivi põe a mão sobre a boca e arregala os olhos.

Vivi: Não! O meu Denguinho vai sofrer quando ela se for.

Carla: Ah, isso eu já sei. Ele é teimoso demais. Ele disse que está esperando os cabelos crescer e encher mais, pois está parecendo uma experiência saída de um laboratório por causa da cicatriz na cabeça. Eu acho que ele está mais doido do que antes, só pode ser por conta da batida na cabeça.

Eu e Vivi caminhamos até a sala principal. Cheirinho de casa limpa, da maneira que eu gosto.

Vivi: Quer que eu prepare um lanche para você? — Vivi perguntou apontando para a cozinha.

Carla: Não, obrigada. Estou sem fome minha "véia".

Vivi: Carla você não comeu praticamente nada. Você emagreceu muito, desde que ficou grávida.

Carla: Comi sim, você que não viu. E... Vai pegar no pé também? Daqui a pouco vou ter que remar de tanto que vocês me obrigam a comer. Vou explodir igual a um balão de ar.

Deixei a Vivi na sala e subi a escada até a parte externa da cobertura.Antes mesmo de terminar os degraus, consegui avistar o Arthur, Rodolffo e mais dois homens que eu não conhecia, sentados em torno da mesa redonda que fica ao lado da piscina e das espreguiçadeiras. Eles pareciam estar conversando sobre algo importante, subi mais um degrau e pude ouvir perfeitamente quando o Arthur disse com a voz carregada de ódio:

Arthur: Se não foi a Rafaela, só pode ter sido aquele filho da puta do Lorenzo. E, se foi ele, eu mato aquele desgraçado — parei e encostei-me no corrimão.

Não foi o Lorenzo! Ele precisa tirar o foco de cima dele.

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