Capítulo 144 :

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Arthur: Sim, conta e muito! Alguns portadores de Alzheimer desenvolvem mudanças de personalidade, humor, alguns até acabam se afastando dos familiares e amigos.

Carla: Entendi. Isso explica o mau humor dele. Tenho pena da sua mãe, ela é jovem e bonita. — Pobre coitada ter que aturar um homem ignorante e que futuramente estará completamente tomado pela demência.

Arthur: Eu também tenho. Mas é na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Lembra? — passou a perna direita sobre as minhas pernas.

Carla: Lembro. Na saúde e na doença — repito as suas palavras.

Ele fechou os olhos, passaram longos minutos, acho que ele dormiu. Fico olhando para o seu rosto e acabo acariciando. Ele abriu os olhos e sorriu.

Arthur: Cochilei... Seu cheiro é um calmante para mim — sua voz rouca e sonolenta invade o nosso espaço. Beijei a ponta do nariz dele. Amo esse nariz dele.

Carla: Ainda está chateado comigo, por causa da ligação e mensagens do Lorenzo?

Arthur: Eu só não entendo por que mentiu.

Carla: Não queria estragar a nossa noite, só isso. Eu queria entender o que aconteceu para que você mudasse completamente comigo durante o jantar da sua mãe. Você quer me contar ou vamos ficar nessa?

Arthur: Vou ser claro e direto. O Lorenzo subiu até o seu apartamento, no mesmo dia em que brigamos.

Carla: Não! De onde tirou isso?

Arthur: Carla... Explique então, como o Lorenzo conseguiu subir até o seu apartamento e deixar aquelas fotos e carta?

Carla: Eu não sei como, mas eu nem estava lá.

Arthur: Carla, na quinta-feira, depois que brigamos e a deixei sozinha. Pedi ao Severino que não autorizasse a entrada do Alex e Lorenzo para ir até o seu apartamento. Pedi a ele que nem interfonasse para anunciá-los. Ele concordou e disse que avisaria aos outros porteiros, mas você suspendeu a ordem que eu deixei.

Carla: Eu apenas disse a ele para deixar o Alex subir — disse.

Arthur: Ontem quando estivemos em seu apartamento, interfonei para a portaria para falar com o Severino, mas ele estava de folga. Deixei o meu número e pedi para que ele me ligasse. Hoje durante a festa ele me ligou, fiz algumas perguntas a ele, pois queria saber como o Lorenzo conseguiu subir para deixar aquelas fotos e cartas em seu apartamento, mas ele disse que você o autorizou e deu livre acesso a ele para entrar em seu condomínio e, que no dia em que brigamos ele subiu com a sua autorização.

Carla: Não estou entendendo, o Severino porteiro do meu prédio, não faz à mínima ideia de quem seja o Lorenzo. Como afirmou para você que ele esteve em meu apartamento? E eu o autorizei a subir?

Arthur: Estranho isso, não? — perguntou desconfiado.

Carla: Arthur, você não tem nem o direito de acreditar nessa loucura. Dormimos eu e Juliette e, em nenhum momento interfonaram anunciando o Lorenzo. O único que esteve em meu apartamento foi o Alex — falei indignada com toda essa loucura. — Arthur, espero que não acredite nisso — fecha os olhos de novo e bufa.

Arthur: Eu também achei tudo estranho, mas fiquei um pouco mexido, até porque no dia que soquei a cara daquele otário, você o defendeu — olho para ele incrédula, mas decido calar-me. — Carla... Eu não vejo a hora de tudo isso ser resolvido. Rafaela e Lorenzo estão me desgastando. Esse cara não te deixa em paz, até quando isso vai durar?

Carla: Eu também estou desgastada, imagine a minha cabeça? Não seja egoísta. Eu tenho uma louca me enviando vídeos pornográficos e ameaçando o meu bem-estar e, ainda por cima um ex-marido decidido a me desestabilizar emocionalmente — fecho os olhos e respiro. — Arthur eu preciso procurar o Lorenzo. Você querendo ou não, eu vou procurá-lo e pôr um fim nessa história.

Arthur: Sinto muito, mas não vou permitir que você faça isso.

Carla: Sinto muito? Sinto muito, você Arthur! A única responsável por dar um basta nisso sou eu.

Arthur: Não, você não vai encontrar esse cara — levantou da cama passando por cima de mim e saiu do quarto. Levantei-me e fui atrás dele.

Carla: Arthur... Você prefere viver do jeito que estamos, do que tentarmos resolver?

Arthur: Eu não quero que você o encontre. Ele vai beijar você. Ele te ama! Será que você não entendeu isso? Ele te ama e quer ficar com você de qualquer maneira — grita do meio da sala.

Carla: Entendo isso... Mas eu só quero o seu amor — me aproximo dele e o abraço, mas ele me afasta e vai para a cozinha. Meu Deus! — Eu não quero o seu desprezo — falo obrigando ele a me abraçar.

Arthur: Então faça o que estou pedindo. Fique longe dele — ele fala olhando diretamente nos meus olhos. Desvencilha-se do meu abraço e abre a geladeira ignorando-me.

Carla: Desisto, vou dormir — olho para ele uma última vez antes de seguir para o quarto.

Meu Deus, esse homem bravo e de boxer preta é uma combinação perfeita. Meu corpo pediu para eu agarrá-lo, mas minha mente pediu para eu dar um espaço até ele ficar mais passível. Rendo-me, vou tentar dormir! Olho para o relógio pendurado na parede da cozinha, passa das 02h da manhã. O melhor a fazer é voltar para o quarto e tentar dormir. Não vamos ganhar nada se ficarmos nesse jogo de cão e gato. Até por que essa briga é só minha.

Acordei atrasada. O Arthur havia saído, pois ele tem três cirurgias marcadas, uma delas pela manhã. Quando saí do quarto e passei pela sala, Vivi fez uma festa quando me viu. Ela disse que saiu de casa decidida a dar umas boas lições ao Arthur, caso não me encontrasse no apartamento. Porém, assim que ela chegou e viu a jarra onde estava o suco de maracujá vazia sobre a pia da cozinha, se alegrou ao concluir que eu estava de volta.

Quando mostrei a minha mão direita a ela, fui surpreendida com um abraço e um pedido. Pediu-me para eu cuidar e amar o dengo dela. Fiquei emocionada com suas palavras, pois é exatamente o que eu pretendo fazer pelo resto de minha vida. Despedi da Vivi, depois de ser obrigada a comer várias torradas com queijo minas e beber dois copos cheios de suco de maracujá, saí rumo a minha rotina.

Antes fui até o meu condomínio buscar o meu carro, afinal não posso ficar dependendo do Arthur e muito menos de Uber para me locomover.

Ao passar pela cancela com o meu carro, encontrei o Severino o porteiro que eu achava ser gente boa. Ledo engano, fofoqueiro da pior espécie. Não resisti e exigi explicação em relação à história que ele havia contado para o Arthur. Explicou que o porteiro que o substituiu a noite, disse a ele que eu suspendi a ordem do Arthur para não interfonarem e nem autorizarem a entrada de Lorenzo e Alex. E, que depois do Alex deixar o condomínio, um homem moreno e estrangeiro, foi autorizado por mim a subir e ter livre acesso ao condomínio. Ou seja, ele contou ao Arthur, o que ouviu do porteiro que o substituiu, que certamente foi subornado pelo Lorenzo.

Proibi a entrada de Lorenzo e disse, que se isso voltar a acontecer, levarei toda essa história até a administração do condomínio. Ele se desculpou e devolveu a chave que havia deixado com ele, quando ofereceu para molhar as minhas orquídeas, já que as levei para a cobertura do Arthur, não vejo necessidade dele ficar com a chave do meu apartamento.

Enfim, cheguei à conclusão que algumas pessoas realmente conseguem nos trair apenas por uma nota de dez reais ou até mesmo por uma lata de Coca-Cola. Deprimente!

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