Capítulo 41 :

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Bônus+

Quero dormir também. Peguei o controle que estava em sua mão e desliguei a TV. Fechei os olhos, mas, meus pensamentos me levaram diretamente para Lorenzo. Não sei o porquê, mas, o Arthur me fez pensar nele, mais do que eu gostaria. Tentei desviar as lembranças e foquei no rostinho que não sai da minha memória.

Lucas. Lindo da mamãe... Lembrei o dia que ele ganhou sua primeira bicicleta, fez uma festa, ficou tão feliz que não parava de agradecer a mim e ao pai. Não consigo fechar meus olhos e não lembrar-me dos dois, é natural, eles ainda estão presentes em minha vida, não consigo esquecê-los, isso é torturante. Meus olhos começaram a pesar, relaxei e adormeci.

"Sete Anos Atrás...

Estou deitada em torno dos brinquedos, fotos, roupas, tudo que me aproxima dele. Depois que Lucas morreu, eu e Lorenzo não nos tocamos e nem conversamos mais, nem uma palavra de conforto, nada. Não somos mais o casal de antes. Agora, vivemos separados, não dormimos mais no mesmo quarto e raramente nos esbarramos pela casa. Ele mudou bastante comigo.

Admito que foi minha culpa. Mas, eu não tive outra saída, a não ser desviar do caminhão, que estava vindo em nossa direção. Fiz o que achei certo! Passaram-se dois meses que meu anjo se foi, não tenho vontade de fazer mais nada, não quero mais sobreviver, pois é isso que estou fazendo, sobrevivendo. Não quero viver, não quero sair, não quero receber visitas, nem mesmo minha mãe. Estou perdida em algum lugar, que não é em meu corpo.

Vago na minha escuridão a procura do meu anjo, não aceito isso. Como Deus permitiu que isso acontecesse com uma criança? Injusto. Isso que ele é. Um Deus injusto. Por que não me levou no lugar dele? Por quê? Emagreci uns quilos também, pelo fato de não estar me alimentando diariamente. Na verdade nem sinto vontade de comer ou beber água. Não sei como ainda tenho forças para levantar da cama para ao menos tomar um banho.

Já passam da meia-noite, e nem sinal de meu sono chegar. Estou deitada no chão do quarto do meu anjo, quando ouço um barulho vindo da sala. Algo parecia ter se quebrado. Saí correndo em direção a sala. Chegando, me deparo com uma cena que destruiu ainda mais meu coração. Lorenzo... Tinha quebrado o único porta retratos da família completa que restou, depois de ter destruído os outros. Parecia estar embriagado, com os olhos vermelhos, revelando todo seu ódio por mim. Estava sentado, entre uma parede e o aparador onde mantínhamos as fotos, se balançando e falando algo, que não conseguia entender. Cheguei perto dele, me abaixei a sua frente e tentei acalmá-lo. Acariciei seus cabelos negros, senti uma saudade de quando éramos unidos e felizes... Faria de tudo para deixá-lo feliz novamente.

Carla: O que aconteceu meu amor? Lorenzo, você está bem? — toquei em seu braço, e na mesma hora, fui empurrada brutalmente por ele, fazendo-me cair no chão.

Lorenzo: Não... Não encoste-se a mim! Sai da minha casa. Desapareça. Não quero mais ter que olhar na sua cara. Sua assassina! — Se levantou e me pegou pelo braço, praticamente me arrastando até a porta.

Carla: Me solte Lorenzo! Solte-me! Você está me machucando — não aguentei e deixei as lágrimas caírem sobre meu rosto, molhando parte de minha blusa.

Lorenzo: Você vai sair dessa casa agora! Não fica mais nem um minuto dentro dessa casa! Você matou meu filho! E nunca vou te perdoar por isso! Você é uma assassina! — abriu a porta e me jogou para fora de casa, gritando, me ofendendo. — Eu não quero te ver nunca mais! Some da minha vida! Você é uma desgraçada!

Carla: Lorenzo, eu não tenho para onde ir a essa hora. Deixe-me ficar apenas essa noite. Você não vai me ver saindo amanhã. Não faz isso comigo meu amor, eu preciso de você. Vamos passar por isso tudo juntos, como sempre fomos. Escuta-me, por favor, Lorenzo! Eu não conseguirei seguir sem você. Eu preciso de você! Por favor, me escuta — implorei. — Lorenzo, eu te amo! Não faz isso comigo. Vamos superar isso tudo, vamos tentar ao menos refazer nossas vidas. Deixe-me ficar, por favor — suplico.

Lorenzo: Eu não posso amar a mulher que matou meu filho. Não mais. Eu não te amo mais Carla — olhou bem nos meus olhos, e continuou: — Faça como eu, arranque esse amor do seu peito. Esquece que um dia me conheceu. Eu tenho NOJO de você, não aguento mais chegar aqui e te encontrar com essa cara de coitada. EU NÃO TE AMO MAIS! — gritou descontrolado, acordando os vizinhos da vila onde morávamos.

Carla: Você prometeu que me amaria enquanto existissem estrelas no céu, ou até mais se pudesse. E agora? Vai me expulsar da sua vida? Mentiroso! Você jurou me amar e me fazer feliz eternamente — gritei descontrolada.

Lorenzo: Eu... Eu menti, foi isso. Eu menti... Espere aqui fora. Vou juntar suas coisas — bateu a porta na minha cara. Parecia que eu estava em outra dimensão, não acreditava no que estava acontecendo.

Não demorou muito. Ele voltou com uma mala enorme, com parte das minhas roupas dentro. Pegou a mala e jogou-a em minha direção, fazendo-a cair em cima dos meus pés, que agora latejavam pela pancada.

Lorenzo: Aqui estão as suas roupas, documentos, tudo. Tem o dinheiro que precisa para passar a noite em um hotel. Mas, aqui Carla, aqui você não entra mais! — entrou e fechou a porta.

Fiquei ali, morta, como um inseto esmagado. Estou me sentindo um lixo, pois tinha acabado de perder o único amor que ainda me restava."

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