Capítulo duzentos e dez.

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Second season:two hundred and ten
Gustavo! ★
{Washington D.C., Olympia}
Narrado por Tainá Costa

O silêncio da noite era quase acolhedor enquanto eu me esgueirava para dentro de casa, tentando ao máximo não fazer barulho. Cada passo cuidadoso parecia ser uma batalha para evitar que o chão rangisse sob meus pés. Estava exausta, e tudo o que queria era me jogar na cama e esquecer o peso das últimas horas.

— Bom dia, maninha! — A voz familiar de Gu estourou no ar, fazendo meu coração saltar no peito. Dei um pulo para trás, surpresa.

— Gustavo! — Respirei fundo, tentando controlar os batimentos acelerados.

— Sabia que já são 02h30? — Ele disse, com um sorriso travesso.

— É claro que eu sabia! — Respondi bufando, tentando parecer indiferente, mesmo sentindo o sangue ainda correr rápido nas veias. — Por que acha que estou entrando assim, silenciosamente?

— Chama isso de silencioso? — Ele ergueu uma sobrancelha. — Estava gritando até agora.

— O importante é que a Maitê não está aqui. Se estivesse, ela me mataria. — Resmunguei, aliviada por pelo menos não ter que lidar com ela naquele momento. Maitê era praticamente a chefe da casa. Cuidava de tudo e, às vezes, parecia mais mãe do que meus pais juntos.

— É, ela não está. Mas... papai e mamãe chegaram de viagem. — Ele falou casualmente, como se não fosse nada importante, mas o impacto das palavras me atingiu em cheio.

— O quê? — Parei no meio da escada, sentindo uma onda de pânico. — Eles não estavam na Inglaterra?

— Estavam, — ele repetiu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Chegaram ontem à noite.

— Ótimo, isso era tudo o que eu precisava... — murmurei, levando a mão à testa em frustração. Isso complicava tudo. Estava tentando me manter discreta, mas com eles em casa seria impossível.

Antes que Gu pudesse dizer mais alguma coisa, decidi mudar o foco.

— E a Lara? — Perguntei, tentando soar despreocupada, mas com a mente já se agitando.

— Ela chegou e ja saiu. Vai viajar. — Ele deu de ombros.

Revirei os olhos, prestes a subir as escadas, mas não consegui segurar o comentário que escapou.

— Você devia disfarçar melhor que está apaixonado por ela.

— Eu não estou apaixonado pela Lara! — Gu rebateu com indignação.

— Vou fingir que acredito. — Debochei, virando as costas, mas o sorriso no meu rosto era inevitável.

— Você devia tomar mais cuidado ao sair à noite. — Ele gritou quando já estava na metade da escada.

— Vai dormir, Gustavo! — Respondi de volta, correndo até meu quarto.

Ao fechar a porta atrás de mim, me joguei no chão, chutando os saltos para dentro do closet, sem me importar com a bagunça. Me olhei no espelho por um momento, o reflexo mostrando mais cansaço do que eu gostaria de admitir. O vento gelado que entrava pela janela aberta fez meu corpo inteiro se arrepiar, então rapidamente fui até o closet, me despindo das roupas da noite.

Peguei o moletom verde que Lara havia deixado em minha casa semanas atrás e o vesti, sentindo o tecido macio contra minha pele. Ele ainda carregava o cheiro dela — doce e aconchegante, como chocolate quente e algo mais que não conseguia identificar, mas que sempre me trazia conforto. Coloquei um par de meias e me joguei na cama, abraçando um dos travesseiros como se ele pudesse afastar o turbilhão de pensamentos na minha cabeça.

A culpa apertava meu peito. Lara estava envolvida nisso tudo por minha causa, e o peso disso era quase insuportável. Se algo acontecesse a ela, eu nunca me perdoaria. Eu precisava parar de mentir. Precisava tirá-la dessa antes que fosse tarde demais.

Os pensamentos se misturavam enquanto a voz de Gu ecoava em minha cabeça, como uma memória indesejada: "São negócios, Tainá. Isso é por nós. Ela é apenas uma peça nesse jogo. Não pode criar laços e amizade por ela."

Fechei os olhos com força, tentando afastar o conflito interno. Eu sabia o que estava fazendo, sabia no que havia me envolvido, mas Lara... ela não merecia isso. Ela era mais do que uma peça no meu tabuleiro. Ela era diferente. Especial.

Enterrei o rosto no travesseiro, abafando um grito de frustração. O perfume de Lara invadiu minhas narinas mais uma vez, o cheiro doce misturado à leveza de algo familiar e íntimo. Suspirei, tentando deixar o aroma me acalmar. Minhas mãos apertaram o tecido do moletom enquanto me aninhava sob as cobertas, sentindo a exaustão finalmente tomar conta de mim. Aos poucos, o sono veio, mas a inquietação não se foi.

Ela continuava lá.

case thirty nine:season twoOnde histórias criam vida. Descubra agora