Capítulo duzentos e noventa e um.

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Second season:two hundred and ninety-one
Você devia perguntar pra ele ★
{Tacoma, Washington}
<Bárbara Sevilla Narrando>

Lara me avistou de longe e acenou animadamente. Respondi o gesto com um aceno sutil, e ela veio na minha direção com aquele sorriso que parecia nunca sair do rosto. Algo naquela garota me intrigava. Parecia que nada no mundo poderia abalar seu ânimo. A noite fria de outono já tinha caído, o vento gélido soprava sem pressa, mas, pelo menos dessa vez, não parecia que ia chover.

— Oi! — Lara cumprimentou, ainda radiante, e eu dei um sorriso de canto, como sempre. — Desculpa te chamar de última hora.

— Tá tudo bem. Eu nunca tenho nada pra fazer mesmo. — Cruzei os braços enquanto começávamos a andar lado a lado.

— Ah, eu também não. Pelo menos não desde que voltei pra Washington. — Ela suspirou, mas ainda assim mantinha o tom leve.

— Como tá sendo sua volta? — perguntei, enquanto olhava pra ela, tentando decifrar algo além daquele sorriso permanente.

— Emocionante. — A resposta veio acompanhada de um olhar pensativo, quase nostálgico. — E você? Como você tá? — Lara perguntou com uma suavidade que não era comum nas nossas conversas.

— Já tive dias melhores — resmunguei. — E você?

— Tô na mesma. Na verdade… — ela hesitou por um segundo, como se estivesse escolhendo as palavras certas.

— Você tá encrencada — completei sua frase, sabendo exatamente para onde ela estava indo.

— É, acho que desde que saí de casa. — Ela riu de leve, mas seus olhos diziam outra coisa. — Mas sim, eu me meti numa pequena confusão. — Ela enfatizou o "pequena" de uma forma que fez parecer ainda mais suspeito.

Eu ri levemente, balançando a cabeça.

— Pequena?

— Tá bom, uma enorme confusão. Você não faz ideia — admitiu, jogando os braços no ar.

— Se for do mercenário, eu já fiquei sabendo. — Balancei a cabeça, e ela franziu o cenho, visivelmente surpresa.

— O Victor te disse?! — perguntou, a voz subindo de tom.

— Ele deve ter comentado hoje de manhã… — Omiti a parte de que ele estava emocionalmente desgastado, quase chorando. O jeito que a Lara parecia aérea e despreocupada indicava que aquilo só pioraria a situação.

— O que ele te disse? — Ela ficou curiosa, parando por um momento para me encarar. Mexi no cabelo, tentando fugir da pergunta.

— Você devia perguntar pra ele.

— Ah, tá. Ele disse que vocês brigaram. — Ela comentou casualmente, como se fosse algo trivial.

— Ele disse, é? — murmurei, soltando um suspiro carregado de sarcasmo.

Lara abriu a boca, como se fosse responder, mas rapidamente fechou de novo, balançando a cabeça.

— Você devia perguntar pra ele — repetiu minha frase anterior, e eu olhei pra ela, confusa com a troca de papéis.

— Mudando de assunto! Como você sabe, eu vim pra Washington porque irritar um mercenário parece ser meu passatempo preferido. Mas você não sabe que o mercenário foi enviado pela máfia. — Ela soltou a bomba com uma naturalidade inquietante.

— Pera aí, a máfia tá atrás de você?! Você não era tipo a chefe deles? — Perguntei, incrédula.

— Eu não sei! Esse é o problema. — Ela parecia finalmente perder a postura despreocupada, e sua voz tremeu um pouco. — Eu realmente irritei o mercenário, mas ele não fazia ideia de quem eu era. A máfia me entregou e colocou minha cabeça a prêmio. Não é só o mercenário que quer me matar agora. — Ela explicou, a tensão se acumulando em suas palavras. — E olha, tem como piorar... talvez, só talvez, seja o Club...

— A maior máfia do país? — murmurei, assimilando a gravidade da situação. — É, eu imaginei. Algo do tipo estava nas informações do seu caso.

— É. — Ela suspirou, exausta.

— Isso é pior do que eu pensava. — Murmurei, mais para mim do que para ela, e Lara soltou um som frustrado.

— Sem julgamentos! — Ela pediu, e eu lancei um olhar meio sarcástico e preocupado ao mesmo tempo. Ela continuou. — E é por isso que preciso da sua ajuda.

— Prossiga. — Gesticulei para que ela continuasse, e Lara passou as mãos no rosto, como se tentasse reunir coragem.

— Eu preciso sair da máfia, mas eles nunca vão me deixar sair por vontade própria. — Ela começou, agora falando mais devagar, como se ponderasse cada palavra. — E eu não posso deixar minha melhor amiga convivendo com essa gente. Se a gente conseguir provas que incriminem eles, pode ser um começo.

— Você vai contar a história toda ou vou ter que adivinhar? — Ironizei, levantando uma sobrancelha.

— Eu não entrei na máfia porque quis. E muito menos sumi porque me deu vontade. Eu fui... chantagiada. — Ela finalmente confessou, sua voz quebrando um pouco enquanto cobria o rosto com as mãos.

— Isso faz mais sentido agora. — Respondi a mim mesma, processando as informações. — Mas não é qualquer coisa você me pedir pra reunir provas contra a maior máfia americana. Esses caras estão no poder há décadas. Se ninguém conseguiu derrubá-los até agora, talvez sejam maiores que a gente. — Era uma verdade amarga que eu odiava admitir, mas não havia como negar.

— Eu sei, mas comigo por dentro, a gente pode ter uma chance. Vale a pena tentar, não vale? — Lara parecia mais determinada, mas eu podia ver a incerteza em seus olhos.

— Não sei, Cooper... — murmurei, sem conseguir esconder a preocupação.

A verdade é que o medo estava presente. Medo do que eles eram capazes de fazer. Eu sabia que me envolver nisso significava mergulhar em algo muito maior do que eu estava preparada para enfrentar. Mas desde que entrei para o FBI, três anos atrás, fugir nunca foi uma opção.

— Por favor. Eu não posso pedir ajuda do Victor. Se ele se envolver, tudo vai recair sobre ele, e todo mundo já sabe que ele é do FBI. Mas ninguém sabe que eu conheço você. — Lara implorou, sua voz vulnerável, quase desesperada.

Olhei para ela por um momento, avaliando a situação, antes de finalmente responder.

— Tudo bem, eu te ajudo. — Concordei, sem pensar duas vezes, e Lara arregalou os olhos, surpresa.

— Espera, sério?

— Claro. Por que não? — Dei de ombros, tentando parecer despreocupada, mas ela percebeu o peso da minha decisão. O sorriso de alívio e gratidão que ela me deu foi genuíno, e eu sorri de volta, um sorriso raro, mas sincero.

case thirty nine:season twoOnde histórias criam vida. Descubra agora