Capítulo trezentos e oito.

492 48 20
                                    

Second season:three hundred and eigth
Você minimizando muito as coisas ★
{Tacoma, Washington}
<Bárbara Sevilla narrando>

Havíamos acabado de chegar no meu apartamento, e Gaby estava mais animada do que nunca. O frio cortante de Tacoma, que marcava cinco graus com chances de neve, parecia deixá-la em êxtase. Enquanto eu me despedia de duas blusas, ficando apenas com meu vestido de lã branco de mangas longas, ela olhava para o ambiente como se estivesse dentro de um castelo. Era estranho e adorável ver como essa garota se empolgava com qualquer coisa.

— Seu apartamento é meio escuro — ela comentou, olhando ao redor. Quando me mudei para cá, logo após chegar de Seattle em setembro, havia decidido que queria um lugar que refletisse minha personalidade. O resultado? Noventa por cento da decoração era em tons de cinza e preto.

— É, eu gosto assim — respondi, colocando as mãos na cintura e analisando a decoração que havia feito com tanto cuidado. Gaby se jogou no meu sofá como se fosse um lugar mágico.

— Qual vai ser a primeira coisa que a gente vai fazer? — Ela balançava as pernas ansiosa, sua energia vibrante preenchendo o espaço.

— Não sei. O que você quer fazer? — perguntei, passando a mão pelo cabelo enquanto me olhava no espelho.

— Quero conhecer seus amigos!

Um peso se instalou em meu peito. — Eu não acho que eu seja a pessoa que eles mais querem ver agora — engoli em seco, tentando disfarçar a insegurança. Gaby analisou minha expressão e deu um sorrisinho, como se tentasse me encorajar. Eu revirei os olhos. — Gaby, isso não é um filme americano em que a mocinha volta e é recebida de braços abertos como se nada tivesse acontecido.

— Deixa eu sonhar — ela bufou, frustrada. — Por que alguém iria te odiar? Você é toda fofa, simpática, estilosa, educada, linda...

É verdade, eu sou. Gaby me conheceu assim, como a garota mais simpática de Miami. Mas mal sabia ela que havia uma outra Bárbara escondida sob essa superfície. Imaginar sua reação ao descobrir minha verdadeira identidade me deixava inquieta.

— No que você está pensando? — Gaby questionou, deitando a cabeça de lado, sua curiosidade claramente aguçada. Balancei a cabeça negativamente.

— Tudo bem, mas você vai me deixar conhecer seus amigos? — insistiu, sua expressão pedindo uma resposta positiva.

— Eu não sei. Mas amanhã vou ver eles. — respondi, decidida. Seu semblante imediatamente se desmanchou.

— Por que amanhã?

— Porque eu vou trabalhar amanhã. Minhas férias acabaram.

— Sério? Com o que você trabalha? — a pergunta dela era inocente, mas me fez hesitar.

— Coisas do cotidiano — respondi rapidamente, uma tentativa de desviar o assunto. Não era que eu não confiasse na Gaby, mas se ela soubesse que sou agente do FBI, toda a conversa poderia se transformar em algo muito maior do que eu desejava.

— A gente pode ir à cafeteria vintage? — ela perguntou, com um sorriso esperançoso.

— Não.

— Por que não?

— Se você quer dar uma volta pela cidade, tudo bem. Mas a gente não vai passar pelo sul da cidade, especialmente pela cafeteria.

— Nossa, o que tem lá? Parece uma cafeteria tão linda. — Ela agarrou uma almofada, evidentemente intrigada.

— O problema não é esse, Gabrielly.

— Então temos um problema? Ele tem nome e sobrenome? — Ela sorriu maliciosamente, e eu balancei a cabeça, resignada.

— A Carol e a Milena moram perto da cafeteria, e o Mob está a apenas cinco minutos de lá. Eu não quero esbarrar neles por acaso antes de resolver as coisas — expliquei, e ela revirou os olhos, ciente de que eu estava sendo cautelosa. — E também tem o Victor, que mora na rua de trás da cafeteria.

— Ra! Então o nome dele é Victor? — Ela gesticulou entusiasmada, e eu arqueei as sobrancelhas, surpresa com sua dedução. — Eu sabia que você tinha uma paixonite!

— Eu não disse nada!

— Sua expressão entrega tudo, Babs. Seus olhos têm um brilho diferente quando você fala dele.

— Porra, Gaby, isso não é um filme! Não viaja! — murmurei, sentindo a pressão subir. O olhar dela, no entanto, estava carregado de certeza.

— Tá, talvez eu tenha tido algo com ele — admiti, sem querer dar muitos detalhes.

— Algo? Você tá minimizando muito as coisas.

— Talvez não tenha sido algo tão grandioso assim.

Era uma mentira. A verdade era que Tacoma estava trazendo à tona a antiga Bárbara, aquela que eu pensava ter deixado para trás.

— Sabe, eu acho que a gente devia ir à cafeteria vintage — sugeriu Gaby, com um brilho travesso nos olhos.

— Cala a boca, Gabrielly! — murmurei, dirigindo-me ao meu quarto, mas não pude deixar de ouvir sua risada leve e contagiante atrás de mim.

O dia prometia ser mais do que eu havia planejado, e a presença de Gaby parecia uma mistura de cura e confusão. O frio de Tacoma não era nada comparado ao calor das memórias e emoções que começavam a surgir. Eu apenas esperava que tudo o que estava por vir não me pegasse de surpresa.

case thirty nine:season twoOnde histórias criam vida. Descubra agora