Capítulo trezentos e cinquenta e quatro.

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Second season:three hundred and fifty-four
Nossos corpos se dão bem, nossa mente não ★
{Tacoma, Washington}
<Marcos Diaz narrando>

Fui até a cozinha pegar algo para comer. Hoje era um dos dias mais frios do ano, e o aquecedor estava ligado no máximo. Enquanto isso, Victor estava mergulhado em um vídeo-game, e eu, entediado, o observei por um momento.

— Só uma pergunta rápida: por que você está na minha casa? — perguntei, sem desviar o olhar da tela.

— Porque na sua casa tem vídeo-game — respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Olhei para ele com um olhar de advertência, e ele rapidamente ficou sério. — Eu briguei com a minha irmã. Estou tentando evitar mais uma discussão.

— E isso significa que você vai se instalar aqui? Minha casa não é um consultório de psicólogo, viu? Olha, vou cobrar pela terapia! — avisei, e ele revirou os olhos sabendo que eu tava brincando, então me sentei ao seu lado.

— É só uma briga sobre uma festa e tal... — ele desviou o olhar, e a curiosidade começou a me incomodar. Pausando o jogo, continuei.

— Uma briga sobre festa? Como assim?

— Descobri que ela veio pra Tacoma para ir a uma festa.

— E isso seria motivo de briga? — perguntei, confuso. Ele parecia hesitar, guardando um segredo sobre a irmã. — Está tudo bem?

— Está, só que... é complicado.

— Não precisa me contar se não quiser, mas se cuida, tá? Eu me preocupo com você, embora não pareça. — Falei, e Victor assentiu. Apesar de todas as zoações e implicâncias, ele sempre foi meu melhor amigo. Despausou o jogo, e então voltei ao assunto. —  Falando em festa, fiquei sabendo de umas fofocas sobre você, parceiro.

— Eu? O que foi? — Victor disse, agora com um tom mais leve.

— A Thaiga comentou que você sumiu durante a festa de ontem.

— A Bia falou o quê? — Victor olhou para a tela, ignorando o que eu disse. — Eu não sumi na festa.

— Sumiu sim. Com a Bárbara. Ela disse que você puxou a Babi e depois desapareceram. — Argumentei, cruzando os braços. Victor deu de ombros.

— Você devia arranjar um hobby em vez de ficar fofocando.

— Não deveria. Olha só, não mude de assunto. Te conheço há três anos, não adianta mentir pra mim.

— Tá. O que você quer saber? — Ele suspirou, cedendo à pressão.

— Se você e a Bárbara se resolveram.

— A gente ficou...

— Já imaginava. Um mês longe um do outro, vocês devem estar cheios de tesão acumulado. — Falei, fazendo Victor rir. Depois, fiquei sério novamente. — Você sabe que não foi isso que perguntei.

— Não.

— Não?

— Estamos na mesma.

— Então vocês brigam e "resolvem" os problemas ficando? — fiz aspas com as mãos, ironizando.

— Você não disse que sua casa não era um consultório de psicólogo? — Ele mudou de assunto mais uma vez.

— Victor... — apertei o olhar, e ele finalmente pausou o jogo, largando o controle.

— Nossos corpos se dão bem, nossa mente não. — A tristeza em seu olhar era palpável, e percebi o quanto aquela conversa o afetava.

— O que aconteceu?

— Fui perguntar por que ela sumiu, e ela disse que precisava de um tempo. Aí eu falei que sentia saudades dela, e ela comentou que eu não parecia já alfinetando. Eu disse que isso não significava que não era mais apaixonado por ela e que eu só tava chateado.

— E o que ela respondeu?

— Que estamos “kits”. Ou seja, que ela também é apaixonada por mim. — Ele disse, e eu arregalei os olhos.

— A Sevilla admitiu isso? Em voz alta? E sóbria? — Perguntei, ainda surpreso. A gente nunca via a Babi demonstrar sentimentos, especialmente em relação a Victor, que sempre fora tão complicado.

— É, e depois saiu, sem me dar chance de responder. Eu me senti perdido, confuso. Se ela gosta de mim, por que age assim? — Victor questionou, e eu balancei a cabeça em compreensão.

— Por que não pergunta pra ela? Se vocês não se resolveram, converse. Manda uma mensagem.

— Tecnicamente, o que a gente tem pra resolver? — Ele rebateu cinicamente. — A gente se odiava, investigou um caso em Seattle, brigou, se beijou, transou, brigou de novo, fingiu que nada aconteceu, ficou junto, brigou de novo, eu disse que estava apaixonado por ela e depois ela sumiu do estado. É simples. Nada pra resolver. — Ele debochou.

— Você esqueceu da parte em que ela também está apaixonada por você. Eu sei que às vezes pode parecer que a Babi é um coração de pedra, mas ela também tem sentimentos. Já pensou como ela está lidando com tudo isso?

— Eu já tentei entender ela...

— Tentou mesmo? — Falei, e ele ficou em silêncio. — Tá. Mas depois não venha pedir conselho porque você está chorando pelos cantos querendo ficar com ela. — Murmurei, percebendo que sua expressão mudava.

— Eu vou mandar mensagem pra ela.

— Vê se vocês conversam como pessoas normais. Agora, você pode fazer o favor de me pagar. São cem dólares a consulta.

case thirty nine:season twoOnde histórias criam vida. Descubra agora