Capítulo 150

3.6K 188 19
                                    

R A F A E L G A R C I A

Cidade de Deus, Rio de Janeiro.

Não era pra nada disso ter acontecido, se eu tivesse confiado no Titto desde o início.

Não era pra nada disso ter acontecido, se eu não tivesse a deixado sozinha em momento algum.

Nosso bebê ainda estaria vivo, se ela não tivesse entrado na frente do tiro que era pra ter pego mim.

Tudo isso é culpa minha.

É minha culpa por ser burro demais a ponto de ter confiado em inimigo.

Minha culpa por ela ter sido sequestrada.

É minha culpa por ela ter sido baleada e ter entrado em coma.

Por minha culpa ela perdeu o fruto do nosso amor.

A minha dor, ela é resumida em apenas uma palavra.

Imensurável.

Se alguém me perguntar o que eu estou sentindo agora, eu não iria conseguir responder, somente sentir.

A dor da perda é enorme, mas é ainda mais doído quando você perde alguém que nem se quer chegou a conhecer.

Eu ia ser pai, mas não vou conhecer o rostinho do meu filho ou filha.

Porque eu o perdi.

Eu o perdi, sem ao menos saber se seria menino ou menina.

Eu perdi um filho.

E não vou ter o prazer de o ver crescer, de ensinar do que é certo e errado.

Não vou ter o prazer de me sentir uma criança novamente ao brincar com ele.

Não terei o prazer de sentir ciúme se fosse uma menina, ou de ensinar a como tratar uma mulher se fosse um menino.

Não vou ter nada disso, porque o perdemos.
E a dor da perda, me rasga o peito.

(...)

Entro em casa com lágrimas nos olhos, e me pego imaginando como seria se tivesse um pinguinho de gente correndo por aqui e a loira de cabelos em pé com medo da criança cair e se machucar.

Desabo, sabendo que isso não irá acontecer por agora.

Subo até o nosso quarto e posso sentir o cheiro da Solange assim que coloco os pés no mesmo.
Me sento na cama onde na maioria das vezes nos amamos loucamente.

Posso ver nitidamente ela saindo do banheiro enrolada na toalha, me dando o dedo do meio quando eu jogava alguma piada para cima dela.

Sorrio ao lembrar das inúmeras discussões bobas que tínhamos na sacada do quarto, que no final terminavam em sexo.

A última coisa que ela me disse foi que me amava, e eu sai de casa sem dizer o mesmo porque meu ego estava ferido.

Me arrependo amargamente por isso, se soubesse que aquela seria a nossa última conversa antes de tudo acontecer, eu teria feito diferente.

Eu deveria ter dito que a amava, mesmo depois da briga feia que tivemos, hoje eu me encontro arrependido por ter saído sem dizer nada.

Eu a amo, a amo mais que tudo.

Eu a amo, como nunca amei ninguém.

E última coisa que eu fiz antes dela ter sido sequestrada foi dar as costas para ela sem dizer que a amava também, e eu nem tive a oportunidade de me desculpar quando a encontrei já que em questão de segundos ela tomou a minha frente para levar o tiro que era pra ter pego em mim.

Sublime Amor [M] ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora