Capítulo 70- Na casa azul

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Nestha olhou bem para dentro da casa.

O piso de madeira acobreado era lustroso, em um amplo espaço, parecido com um loft. Havia uma lareira a esquerda, feita de pedra, bem como duas poltronas de frente uma para a outra e um luxuoso e espaçoso sofá escuro, feito para acomodar asas illyrianas.

Não havia quadros ou pinturas, nem nas paredes ou na mesinha de centro, mas a decoração minimalista de branco e azul-acinzentado era de muito bom gosto.

A cozinha era na direção na parede oposta a que estavam e era separada da sala por bancada.

Os armários eram embutidos nas paredes, brancos com azul, seguindo a parede direita onde a escada de madeira sumia para o segundo andar. Uma mesa de jantar redonda estava de frente para a cozinha e em direção a porta no outro extremo da sala, que parecia dar para um outro espaço. A luz entrava pelo espaço arejado, cheirando a lavanda, fazendo cortinas de sol por todo o lugar, inclusive aos seus lados, das janelas que davam para a rua.

Cassian a surpreendia a cada minuto que passava. Jamais o imaginaria em uma casa como aquela, tão comum. Jamais imaginaria que ele iria contra seus Grão-Senhores para defendê-la. Jamais pensaria que ele fosse o tipo de macho que gostasse de sossego. Que tivesse um sobrenome tão...diferente.

Congelada a porta, ela ficou.

— Você está bem? — perguntou ele.

Talvez estivesse boquiaberta e esquecido completamente de que nunca demonstrava emoção diante de Cassian. Mas estava cansada. Muito cansada.

E quando aqueles olhos amendoados a encararam, Nestha engoliu em seco e desviou, entrando na casa.

Cassian seguiu parado na porta, não parecendo ter a intensão de ficar.

— Vou indo. Trago algumas roupas pra você — prontificou-se, mas eles se encaravam de novo. E tudo sumia quando isso acontecia.

Não tinha muito certeza se era porque não queria pensar em Feyre, ou na quantidade de merdas que disse a irmã. Não tinha certeza se era porque não conseguiria suportar o próprio silêncio de sua mente, e o maldito ecoar de seu coração seco e duro. Entretanto, quando deu por si, estava segurando o punho de Cassian — que enrijeceu ao toque — e dizendo:

— Fique. — Não era um pedido, só que também não saiu com a segurança que planejava.

Odiava estar frágil.

Odiava não ter controle de suas emoções.

Precisava descansar.

Precisava de Cassian enchendo seus ouvidos de besteiras engraçadas com seu humor inabalável e altruísmo irritante.

Precisava dele, mesmo que ainda não pudesse admitir.

O vento da manhã entrou pela porta, fazendo com que o cheiro dele a invadisse, remexendo com o que havia de mais primitivo e sem controle dentro de si.

Cassian ergueu o canto da boca em um sorriso doce, não sarcástico.

— Tudo bem — a voz dele saiu meio fraca. Ele pigarreou. — Mas suas roupas...

— Depois — ela suspirou —, Cassian. Depois.

Ele assentiu, entrando e fechando a porta. Por mais fresco e iluminado que a casa soasse, de repente era como se a temperatura tivesse se elevado. Nestha voltou-se para escada, a fim de evitar que ele visse o rubor que queimava suas bochechas.

Apontando o dedo para a escada que fazia uma volta para a esquerda na metade, perguntou:

— O que tem lá em cima?

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora