Águas cristalinas

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Uma onda veio.

O macho dourado mergulhou nela, deliciando-se de seu oscilar e saindo do outro lado. Ele sacudiu a cabeça, em meio a água cristalina. O fato de que o mar tinha amanhecido claro e calmo no último dia deles naquele lugar, deixava um ar nostálgico e muito especial em cada experiência.

Mal se lembrava da última vez em que fizera isso. Tomar um banho de mar. Ir à praia apenas para aproveitar dela, da areia, do sol e da água, sem nenhum compromisso que não se divertir. Ele entrou em mais uma onda, a temperatura da água era tão agradável que quase parecia uma criança em sua primeira vez no mar. Sem nenhuma vontade de sair ou de ir embora.

Assim que as ondas se acalmaram um pouco, sentiu uma presença atrás dele. Alguém, por sinal, que o estava observando da areia segundos antes, completamente nu. Ele chegou por trás, envolvendo-o, as mãos passeando pelo abdômen...

— Espere até meu parceiro saber que está me agarrando desse jeito — sussurrou para o outro.

Agradeceu pela água fria, ou já estaria quase entrando em combustão ao simples toque. A figura beijou seu pescoço, com um riso rouco lhe cortando a garganta.

— Você parece mesmo uma criança — respondeu ele, com a voz grave.

O macho dourado se virou e passou os braços em volta do pescoço do outro.

— Pelas tetas da Mãe — debochou. — Pare de ler minha mente.

Um sorriso torto se formou naqueles lábios que tanto amava.

— Fenrys — disse ele, com falsa doçura.

— Azriel — imitou Fenrys, com a cabeça inclinada para o lado.

Os dois se impulsionaram para cima, a fim de pular a pequena marola que veio em sua direção.

— É divertido — argumentou Az, os olhos cor de amêndoa brilhando. — Estar dentro de sua cabeça é lindo.

E pode falar o quanto você é incrível estando dentro dela também, completou ele, mentalmente.

Fenrys ficou tenso. De felicidade e de desejo.

Desse modo eu jamais vou querer deixar este lugar, retrucou o Lobo Branco.

Az inclinou a cabeça e o deu um beijinho rápido. Somente aquilo era o suficiente para acender os dois como as luzes do Solstício de Inverno. Fenrys mal conseguia pensar na possibilidade de voltar ao mundo real no dia seguinte. De todos aqueles olhos, em cima de seu parceiro. Cada instinto gritou e ele conteve um arrepio de tensão.

— Você terá paciência comigo amanhã? — perguntou, com a voz baixa.

O parceiro suspirou, afagando suas costas, levando ondas de energia agradáveis por seu corpo.

— Só se você tiver comigo.

Os dois suspiraram. Estavam tentando não pensar nisso desde que o laço se solidificou.

— Se aquele reizinho te encarar, vou quebrar a cara dele — ameaçou Az, com determinação predatória.

Fenrys gargalhou.

— Quem? — O Lobo se fez de inocente. Az semicerrou os olhos. — Dorian? Ele está com Manon, Azriel.

Az o apertou contra si. A água ao redor ficou quente devido a temperatura deles que subia rapidamente.

— Ele te acha lindo — resmungou Az.

— Todos me acham lindo — retrucou o lobo. — Porque sou lindo. Embora eu ainda me pergunte porque você cismou com o Dorian. Ele nem gosta de machos.

O encantador de sombras ficou em silêncio. Não é como se ele tivesse um motivo plausível, porque não tinha. Eram apenas os instintos deles se aflorando. Como Fenrys se sentia em relação a Elain e a amizade com Az. Levaria tempo até que os dois controlassem os ímpetos de parceria. Quando eram dois machos a se tornarem parceiros, a tensão predatória era dobrada, pois os dois a sentiam, ao invés de apenas o macho em uma relação hétero. Mal queria saber como seria no dia seguinte, quando alguém olhasse para Az. Arrepiava-se só de pensar.

— Vamos apenas aproveitar nosso último dia — emendou, beijando os lábios salgados de Az. — Esquecer do resto.

— Até de Vaughan?

— Até de Vaughan. — Fenrys nem ligava mais, mesmo que não soubesse como seria encontrar o antigo amante.

Mas Az ligava, muito.

— Me deixa bater nele se aparecer por aqui? — Az parecia um cãozinho sem dono, ansioso.

Fenrys sorriu para o belo parceiro.

— Não, não deixo — respondeu. — E quer saber mais?

Az ergueu uma sobrancelha escura.

— Cuidado com a onda — avisou Fenrys, quando uma onda maior veio para cima deles.

Os dois foram arrastados pelas águas e seu impacto, até a margem. Fenrys não conseguia parar de rir quando cuspiu a água que tinha engolido e se deitou na areia, as ondas quebrando suavemente em seu corpo nu. Az estava ao seu lado, as asas inteiramente sujas de areia. O mestre-espião fez uma cara feia para isso, mas acabou rindo junto.

— Sabe que você quem vai limpar isso, não é? — disse Az, apontando para as asas.

Fenrys assentiu, tocando os dedos em uma delas, fazendo Az e seu membro estremecerem. Sem pedir permissão, ele avançou para cima do peito de seu parceiro, sentindo sua pele quente, seus músculos, sua rigidez. O sol batia naqueles lindos olhos, pele e sorriso.

— Com prazer — disse ele. — Mas, antes... — ele segurou o rosto do Az o deu um beijo de língua, bem demorado. — Vou sujá-las um pouco mais.

Az grunhiu em aprovação.

Os dois rolaram na areia, rindo, amando-se pelo resto da tarde. E não mais pensaram, em nenhum momento, sobre o dia seguinte e as surpresas que traria.

***

Bônus de hoje, Fenzriel lovers. Até segunda ;)

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora