Capítulo 72- O beijo do destino

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Um beijo.

Era celebração da vida, a propagação do amor. A certeza de que tudo e nada poderia ser selado através disso.

Era a construção sábia do futuro incerto. Era o momento de maior vulnerabilidade e também de força.

Em um beijo ganhava vida.

Em um beijo, também se consumiria.

***

Algumas horas antes...

O prazo estava em suas costas cansadas. Em menos de dois dias, constatariam se Bride era ou não a deusa misericordiosa. Contudo, perder era uma falha totalmente inadmissível agora. Vaughan passou dias e mais dias desejando encontrar o local correto.

Rezava a lenda que no Coração da floresta habitava o Espelho D'Água. Já tinham vasculhado cada maldito canto da floresta, o que o tinha levado a crer que o centro não era no centro. Era onde quisesse. O que fazia sentido. Era mais seguro desta forma.

Começaram a decida do imenso vale pela manhã e um pressentimento ligeiramente esperançoso passou pelo macho. Tinham de encontrar alguma coisa ali. Não havia outra opção, uma porta de volta. Nada.

Vaughan se esgueirou por entre as árvores na descida íngreme. A vegetação rasteira era densa ali, fora as raízes e troncos. Houve uma passada em falsa e no segundo seguinte, ele jogou os braços para cima, agarrando o galho firme de uma árvore e a usando como impulsionadora. Calculou o impulso e saltou para uma região lisa da decida. Os joelhos flexionaram, em uma aterrisagem perfeita. Atrás dele, ouviu um murmurinho abafado.

Lucien repetiu seus movimentos e saltou, pousando bem ao lado.

Os dois se ergueram juntos, a respiração pesada pela repentina aproximação.

Raios ultrapassavam as copas das árvores, regozijando os humores. A luz deixava o ruivo dos cabelos do macho a sua frente parecendo chamas líquidas. O olho avermelhado também ganhava um tom mais intenso. A cicatriz de Lucien, mais pálida do que seu belo tom de pele, se contraiu quando ele abriu um sorriso fraco, sem mostrar os dentes. Parecia claro que ele queria provocar.

— Essa foi a melhor forma de evitar um tombo épico.

Vaughan cerrou o olhar.

— E você deve saber muito sobre tombos épicos. — E se voltou para baixo, onde as pedras começavam a dificultar o caminho.

— Tenho algumas histórias engraçadas sobre isso.

— Suas? — quis saber, avançando pelo terreno irregular. Era complicado mesmo para instintos feéricos.

Lucien o acompanhava com facilidade.

— Não. De outras pessoas — respondeu ele. — Obviamente que conto as histórias sem citar nomes.

— Own — debochou Vaughan, na brincadeira. — Atencioso da sua parte. Uma pena que eu quisesse saber mais sobre suas histórias, entretanto.

Desde aquele dia no lago, as coisas entre os dois tinham se tornado mais tensa que o normal. Estranho.

Vaughan pulou de uma pedra, economizando mais passadas.

— E lá se vai o macaquinho de novo — comentou Lucien, descendo calmamente o caminho que ele tinha saltado.

O canto se sua boca estava erguida num meio sorriso.

Vaughan o devolveu com um gesto obsceno de dedo, o que o fez ganhar outro de volta. Lucien passou por ele, batendo em seu ombro, a eletricidade formigando sua pele.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora