Capítulo 76- Sob a Montanha

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Sob a Montanha.

Estavam de novo ali.

Feyre tomou um longo fôlego, mas aquelas cavernas escuras...aquele ar...

Era como se seus pulmões se recusassem a respirar tal ar envenenado de novo. Também era razão para que suas pernas estivessem tão enrijecidas, à medida que alcançavam as primeiras cavernas do palácio, que nem mesmo sabia como lidar caso acabasse na sala do trono.

Rhys estava sombriamente quieto. Seus olhos pareciam prometer morte lenta a quaisquer criaturas que ainda estivessem por baixo daquelas ruínas.

Estar de novo no último lugar em que pensou que voltaria era demais. Para ela — para Rhys, que estivera escravizado por 49 anos.

Involuntariamente, ao virarem uma esquina cavernosa, ela apertou a mão de Rhys.

Está tudo bem?, ela mandou o pensamento hesitante pela linha direta entre os dois.

Rhys apertou seus dedos, uma carícia envolvendo seus escudos de adamantina.

Tudo certo, respondeu Rhys, a mentira mais descarada que já ouvira dele nos últimos 3 anos.

Não precisamos ter vergonha por estar péssimos, você tem consciência disso, não é?, ela insistiu, na esperança de que o semblante frio e mortal deixasse Rhys.

Mas o macho apenas assentiu com o queixo, quase imperceptivelmente, antes de replicar: Você está bem, Feyre querida? Podemos abortar essa merda de missão no segundo em que você sentir uma dorzinha nos pés.

Ela soltou uma risada seca. Aquele era seu Rhys, pouco se fodendo para o que acontecia com ele, mas muito concentrado no que poderia acontecer a sua parceira. Sua igual.

Feyre pensou bem nas palavras que escolheria para aquela resposta. Seu peito doía em agonia irreparável. Em estar ali, se arriscando, mesmo enquanto Rhen crescia em seu ventre. Não arriscaria se não fosse estritamente necessário. Sob a Montanha não era um lugar onde desejaria ver algum membro de sua Corte se enfiando, pois seria um lembrete constante para eles dos anos que gostariam de esquecer. Rhys tinha ciência do mesmo quando ambos concordaram que deveriam ser eles a enfrentar os fantasmas daquele palácio sombrio. Ou do que sobrou dele após a demolição.

Eles se esgueiraram por quilômetros e mais quilômetros e a Grã-Senhora estava assustada ao perceber que, apesar da relutância de cada célula de seu corpo, sua memória lembrava exatamente cada caminho que fizera.

Era como se tivesse sido em outra vida.

De fato, era uma outra Feyre. Uma humana que passou perto da desnutrição, adentrando em um ninho de imortais para salvar um amor que mais tarde teria sido sua perdição.

Foi sua perdição.

E, de certa forma, sua salvação.

Jamais ter conhecido Tamlin poderia ter significado jamais ter conhecido Rhys e o restante da Corte. Sua família.

O suor e as lágrimas do encontro com Tamlin valeram a pena, afinal de contas. Nos dias atuais, Feyre conseguia ver que o macho da Primaveril tinha sido um peão do destino, para que o destino de Feyre a encontrasse. Para que pudesse estar hoje, com parceiro, seu filho no ventre, sua Corte e sua família.

Sob a Montanha.

Estavam mesmo adentrando naquele lugar, avisou o corredor de mármore rachado e poeirento e cheio de pedras devido a parcial demolição do local.

Se não estava enganada, tinha sido naquele ponto em que o Attor a pegara, e levara a para ela. Amarantha. A fêmea que escravizou Prythian, que escravizou seu parceiro, de todas as formas possíveis, durante 49 anos.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora