Capítulo 49- O Leão da montanha

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Gavriel.

Seu pai.

Era o que a mente de Aedion não pararia de ecoar.

Até que acordasse daquele pesadelo, daquela brincadeira de mal gosto em que o enfiaram.

Até que o mundo ruísse com a dor que dilacerava seu coração.

***

Fenrys olhou incisivamente para a figura da porta. Não ousou olhar para ninguém, embora soubesse que Vaughan encarava a cena com horror a poucos metros dele.

E Rowan e Lorcan e Aedion.

O jovem macho estava imóvel como Rowan o estava.

Uma lágrima correu o rosto de sua rainha, que ainda cobria a boca.

Manon e Dorian estavam boquiabertos, e os demais convidados e Grão-Senhores estavam atentos a cada movimento do estranho e das reações dos vindos de Erilea.

Engolindo em seco, Fenrys sentiu a mão de Az pousar em sua lombar, como em um apoio silencioso.

O illyriano acariciou seus escudos mentais até que ele o deixasse entrar. Sorrateiramente, como uma sombra, ele ultrapassou. Um segundo depois, a voz aveludada e receosa de Azriel perguntava pelo laço: Amor, quem é?

Fenrys piscou para a figura de cabeça baixa. Parecia perdido, tão perdido. Obrigando-se a responder o parceiro, disse: Gavriel. Pai de Aedion.

Az enrijeceu ao lado dele, arregalando os olhos. Ele conhecia a história de Gavriel, pois Fenrys já o havia contado. Meu amigo, meu irmão, acrescentou Fenrys, estarrecido e no automático.

A mão de Az seguiu a linha de suas costas e parou em seu ombro, apertando. Aquele conforto ajudou a aquecer seu coração acelerado pelo choque.

Precisamos ir até ele, não acha? Alguém tem que ir, sugeriu Az, referindo-se a figura de cabeça baixa. Gavriel, ou seja lá o que fosse aquilo, encarava as mãos trêmulas. Quer que eu...?, mas o parceiro o olhou, com o restante da pergunta silenciosa.

Fenrys precisava fazer isso. Precisava fazer isso pelo macho que foi muito mais seu irmão do Connall jamais tinha sido.

Unindo forças para se mover, ele assentiu para o parceiro. Vem comigo?

Az apertou seu ombro de novo ao responder: Sempre.

Aquilo o deu a coragem que faltava para conseguir avançar a o que quer que fosse aquele ser que se parecia com Gavriel.

Os companheiros, Rowan, Lorcan e Vaughan, o acompanharam com o olhar conforme Fenrys fazia aquela caminhada. A mais longa de sua vida. Era como se o chão tivesse se tornado gelatinoso, atado aos joelhos que pareciam pesados como blocos de mármore. Mas a presença de Az atrás dele fazia tudo melhorar. Era calma, forte, segura. Fenrys se atou naquilo e no fato de que era um maldito guerreiro, porra.

Enfrentara mortes, torturas e batalhas. Mas, de algum modo, aquilo era ainda pior.

O macho retesou ao ver que Fenrys se aproximava. Conseguiu levantar as mãos como se dissesse: Não vou machucá-lo.

Se era mesmo Gavriel, lembraria de sua morte, não é? De tudo que viveu em vida. Mas Fenrys jamais conheceu alguém que tivesse voltado da morte naquelas circunstâncias. E ele se preparou, para o caso de aquele não ser seu amigo. Sem precisar olhar para trás, sabia que Rowan, Lorcan e Vaughan caminhavam devagar até eles, a hesitação em cada passo.

Fenrys engoliu o nervosismo quando parou diante do macho. A garganta tinha tatuagens deformadas por grossas cicatrizes. A causa de sua morte, lembrou ele, com horror. Mesmo com o choque, forçou a fala. E o nome.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora