Capítulo 55- In memorian

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Lucien entrou no banheiro, tirou as roupas que usava, jogando-as no chão com demasiado desmazelo enquanto a banheira de mármore se enchia magicamente de água. Era um ambiente relativamente circular, com paredes brancas e armários feitos de cristais de gelo. Sendo a parede oposta à da banheira, inteiramente de vidro.

A raposa derramou sais de banho até que o ambiente cheirasse a qualquer coisa, menos lavanda ou flores do campo, pois remetiam a ela. Ele foi enganado. Manipulado. Era tudo que sua mente não parava de repetir. De novo e de novo, conforme colocava um pé depois o outro na banheira. A água quente, quase escaldante, do jeito que ele preferia.

O perfume de eucalipto com um leve toque de cânfora subiu em suas narinas, acalmando aquela respiração pesada e dolorosa instalada em seu peito. Para sua alegria, ou não, sentar na banheira era olhar seu reflexo do outro lado. Seu rosto estava acabado. Olheiras se acumulavam em bolsões fundos, a cicatriz do rosto estava pálida... O corpo estava dolorido pela quantidade absurda que tremeu durante os minutos mais longos de sua vida, desde que fora preso a cadeira da sala de reunião, até Elain dizendo que buscou se aproximar por interesse.

Elain sendo uma traidora.

Elain sendo uma envenenadora.

Elain traindo a própria família.

Elain o rejeitando como se ele fosse um saco de esterco que ela usava para cuidar de suas malditas plantas.

Elain...não sendo sua parceira de fato.

Elain sendo um truque de influência de Aengus, para que Lucien não reconhecesse...

E tinha Beron. Aquele desgraçado estava morto e Lucien se sentia um lixo por não se sentir nada além de alívio. Deveria sentir ao menos alguma empatia pelo macho que o criou, não? Deveria. Isso dizia o que dele?

Ele afastou o pensamento e mergulhou na banheira. Submergindo, deixo que a água quente molhasse seus cabelos, relaxasse os músculos de seu rosto, o fizesse esquecer enquanto a privação de ar se tornava uma dádiva para seus pulmões cansados.

Recusou-se a lembrar de que ainda precisava conversar com sua mãe, com Helion. Encarar Feyre e ver a amiga sofrer pela irmã que a apunhalara pelas costas.

E, mais cedo ou mais tarde, conversar com Vaughan também.

Buscou não voltar ao momento em que Elain o rejeitou, mas isso se tornava impossível a cada momento que ele se via privado de oxigênio.

Não ficara paralisado apenas pela rejeição ter doído, mas porque ela pareceu a libertação de um feitiço que anuviava sua mente. Uma agonia que se fazia presente desde o instante que descobriu sobre Elain.

E, ao mesmo tempo, um puxão o atravessou o peito. A voz daquele macho que mal conhecia ressoava em seus ouvidos:

Lucien, você consegue. Lucien, seja forte. Por favor.

Era como se aquela súplica viesse de dentro dele. Viesse de um viés que estivera do outro lado, oculto por uma falsa parceria, que ele acreditava existir.

Então, quando Aengus falou, ele conseguiu sentir o que de fato era um laço verdadeiro e irredutível, atando-o a pessoa mais improvável naquela sala. Atando-o a Vaughan, que ficou igualmente em choque.

A certeza que o acometeu o fez tremer até que seus músculos doessem. O coração, era como se o tivesse sentido partir, pois havia criado em si a ideia de um amor. Um amor que queria viver com Elain. Mas tudo que recebeu dela, assim como de quase todos que supostamente o amaram, fora o desprezo. Porque, se o laço existia somente para ele, ela nunca o sentiu na mesma intensidade. Nunca poderia, já que não era real.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora