Capítulo 38- Aelin do Fogo Selvagem

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Fenrys se ajeitou no chão da cela. Ainda tinha dificuldades de absorver a quantidade absurda de informações que Vaughan acabara de o fornecer. O eclipse tinha começado. Ele sofria com o risco de ser apanhado e aquele era o local mais seguro para ele.

Era estranho como tudo acontecera e mais estranho ainda, o que que acabara de ouvir. Seus pensamentos voltaram-se de súbito a outro com poderes de metamorfose. Rowan.

— Rowan — sobressaltou-se. — Por que não ajudou a Rowan também? Ou todo o discurso bonito que acabou de fazer só valia para o meu bem-estar?

Vaughan respirou fundo, como se impaciente.

— Tenho motivos para acreditar que Rowan não era o alvo deles, por conta do que vi — respondeu, a voz neutra. — Lembra que eu disse que buscavam compatíveis?

Fenrys assentiu.

— Eu pesquisei entre os seres imortais mais antigos deste mundo, os que tinham relatos de fato sobre isso — continuou Vaughan —, já que o Livro da Criação e a biblioteca de Helion Quebrador de Feitiços eram inviáveis. Então, descobri que o deus sombrio assumia a forma de uma besta terrestre. Não se especifica exatamente qual, mas o metamorfo a servir de casca deveria ser compatível neste tipo de habilidade. Rowan e eu...viramos predadores aéreos. Pesquisei em muitas fontes, todos me levaram a ter esta certeza. Rowan e eu não seríamos alvo. Mas você? — Ele limpou a garganta e desviou o olhar. — Gavriel, se estivesse vivo, com certeza também seria um alvo. São machos feéricos antigos e poderosos. Seria perfeito para o deus sombrio.

Uma onda súbita de mágoa tomou Fenrys.

— Só que Gavriel não está mais aqui, está?

Os olhos escuros sob os extensos cílios de Vaughan cintilaram com tristeza.

— Queria ter estado lá — assumiu. — Queria ter podido fazer alguma coisa. Para que ele tivesse tido mais tempo com Aedion...para que ele vivesse.

Cuidadosamente, Fenrys indagou:

— Mas e quanto a você?

Vaughan passou o calcanhar da bota na terra, deslizando, como se aquilo fosse muito interessante.

— Maeve me quebrou, Fenrys — respondeu, depois de uma pausa. — Não ver ninguém que me lembrasse daquela vida que tanto me arrasou, não ver ninguém no geral...foi a forma que encontrei de continuar vivendo. Não vou pedir desculpas por ter feito o necessário para sobreviver. Para me reencontrar. Sei que todos vocês sofreram. Fiquei arrasado assim que acordei naquela casa de repouso e o curandeiro me contou sobre a guerra e sobre Gavriel. Vi naquilo, mais um motivo para fugir da tristeza. Cada um reage aos seus demônios de uma forma. Esta foi a maneira que achei de não desabar. Quando me vi bem o suficiente, resolvi voltar, enfrentar o que antes não conseguia. Olhar nos seus olhos e dizer o quanto eu concordo com você, que eu fui um covarde, que eu abandonei nosso grupo. Nem sei se eu tenho cara para encarar Rowan e Lorcan. Foi difícil o bastante ver você. Enfrentar minhas escolhas erradas, meus pecados... — ele se ateve, respirando fundo. — Mas não importa. Quando o sol nascer, vou soltar você, deixar seu parceiro me bater, Lorcan me xingar e Rowan virar o rosto para mim e me desprezar. É como as coisas devem ser.

Foi a vez de Fenrys ficar em silêncio. Não havia muito o que dizer. Não depois daquela declaração.

— Está convencido de que Azriel não vai nos encontrar?

Vaughan riu, parecendo satisfeito por Fenrys não o ter insultado como devia estar esperando.

— Acho que ele está sedento por sangue. Pelo meu sangue. Acho que ele quer me matar por o ter tirado dele. E não posso culpá-lo por isso. Você é incrível, Fenrys. Com todo respeito — acrescentou.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora