Rhys mergulhou em mais uma memória do Leão.
Desta vez, uma não tão feliz.
Ele estava em um quarto de pedra clara. Havia uma cama de casal remexida. Remexida não, rasgada, por garras.
Havia uma janela larga, que dava para um rio cristalino e uma floresta além. Estava em um palácio. A mobília de madeira estava revirada. E Gavriel terminava de destroçar uma cadeira, atirando-a contra a parede.
A porta do quarto se abriu.
Rowan.
Mas um Rowan completamente diferente do que Rhys conhecia, de algum modo. A expressão dura e fria escondia uma faísca de preocupação. Seus cabelos prateados eram longos e podia-se ver, em sua expressão, o quão perdido no amargor ele estava. Talvez o mesmo amargor e frustração que deixava os olhos de Gavriel vítreos.
— Se ela ouve você, vai piorar tudo — a voz de Rowan era tão dura quando sua expressão. — Pense, Gavriel.
O macho retesou de ódio e se virou para ele.
— Como consegue ficar tão bem com isso? — o tom estava baixo e rouco. — COMO VOCÊ CONSEGUE NÃO SENTIR, ROWAN?
O príncipe consorte de Terrasen, à época, jurado de Maeve, cruzou os braços.
— Bem com o que? — mas ele sabia exatamente o que o amigo queria dizer. Os olhos verde-pinho traziam a compreensão.
De alguma forma, era como se Rowan estivesse morto por dentro.
— Sua parceira morreu! Seu filho morreu! — Gavriel falou, o peito subindo e descendo bruscamente. — Você parece que não sente nada.
Rowan deu uma risada amarga, mostrando os dentes.
— Tem razão, não sinto. Não mais.
Gavriel o lançou um olhar incisivo.
— As pessoas que amamos são armas a serem usadas contra nós, Gavriel. Maeve sabia que você amava Erollyn, por isso o chamou de volta, por isso o obrigou a partir o coração dela — continuou Rowan, com a voz neutra.
Mas o tom conspiratório estava ali. E Rhys podia sentir o poder de Rowan projetar um escudo em torno do quarto. Aquelas palavras eram perigosas. Não deveriam ser pronunciadas sem proteção.
De repente, Rhys se deu conta de onde estava. Doranelle.
Gavriel caiu de joelhos subitamente, encarando o chão. Perdido.
— E ela deve me odiar agora. Erollyn deve me odiar.
Rowan entreabriu os lábios, como se fosse dizer alguma coisa. Estava hesitando.
— Como consegue? — Gavriel prosseguiu, a mão apertando o peito como se pudesse arrancar o coração fora.
Por um momento, o príncipe apenas o encarou, contraindo o maxilar. Ódio brilhou ali. Mas não por Gavriel e sim, pelo que fizeram a ele. Pelo que Maeve fez.
Silêncio, longo e interminável se instalou.
— É simples, na verdade — começou Rowan depois de uma pausa. A atenção de Gavriel focou nele. — Não há como te machucar se você não sentir nada. Se você for tão oco por dentro a ponto não se importar. Eu parei de me importar.
Aquilo atingiu Rhys. Fortemente.
Feyre contou a ele sobre a história de Lyria. Naquela época, Rowan achava que tinha perdido a parceira, sem saber que era apenas uma manipulação de Maeve para que não reconhecesse Aelin quando a encontrasse. De todas as crueldades, aquela era a pior. Rhys mal podia imaginar. Maeve o quebrou. Rowan aceitou isso. Por ser tudo que lhe restava. E ele não fazia ideia de que Aelin e ele estavam destinados desde o dia em que nasceram.
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Corte de Fogo e Gelo
FanficE se Aelin Galathynius e cia visitassem a Corte Noturna? E se, após longos anos de desconhecimento e guerra em seus mundos, ambos descobrissem que habitam continentes no mesmo oceano? E se, em um belo dia, o tão aguardado encontro entre o mundo de T...