A luz do alvorecer

4.3K 398 153
                                    

A Corte Diurna estava particularmente bela pela manhã. Helion, o Grão-Senhor, caminhou demoradamente até a imensa sacada de pedra branca, que pendia para um vale verdejante e florido em direção ao leste. As cores do amanhecer eram uma mescla entre o acinzentado proveniente da noite e os tons pasteis do dia, que iam do rose suave ao laranja quente. A brisa batia nos cabelos escuros de Helion Quebrador de feitiços, conforme ele observava a luz varrer as estrelas para longe. Ele respirou fundo, sentindo o frescor do vento, o barulho das águas no longo rio que corria vale a dentro, como um fio de prata aos primeiros raios de sol. Os pássaros cantavam a beira da varanda arredondada, carregando raminhas para seus ninhos. Havia uma mesa redonda e farta bem ao centro do recinto ao ar livre. Helion atravessou as cortinas brancas esvoaçantes, dispostas entre duas grossas colunas de mármore e foi em direção a mesa do café. Esta era inteiramente de vidro, refletindo os raios do sol como um arco-íris. As cores vivas batiam nos olhos do Grão-Senhor e ele se deleitava com sua luz.

Puxou a pesada cadeira branca e entalhada de espirais, e se sentou. Juntou um cacho de uva, um pedaço de bolo e croissants pequenos em seu prato, acompanhados a uma xícara de café. A noite tinha sido cansativa demais depois da festa privada em seus aposentos. Particularmente, Helion estava esgotado, mas, desde a guerra, ele prometeu a si mesmo que jamais perderia um alvorecer caso estivesse em casa. Vinha cumprindo a promessa desde então.

Estava na metade da refeição quando uma das empregadas da casa apontou das cortinas. Ela usava uniforme claro, os cabelos escuros presos e longos para trás, a expressão séria. Sua pele era de um moreno bronzeado intenso e seus olhos, do mais profundo dourado. Era tão bela quanto o sol que apontava no Leste. Bride era seu nome. Era nova ali e Helion ainda tentava fazê-la se livrar de toda a coisa do "senhor" e das reverências acentuadas e exageradas, que o faziam se sentir um velho necessitado de atenção, como Beron da Outonal o era. Tentou argumentar com ela de que não havia necessidade de toda a etiqueta regrada, mas, ainda assim, ao se aproximar com uma bandeja de prata, Bride se curvou. Bem menos fundo desta vez, o que era um progresso, pensou Helion.

Ele sorriu para a feérica.

— Bom dia, Bride — ele disse.

A jovem ruborizou, abaixando a bandeja. Havia uma carta ali, de um pergaminho elegante e envelhecido. Não apenas isso chamou sua atenção, mas também, o selo: as montanhas, com três estrelas. A Corte Noturna. Um sorriso maldoso se formou em seus lábios.

— Chegou há pouco da Corte Noturna, meu senhor — disse ela, timidamente.

Helion pegou a carta da bandeja.

— Rhysand, seu danadinho — murmurou ele para si mesmo, examinando a carta em sua mão. — Seja o que for, espero que tenha vinho. Obriga... — ele se virou para Bride, mas ela já tinha sumido, mais rápido do que entrou. — Cada vez mais tímida — concluiu ele.

Rompendo o selo, ele abriu a carta. O pergaminho dentro tinha entalhes de arabescos e estrelas. E o perfume...Helion conhecia-o muito bem. Morrigan.

Abaixando os olhos, ele leu:

Ao Grão Senhor da Corte Diurna.

Caro Helion, conforme chegara ao seu conhecimento, nossa Corte recebe a visita da Corte de Terrasen, vindo do lado desconhecido do mundo.

Em honra deles, um baile será oferecido, bem ao estilo da Noturna.

Por ser um amigo querido, nos agraciaríamos imensamente caso pudesse comparecer.

O baile será realizado na Casa Noturna Rita's, em Velaris, amanhã, às 23 horas.

Aguardamos sua resposta.

Atenciosamente,

Rhysand e Feyre, Grão-Senhores da Corte Noturna.

A luz do sol bateu no rosto de Helion, que ergueu o olhar para o amanhecer com um sorriso entretido.

— Bride! — Chamou ele.

Um segundo depois, a jovem apareceu novamente.

— Sim, senhor?

Ele entregou a carta para ela, que a pegou imediatamente.

— Entregue a Ilia, peça-o para responder dizendo que comparecerei a festa. Será uma noite inesquecível.

Assim, o Quebrador de feitiços levou a xícara de café até os lábios, ansioso para o que o dia de amanhã o traria.

***

Bônus de hoje. Até sexta, beijosss.  

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora