Capítulo 74- Portas

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Fenrys pensou que aquele menino não poderia ser mais rápido. Mas ele era. Incrivelmente rápido.

Ouviu alguns barulhos corredores adiante. Depois, alguns passos escadas abaixo — ele não era muito habilidoso em esconder passinhos nas escadas. Aos cinco, ser rápido já era vantagem o bastante.

O lobo sorriu diante da ideia como um todo, conforme avançava pelas escadas para o terceiro andar abaixo da sala de jantar. Caso alguém o dissesse há seis meses que hoje ele estaria com um parceiro, um filho e brincando de pique com ele por uma casa escavada no alto de uma montanha, do outro lado de seu mundo conhecido, ele provavelmente diria que esta pessoa era maluca.

Ao tempo que...era maravilhoso. Foi até bem mais gratificante do jamais poderia ter sonhado.

Fenrys terminou as escadas e virou um corredor, o chão de pedra vermelha brilhando com o polimento. Onde estava aquele garoto?

Ele inspirou. Era um lobo de mais de 150 anos, perdendo no pega-pega contra um menino de cinco.

Avançou pelo corredor, seguindo o cheiro suave e doce do garotinho, que já conhecia como o próprio.

Ele virou para a esquerda e avistou asinhas despontando de uma porta, cuja luz dourada do ambiente clareava o corredor levemente escuro.

Merda.

Seus pés se moveram depressa pelo espaço entre ele e o filho. Na metade, sentiu outros dois cheiros. Seu sangue subiu até a cabeça, pressionando até latejar com dor.

Merda.

— Aaron — chamou, ao alcançar o menino, colocando a mão em seu ombro magro e pequeno. — Aí está você.

Fenrys parou abruptamente quando o cheiro de excitação sexual invadiu suas narinas. Os pelos de seu corpo se arrepiaram, mas o fato de o menino ter virado para ele, o fez acordar do choque. Ele não olharia para os dois machos na sala, graças aos deuses vestidos. Ainda não.

Merda.

Aaron chiou, as mãozinhas marrons abanando os dois olhos, onde suas sombras haviam se acumulado como nuvens. Fenrys pensou que poderia se ajoelhar para os poderes do menino, por tentarem proteger sua inocência.

— Tira — ele falou, batendo na perna de Fenrys cegamente. As mãozinhas ainda abanando. — Tira. Pai, tira!

Fenrys engoliu em seco. Orgulho o inundou, quase minando a raiva que sentia dos dois que ainda nem havia se dignado a olhar.

Pai. Aaron o chamou de pai, pela primeira vez. Mesmo sem perceber, mas tinha feito.

Seu peito se aqueceu de um amor tão puro e genuíno. Deuses...

Pai.

Fenrys saiu do estupor, sacudindo a cabeça e se ajoelhando diante do menino. Não sabia se iria adiantar muito, mas ele olhou para as sombras que cobriam os olhos de Aaron.

— Tudo bem. Estou aqui agora — garantiu a elas. Ele poderia jurar que as sombras acenaram, ao se retirar de onde bloqueavam a visão do menino. Aaron tinha as sobrancelhas unidas, os lábios contraídos e o nariz enrugado de irritação. As bochechas cheias avermelhadas. Fenrys sorriu para ele. — Não se deve abrir portas sem pedir permissão, Aaron — falou, o mais amavelmente possível, enquanto tentava comprimir o sorriso de ver a carinha de raiva do menino.

Tinha o temperamento de Az, de fato.

— A fumaça foi má comigo — declarou. — Cobriu meus olhos.

— Não foi, acredite — ele se segurou para não erguer os olhos para os machos. Só que, mesmo de soslaio, fez isso. Lucien encarava o chão, o rosto de terroso a rubro. Vaughan, a uma distância segura dele, encarava Aaron e Fenrys. — A fumaça foi sua amiga tanto quanto sempre foi.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora