Capítulo 32- O Quebrador de Feitiços

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Helion imergiu em pensamentos.

Alguns momentos de triunfo, outros, de profunda tristeza.

Durante sua longa vida, pôde contar as coisas que lhe foram queridas, as lembranças que o tiravam o fôlego e, também, as que o faziam lamentar.

A grande vida do Grão-Senhor da Corte Diurna. Era de se esperar que ficasse mais fácil buscar no fundo de sua mente a resposta que buscava.

Mas tudo sempre voltava ao mesmo ponto: Eu abro com A palavra. A que angustia, a que uni, a que será traída, a que representa, a que ama.

Uma palavra, em sua longa vida. Uma única palavra, era a resposta que procurava e, ainda assim, não fazia ideia do que isso significava. Pela primeira vez na vida, Helion cogitou a possibilidade de simplesmente não saber a resposta. Coisa que sempre soubera.

Encarando aquele livro, mergulhou fundo em seu subconsciente.

A primeira vez que viu a fêmea beijada pelo fogo. Neroda.

Sua pele de porcelana tinha um tom exótico, bochechas rosadas escondiam finas sardas. Os lábios tinham um arqueado lindo, quando seus olhos avermelhados pousaram nele. O fôlego ficou preso na garganta, como um jovem macho que não fazia ideia do que fazer próximo a uma fêmea como aquela.

Seus cabelos oscilaram à brisa, vermelhos como as chamas que havia acabado de invocar em uma fogueira ladeada de pedras. Eram longos e brilhantes, ondulados e pesados. Usava um vestido da cor das folhas do Outono, feito de um veludo reluzente como sua própria pele, longo e reto, de manga afunilada e comprida nas pontas e uma fenda profunda bem no meio das duas pernas, o que deixava suas pernas longas e esguias a mostra.

Era a fêmea mais linda que Helion já vira. Era fogo, como o sol que brilhava e dançava nas veias do Quebrador de Feitiços.

Ele se aproximou dela, ciente de quem era. Era tão imponente como linda. Observadora e cautelosa, como ele o era.

— Está gostando da festa? — indagou, despretensiosamente.

Do lado de fora do palácio da Corte Outonal, tudo tinha o belo tom da Lady que estava diante de si. Particularmente, Helion achava que aquela festa era o rosto do tédio. Sabia que Beron o havia convidado como representante das Cortes Solares, para não parecer que apenas convidaria os Grão-Senhores das Cortes Sazonais.

Conclusão, naquele antro de arrogância, não havia nenhuma diversão. Rhysand, o filho do Grão-Senhor da Corte Noturna, não estava ali para debochar de ninguém com ele, o que deixava tudo ainda mais chato. Mas Helion era conhecido como o Grão-Senhor festeiro, logo, essas missões de comparecer em eventos odiosos era dele. Contudo, no instante em que chegou aos jardins, vermelhos como as chamas nas tochas e na fogueira principal acesa por aquela Lady, tudo tinha começado a melhorar. Estavam cercados por árvores nuas, um tapete de folhas amarronzadas e secas, fora as que caíam o tempo inteiro por ali, como uma chuva avermelhada e lenta. Era um jardim circular. Com bancos de pedra e chafarizes. Helion havia chegado até lá depois de fugir do primogênito de Beron, Eris.

Desceu largos degraus atrás de si, passando por vigas de madeira que sustentavam treliças secas com belas flores que, curiosamente, só conseguiam florescer na Corte Outonal.

— Meu marido odeia festas — disse ela, em um tom indiferente. Mas aquele timbre de voz era doce, como maçãs aquecidas pelo sol. — Provavelmente por isso elas são sempre tão...peculiares.

Helion não pôde deixar de rir. Ela inclinou a cabeça para o lado.

— Sou Helion — apresentou-se, oferecendo a mão para ela. A fêmea não moveu um dedo para o braço esticado de Helion.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora