A fumaça

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O menino Aaron não era crédulo.

Ao contrário.

Jamais acreditou que a sorte poderia bater em sua porta. Especialmente pois nem se lembrava dos pais.

Mas, então, ele esbarrou no super forte espião. Por um momento, Aaron se permitiu a ter esperanças.

"Tem vontade de ser adotado? Ter uma família?" Foi o que o Senhor Azriel o perguntou.

A fumaça o disse que ele era amigo e, de fato, estava certa. Família. Era o vislumbre de uma vida feliz, de fato, já que não se lembrava da última vez que alguém se preocupara com ele.

Vagando pelas ruas illyrianas, o menino e sua cesta de bolos e pães se esgueiraram para um beco escuro. Ali, ele pediu a fumaça para fazer o que sempre fazia com ele quando tinha frio: o levar a um lugar mais quente.

No instante seguinte, o menino Aaron era sombras. E no outro, estava dentro do único chalé não utilizado do acampamento: o chalé do Grão-Senhor, onde ninguém ousava ir. Onde ninguém o encontraria. Impossibilitado de ligar qualquer luz, o menino sentou no chão gasto de madeira, em cima de um tapete cheirando a poeira — antes isso do que excrementos, como costumava ser a rua — e abriu sua cesta, pegando um croissant de chocolate e mordendo.

Jamais comera algo tão bom. Lembraria do gosto até o final de seus dias, bem como da gentileza do senhor Azriel.

Escondido na escuridão do chalé revestido de pedra, Aaron se enroscou na fumaça amiga, desejando, por um segundo, que as coisas fossem diferentes.

***

Sentado à beira da cama de Fenrys, Az esperava que Rhys aparecesse com Aelin e mais soluções. A teoria maluca sobre onde Fenrys poderia estar era dela. E ele quase não acreditou quando a ouviu naquele dia mais cedo. Algo sobre ter trocado uma ideia com Thuata.

Então ele esperou.

Eu gostaria que tivesse sido meu pai. Aquela frase ecoou em seus ouvidos arduamente, conforme encarava seu parceiro inconsciente. Já estava de noite e ele dava puxões fortes a cada hora, na esperança de trazê-lo de volta.

Beijando o dorso da mão de Fenrys, Az confidenciou:

— Eu conheci um garoto hoje, Fen. O nome dele é Aaron. — Sentia-se ridículo ao falar daquilo ciente de que Fenrys não o ouvia. — Nunca senti à vontade absurda de ter filhos até olhar naqueles olhos obstinados. Eram como os meus, mas ao mesmo tempo, me lembravam de você. Talvez eu nunca tenha pensado em filhos porque estava esperando você para sonhar comigo. A minha vida inteira eu esperei você. Ah, Fen, devia vê-lo. É o menino mais encantador que já conheci. E disse — a garganta de Az se apertou com uma angústia inexplicável —, que gostaria que eu fosse o pai dele. Tenho certeza que daria um ótimo pai também, meu amor. — Az afundou sua testa na mão quente, macia, calejada e imóvel de Fenrys. — Volte para mim.

O pedido foi desesperado. Ele jamais deu um puxão tão forte quanto aquele que acabara de dar. Um que reverberou de seus ossos, de sua vontade infinita de trazer seu parceiro de volta.

O mundo pareceu girar em câmera lenta. Nada mais fazia sentido. Nada mais.

Az enrijeceu.

Seus instintos se acenderam como as luzes do Solstício. Deslizando da onde estava à beira da cama, caiu de joelhos quando sentiu os dedos de Fenrys pressionarem os seus, lentamente.

Por aquele segundo, se deixou ter esperanças.

***

Bônus de hoje, corações de fogo! Até :) 

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora