Corte de Fogo e Gelo

Um lugar estranho

Ele estava completamente desorientado quando sentiu controle de seu corpo de novo.

Por alguma razão, se encontrava em um quarto com paredes brancas e chão de mármore claro, diante de uma sacada que dava para a cidade e a planície...de Theralis.

Fenrys engoliu em seco. Ele não estava na Corte Noturna. Não mais.

Forçou-se a lembrar qual tinha sido a última coisa que viu.

O rosto de um macho loiro de olhos escuros e expressão cruel veio a mente. Ele segurava seu rosto. Aengus.

Algo sobre...uma reunião.

Fenrys arregalou os olhos. O lugar era bem real. A cidade era Orynth. E os aposentos em que estava, ele os conhecia.

Era um dos aposentos reais do castelo de Aelin.

Confuso, se viu em um espaçoso quarto arredondado. Um belo lustre pendia do centro do teto, iluminando o lugar com luz dourada. A enorme cama com dossel estava feita, com cobertores brancos de arabescos como ouro.

A sua esquerda, portas duplas estavam fechadas. Eram brancas, e tinta dourada simulava chamas.

— Eu já vou, tio Fenrys — gritou lá de dentro uma voz feminina adorável.

Fenrys estranhamente sentia como se já conhecesse aquela voz.

Ele colocou as mãos nos bolsos do belo conjunto bege de lapelas douradas que usava. Eram trajes de festa.

— Sei que papai te mandou para ver se eu não iria fugir antes da festa começar — resmungou ela.

Papai?

Fenrys ficou confuso.

Ele buscou no laço, bem fundo dele. Az?, chamou.

Sim, o laço estava lá, estável como sempre esteve. Firme e forte. E Az estava perto, podia sentir.

Mas como? Estavam na Corte Invernal. Reunião. Guerra. Como poderia estar em Terrasen?

O barulho dos trincos da porta o tirou da confusão quando a jovem voltou a falar:

— Muito esperto dele achar que você vai me impedir de fugir.

Fenrys enrijeceu ao olhar a dona da voz. Ela estava em um vestido vermelho justo e mais largo do joelho para baixo, com arabescos pretos feitos em couro, subindo da bainha. Ela tinha curvas, mas era magra, alta e esguia. A beleza era assombrosamente familiar.

Os cabelos loiro-dourados estavam penteados de maneira ondulada para o lado esquerdo, descendo sobre o ombro nu do vestido tomara que caia, onde um decote mostrava um pouco de seu busto mais discreto que a curva do quadril.

Parecia tão estranho reparar nela. Mas era assustador. E aquele rosto...fino e delicado e seguro e imponente. Era o rosto de Aelin. Só que os olhos, estes eram verde-pinho, e a curva dos lábios suavemente carnudos...isso era de Rowan.

O mau-humor estampado no belo rosto certamente também era Rowan.

Fenrys entendeu por fim quem era aquela.

— Tio? — indagou ela, unindo as sobrancelhas claras. — Está tudo bem?

O que Fenrys poderia dizer? Que estava em sonho maluco? Que aquele poderia ser ele, mas ao mesmo tempo não era?

Ele deu um sorriso fraco para a jovem.

— Estava apenas admirando o quanto você cresceu...— ele diria o nome dela, mas não sabia, sinceramente.