A reunião que fizeram antes do jantar, apesar de arrastada, foi construtiva.
Cada um deles relatou o que lhes ocorreu durante o Eclipse.
Especialmente Fenrys e Aelin, cujas histórias eram de necessidade imediata.
O relato de Fenrys foi breve antes que se voltasse para Vaughan, que quase engasgou o vinho que bebericava. Precisou de muito para que o convencessem a se sentar a mesa e participar da reunião. Tomar vinho então, fora um custo.
— Então os seguidores do deus sombrio buscavam um metamorfo cujas características fossem compatíveis a primeira forma de seu mestre. Pesquisei em inúmeros manuscritos, datados de cinco mil anos ou mais. Todos se referiam ao deus sombrio e sobre como ele era uma besta de quatro patas, os cabelos dourados, os olhos escuros como a noite — explicou Vaughan, com máxima precisão que conseguia, antes de receber olhares hostis de praticamente todos os sentados a mesa. Menos de Lucien, o macho ruivo, filho do Grão-Senhor da Diurna. Vaughan cogitou que ele deveria saber uma coisa ou outra sobre ser mal interpretado em suas ações.
Rowan ainda não o havia dirigido a palavra. E Lorcan...? Quando o viu entrar na sala da jantar, tudo o que fez foi xingar uma sequência repetitiva de: puta merda, caralho, porra, você?, infeliz, porra. E, fechando com: Vai se foder, Vaughan.
Aquilo o afetou mais do que seria capaz de admitir, afinal, Lorcan era um dos mais chegados a ele quando serviam àquela vadia da Maeve. Mas pelo menos ele falava. O tornozelo ainda estava enfaixado e a esposa, a jovem lady Elide, arregalou os olhos e disse, pelo menos três vezes ao marido: Lorcan, cale a maldita boca.
E ele o fez. Seja qual fosse a influência da fêmea humana nele, era poderosa. Quanto a Rowan? Ele estivera em silêncio enquanto apontava olhares de raiva e revolta para ele. Muito desprezo também. E quanto a sua parceira, Aelin, Vaughan a vira apenas uma vez, em Defesa Nebulosa. Ainda não era a imponente e bela monarca dos dias atuais, mas já acabava com qualquer um que ousasse cruzar seu caminho, incluindo príncipes valg malditos.
A fala de Fenrys não parava de pipocar na cabeça dele: "Você teria tido um lugar conosco, em Orynth." Teria. Se não fosse um completo covarde diante do pavor de enfrentar seus amigos.
Felizmente, Fenrys omitiu a parte da história pessoal de Vaughan de seu relato, e ele direcionou um olhar rápido ao macho, em um agradecimento silencioso. Afinal, não conhecia a maioria daquelas pessoas. E sabia que eles não faziam questão e nem gostavam dele. Não queria sua vida exposta naquela mesa. Já era doloroso o suficiente encarar seus amigos que agora o odiavam. Não precisava de mais essa atenção.
— Você esteve investigando os passos de Bride desde que chegamos na Corte Noturna? — a pergunta soou fria como um iceberg, mas eram as primeiras palavras que Rowan o direcionava desde que se reencontraram.
Ele assentiu para o príncipe.
— Percebi movimentações estranhas nas sombras. Investigar essas coisas sempre foi meu trabalho, como se lembra — ele tentou evitar, mas quando viu, direcionou um olhar furtivo a Azriel, que ficou rubro — sou um encantador de sombras, Rowan. Ouço coisas que ninguém mais ouve.
— Eu não ouvi nada — retrucou Az, a voz fria como a morte.
Vaughan se dignou a apenas olhá-lo de soslaio. Fenrys ficou tenso ao lado do parceiro e o segurou pelo bíceps poderoso.
— Você esteve distraído — respondeu, simplesmente.
Um som parecido com tsk arrastado veio do outro lado da mesa, onde Cassian, o general illyriano, observava tudo com interesse. Vaughan revirou os olhos. Babaca, pensou. Az estava imóvel.
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Corte de Fogo e Gelo
FanfictionE se Aelin Galathynius e cia visitassem a Corte Noturna? E se, após longos anos de desconhecimento e guerra em seus mundos, ambos descobrissem que habitam continentes no mesmo oceano? E se, em um belo dia, o tão aguardado encontro entre o mundo de T...