Capítulo 53- O poder da promessa

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Paralisado na soleira da porta, Aedion Ashryver encarou o interior da sala comunal.

Bem no sofá próximo a mesa, havia um macho de cabeça baixa, os cotovelos apoiados nos joelhos, os cabelos caindo no rosto, fazendo sombra em seu rosto.

A mão de Lys era um apoio em seu ombro, onde ela deu um toque com os lábios.

Gavriel estava ali, sozinho. Pois Aedion tinha sido o primeiro a chegar. Ficou na dúvida se esperaria os outros se seguiria. Sentia-se um covarde apenas por pensar nisso.

Era como se seus pés estivessem enraizados no chão.

— Querido? — chamou ela, baixinho. — Não precisa entrar se não quiser.

Ele ouvia a voz aveludada de Lys, mas era como se estivesse distante. Seus olhos estavam colados em Gavriel que sequer levantava a cabeça. E ele certamente sentia o cheiro de Aedion ali.

Talvez estivesse com raiva dele. Talvez o culpasse por sua morte.

Sua garganta se tornou dolorosamente apertada.

Voltando-se para Lys, o general de Terrasen disse:

— Tenho que fazer isso. Sozinho.

Compreensão brilhou nos olhos verdes da esposa. Aedion se abaixou e beijou sua testa.

— Obrigada. — Ele a fitou. — Não deixe ninguém entrar.

Lys ergueu o rosto e assentiu.

Forçando o corpo para frente, Aedion finalmente conseguiu desgrudar os pés do chão e entrar no salão. O lugar, antes enorme, agora parecia uma caixa de agulhas.

Ele buscou respirar fundo, quando Lys fechou a porta, deixando-o sozinho com seu pai.

Não havia corrente de ar o suficiente para fazê-lo sentir que estivesse menos sufocado. Mas ele caminhou. Porra, ele caminhou até o sofá, os músculos da perna reclamando pela tensão.

E então parou. Na frente daquele fantasma, que não era um fantasma. Na frente daquele guerreiro caído, que agora se reerguia.

A cabeça do Leão de Doranelle se levantou. Os olhos vermelhos e inchados por lágrimas que tinham secado.

Por aquele instante, os dois apenas se encararam. Era estranho encarar Gavriel, aquela cicatriz em alto-relevo e pálida bem em cima de seu pomo de adão. O macho o avaliava, como se absorvesse detalhes, como se enxergasse coisas que antes não podia.

Tristeza brilhava em seus olhos castanho-dourados. Tristeza e algo a mais.

Era como se o tempo não tivesse passado. Como se três longos anos de pesadelos não tivessem existido. Aedion engoliu em seco, as mãos em punho nas laterais do corpo.

— Aedion — falou a voz rouca e baixa do pai.

Ele se endireitou, como se seu corpo respondesse a um certo tipo de chamado.

Mas tudo que deu para fazer foi assentir. Havia ficado imóvel de novo.

— Aedion — repetiu Gavriel.

E de novo, e de novo e de novo.

Aedion.

O macho sentiu o sal das lágrimas agridoces escorrendo pelo rosto. Tudo que ele conseguia dizer, em uma mescla de orgulho, tristeza e desespero era seu nome. Aedion.

— Aedion — disse novamente.

Então ele entendeu, que aquilo era mais do que choque. Era mais do que vergonha ou remorso ou tristeza. Era um pedido. Um pedido escondido embaixo de uma súplica.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora