Capítulo 64- Floresta amaldiçoada

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O vento bateu em seu rosto, trazendo o cheiro de neve, terra molhada e pinheiros altos. Seu corpo inteiro retesada há alguns minutos, mas não tinha certeza de quanto tempo, afinal, perdera a conta após dez minutos. Era um esforço inútil, e o frio...o frio era cruel como o inverno naquela cabana odiosa que chamou de casa por tanto tempo.

Soltou seus cabelos e se mexeu de novo, ciente do olhar daquele macho nela e odiando cada segundo.

Estavam no alto de um monte, acima da floresta e um lago enorme, que se perdia em meio as montanhas cobertas de neve do outro lado. A pirambeira em que estava tinha duas pedras enormes e Nestha Archeron estava, naquele instante, de pé em uma delas, cuja superfície, apesar de plana, era irregular o bastante para fazer com que seus pés se cansassem e doessem. Estar somente com a faixa na parte de cima do corpo, de nada ajudou a se proteger do frio. Nunca admitiria isso para ele, mas queria sumir dali e procurar um lugar quente.

Exercício para paciência, dissera Cassian.

Ela deu um riso seco por lembrar disto, especialmente por saber quem estava à beira do penhasco, sentado de costas para o mesmo e observando cada movimento dela.

— Já acabamos? — indagou ela, impaciente.

Ainda de olhos fechados, ouviu ele se levantar e caminhar pela superfície rochosa até ela.

— Acabamos quando eu achar devemos — respondeu, simplesmente.

— Não que importe para sua arrogância de macho, mas isso não funciona comigo — disse, entredentes.

Outro arrepio percorreu seu corpo devido ao vento das montanhas e ela precisou trincar os dentes para evitar que ele percebesse que ela tremia.

— Claro que não — concordou ele. — Porque você é a fêmea mais impossível que conheço.

O tom pedante a fez lembrar daquele dia mais cedo, quando chegou a sala de treinamento e ele disse que a levaria em outro lugar para treinar o que lhe faltava.

Paciência, ele dissera. Inconscientemente, Nestha erguera a mão e a estalara contra o rosto quente e de aço do illyriano. Sua mão certamente doeu mais do que o rosto dele tinha doído, mas isso não impediu o olhar arregalado seguido de um sorriso maldoso que ele emitiu. Foi assim que ela percebeu que estaria ferrada. Que ele faria de tudo para atormentá-la no treinamento daquela manhã.

Pediu que ela colocasse um casaco pesado e a pegou nos braços, levando-a pelos ares. Nestha o xingou por todo caminho até aquele lugar, não muito longe de Velaris. Quando chegaram, Cassian deu um risinho irritante, do tipo que a fazia querer arrancar os olhos do macho, e explicou:

— Um dos elementos mais essenciais em batalha é a atenção. Mas, isso só é aperfeiçoado quando se trabalha com a paciência. Seus sentidos feéricos são uma benção para algumas situações, só que para outras...não. Veja bem, eles poderiam facilmente fazer você perder toda a concentração.

Impossível — retrucou imediatamente. E Nestha acreditava nisso. Ninguém tiraria sua concentração, a não ser...

Tire a camisa — ordenou ele.

Nestha cruzara os braços, exasperada.

Não.

Ela ficava de top na frente dele há duas semanas, mas ali, naquele lugar, parecia muito íntimo, exposto. Fazia-a se lembrar de coisas que não queria.

Nestha — recomeçara ele, cauteloso. — Você precisa aprender a como ser resistente. Em uma batalha ou em uma situação de vida ou morte, o frio será o menor de seus problemas. Obter resistência a ele é um passo vital. Uma coisa a menos para te matar.

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora