Capítulo 71- Chamas prateadas

3.2K 282 515
                                    

Não se lembrava da última vez que tinha dormido tão bem.

Aliás, há anos não dormia assim. Há anos seu cérebro não se desligava de uma forma que acordasse puramente descansada fisicamente.

Nestha estivera exausta há tanto tempo que não sabia que era possível...

Então se deu conta: de onde estava, com quem estava, o que tinha acontecido.

Ela não conseguira dormir, não conseguira pensar em nada que não fosse Cassian no andar de baixo na noite anterior. E quando deu por si, estava parada em sua frente, naquele pedido silencioso, na necessidade súbita de estar com ele, de não ficar sozinha.

Muito ciente de onde estava, Nestha abriu os olhos, notando que não permanecia na mesma posição em que fora dormir.

Não. Era uma posição muito mais...íntima.

Estava virada de costas para Cassian, um braço do illyriano embaixo de seu pescoço, outro por cima dela, flaqueando sua cintura. Era firme, mas leve. A respiração dele era suave, quase imperceptível naquele sono profundo que agitava suas pálpebras. A asa que ele tinha colocado sobre ela na noite anterior ainda jazia no mesmo lugar, como se soubesse que sua missão da noite era ser um casulo. Como o braço dele, a asa não pesada. Era quente, não de uma forma sufocante, e sim, boa, muito boa. Mais do estava acostumada.

Nunca se permitiu aquele tipo de afeto, especialmente depois do que passara com aquele desgraçado humano, Tomas.

Só que Cassian era diferente. Não tinha um toque possessivo, obrigatório. Era simplesmente suave, receptivo. O calor do seu corpo contra o de Nestha tirava-lhe o fôlego, especialmente quando percebeu que suas pernas se encontravam entrelaçadas. Os pelos da perna dele roçavam contra a suavidade da dela, causando aquele desconforto entre suas pernas.

Aquela intimidade toda...talvez fosse demais.

Ela segurou o pânico no fundo de si, concentrou-se no que era bom. No ali e agora, no que Cassian era para ela.

Sua respiração quente na nuca fez a boca da fêmea secar, a pele formigou diante de uma carícia que nem de longe era proposital, apesar de prazerosa.

Em seguida, ele deu um longo suspiro, os lábios se movendo, soltando ruídos engraçados.

Nestha pressionou os lábios um no outro, só que não conseguiu fazer com que o corpo não vibrasse.

Rir. Não se lembrava também da última vez que gargalhara ou sorrira, sem ser de desdém.

Aquilo a deixou mal, como se uma prensa estivesse sobre o peito. Sempre tão amarga, tão fria, tão contra tudo e todos...

Era muito mais fácil ser odiado. Parecia uma posição muito menos frágil.

Esta vulnerabilidade, sempre fora demais. Sempre parecerá demais.

Cassian soltou mais um resmungo leve.

Desta vez, quando ele a apertou mais sobre si, como se fosse um travesseiro, não teve como não rir.

Saiu seca, meio debochada, mas não maldosa.

Cassian sentiu o vibrar de sua risada quase instantaneamente, pois se moveu, levantando a cabeça em alerta. Os olhos correram a sala, examinadores. Por mim, ele percebeu quem estava consigo.

Nestha engoliu lentamente quando ele a olhou com preocupação. A mão dele tocou seu braço. Era áspera, calejada e carinhosa. Unindo as sobrancelhas, com os cabelos bagunçados e os olhos inchados, indagou:

Corte de Fogo e GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora