Os quatro se reuniram em torno da mesa de Prythian. Observavam o livro diante de si com atenção e, embora Helion ainda estivesse se recuperando de imersão ao mais profundo da mente, estava mais do que pronto para ler os segredos que aquele livro guardava.
Havia sido difícil, lembrar de Neroda assim, tão de repente. Difícil lembrar do que sua mente sonolenta esqueceu no dia em que ela o deixou naquela tenda de guerra. Tinha valido a pena, entretanto, mesmo que a dor viesse à tona.
Com os dedos na ponta da capa, ele olhou para os demais. Estavam apreensivos tanto quanto ele, mas seus semblantes diziam "vá em frente". Deste modo, Helion virou a capa dura de couro. As folhas eram mesmo de fato feitas de pele ressecada. Do que exatamente, não tinha certeza se queria saber. A primeira página não tinha nada escrito, mas, havia algo ali. Algo que o chamou atenção. Um bilhete. Escrito em papel branco e grosso, envolto de singelas linhas simulando a luz do sol. O selo da Corte Diurna, um sol brilhante, era uma marca d'água no fundo do papel.
— Bride não cansa mesmo de debochar de mim — comentou ele, irritado.
Ela havia pegado um papel da própria mesa de Helion para escrever o bilhete. Sua caligrafia era elegante e espaçosa. Podia apostar que ela tinha escrito com uma das canetas dele também. A mensagem dizia:
Meu amado Helion, se está lendo isso, descobriu meu enigma. Imagino que tenha sido difícil, considerando sua destreza e sabedoria.
Acho justo, em recompensa de você ter encontrado as respostas dentro de si, que saiba mais de minha história.
Página 50.
Espero que me entenda quando o ler.
As coisas que são nossas jamais deveriam ser tiradas de nós.
Com amor,
Bride.
Ele leu em voz alta e quando terminou, o choque que sentia parecia ter sido espalhado para Mor, Lysandra e Aedion, a julgar por seus queixos caídos.
— Isso fica cada vez mais estranho — disse Mor, contendo um calafrio.
Helion não pôde deixar de concordar.
— E a Mãe parece ter uma quedinha por você também — completou Lys, imediatamente.
Horrorizado, mas não surpreso, o Grão-Senhor encarou a metamorfa.
— Não finja que não gostou disso — acrescentou ela, em seguida.
Segurando um sorriso convencido, Helion abaixou os olhos para o Livro da Criação, folheando as páginas grossas e antigas até chegar na página que dizia o bilhete. Assim que chegou à cinquenta, as "folhas", antes em branco, começaram a aparecer escritos, como se uma mão invisível o estivesse escrevendo. A caligrafia era suavemente borrada e deitada, mas não era para menos, considerando os milênios de existência. Era exatamente assim que se lembrava do texto, só que, na época em que tentou ler, mal tinha conseguido algo além do que já havia contado.
O título do capítulo em si já gerou um calafrio que atravessou o corpo do Grão-Senhor.
"O canto de Bride", dizia.
Ele respirou fundo. Incumbido da missão, Helion começou a ler a história ali contida, em voz alta:
No início, o universo era uma grande massa de energia, luz e trevas, seres e silêncio.
A luz era o que continha as trevas e nem mesmo as estrelas ainda brilhavam. Dana, a filha da Luz, se aquietou no interior de uma galáxia longínqua, onde a harmonia era adorável. Durante milênios, ela se deitou na poeira estelar, como se fosse seu próprio cobertor. Aproveitou do silêncio e solidão.
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Corte de Fogo e Gelo
Hayran KurguE se Aelin Galathynius e cia visitassem a Corte Noturna? E se, após longos anos de desconhecimento e guerra em seus mundos, ambos descobrissem que habitam continentes no mesmo oceano? E se, em um belo dia, o tão aguardado encontro entre o mundo de T...